Antonio Vital
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Ao morrer, o legendário presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, aplicou uma última estocada em Lula, a quem já apoiou chamando de "sapo barbudo". O velório e o enterro devem levar ao Rio de Janeiro e a São Borja (RS) uma penca de políticos de diversos partidos que, dessa maneira, arrumaram uma boa desculpa para não comparecer à votação da MP do salário mínimo na Câmara. Segunda-feira (21), apesar da expectativa otimista dos líderes governistas com a aprovação do mínimo de R$ 260, existia uma séria preocupação com o quorum da semana, que prometia ser mais curta que o normal devido aos festejos juninos no Nordeste. A morte do líder trabalhista foi a senha para que o governo decidisse não colocar em votação o mínimo hoje, terça-feira. A votação amanhã (22) não está descartada, mas vai depender da lista de presença dos parlamentares em Brasília. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), não quer arriscar nada, já que vem de uma derrota pessoal com a rejeição da emenda da reeleição no Congresso e quer mostrar a Lula o quanto é valioso para o governo. A morte de Brizola bagunçou os planos de todo mundo. O "engenheiro", como também era conhecido Brizola, daria boas gargalhadas se soubesse o aperto que sua morte produziu no governo. Lula, uma das vítimas preferenciais das frases cáusticas do ex-governador do Rio de Janeiro, já estava de malas prontas para os Estados Unidos e jantava com o presidente da Colômbia, em São Paulo, quando foi informado do desaparecimento do adversário. Ficou sem saber o que fazer. Se mantinha a viagem, marcada para as 12h de hoje, ou se ia ao velório. Ou se fazia as duas coisas. Acusado de se aliar a forças conservadoras no poder, sua ausência na cerimônia poderia vir a render mais críticas ao governo. Sua presença, por outro lado, poderia despertar a hostilidade dos poucos, mas fanáticos, brizolistas que ainda falam por aí em argumentos e posições sepultadas pela retórica e atitudes do governo Lula, como a prioridade à educação básica integral e o nacionalismo demodê. No momento em que escrevo essas linhas, o cerimonial do Palácio do Planalto ainda não havia divulgado que posição Lula tomaria no caso. A morte de Brizola também promete esvaziar o Senado, transformado em parque de diversões da oposição, no momento em que os senadores se preparam para votar matérias importantes para o governo, como a Lei de Falências. O que pode impedir uma debandada na casa é a votação da emenda constitucional que reduz – em número bem menor que o devido – a quantidade de vereadores no país. Mas o pior para o governo ainda pode estar por vir. Como em política não existe vácuo, a morte de Brizola pode ter um efeito contraditório sobre o PDT, partido que vem amargando uma constante e implacável decadência nos últimos anos. Um paradoxo interessante para a esquerda brasileira está colocado: sem Brizola, o partido está arriscado a sumir do mapa da política brasileira. Ao mesmo tempo, pode se transformar em uma legenda atraente para toda sorte de insatisfeitos, inclusive do PT. Não é delírio afirmar que vai começar uma briga de foice pelo legado do trabalhismo, inclusive com a participação de gente que não está satisfeita com o PT e ao mesmo tempo não quer partir para aventuras radicais, como a do PSOL, o partido recém-lançado pela senadora Heloísa Helena (AL). A lista de nomes de peso em posição desconfortável nos próprios partidos é grande: Tasso Jereissati (PSDB), Pedro Simon (PMDB), Ciro Gomes (PPS), Eduardo Suplicy (PT) e Cristovam Buarque (PT) são alguns deles. O ex-ministro da Educação, por exemplo, tem origens no PDT de Brizola, assim como gente tão diferente quanto César Maia (PFL) e Anthony Garotinho (PMDB). Cristovam, ainda por cima, está sem espaço no PT nacional, assim como os petistas de Brasília, que não conseguem indicar nem ascensorista de ministério se isso se chocar com os interesses do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), com quem Lula e José Dirceu mantém ótimas relações nas vésperas de votações importantes. Enfim, a morte de Brizola pode ter significado o renascimento político de Brizola. Não deixa de ser uma ironia a repetição, ainda que em proporções mais modestas e sutis, do que aconteceu com Getúlio Vargas, o grande herói do caudilho gaúcho, com quem ele vai dividir espaço no cemitério de São Borja. |
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