João Bosco Leal*
Algumas coisas me chamam bastante a atenção quando vejo o excesso de equipamentos eletrônicos à disposição dos jovens, e de como isso vem alterando o aprendizado escolar.
Nenhum jovem sabe mais, e provavelmente nem seus professores, fazer contas manualmente. De cabeça então, nem pensar. Sempre fui bom em contas e até hoje, já perto dos 60, gosto de fazer minhas contas de cabeça, ou manualmente, e só depois, se entender necessária uma confirmação, uso uma calculadora eletrônica.
Fico abismado de ver como, ao fazer compras no comércio, qualquer que seja a conta a ser realizada para o troco, a pessoa usa a máquina, mesmo quando a conta é até ridícula, como uma de R$ 7,00, a serem cobrados de uma nota de R$ 10,00.
Depois das calculadoras terem se tornado indispensáveis para essa população abaixo dos 30 anos, o computador tornou-se disponível em longas e suaves prestações nas grandes lojas de departamentos.
Sua popularização foi tão grande que atualmente, até para as continhas antes feitas nas calculadoras, já se usam os notebooks, netbooks, tables, ou qualquer outro equipamento eletrônico portátil como os celulares. Mas as contas manuais, ou de cabeça, já não existem.
A criança já se sente inferiorizada ao ir à escola sem um celular que, além de falar, ao mesmo tempo receba mensagens de texto, tenha jogos, GPS, toque músicas, proporcione acesso a todas as redes sociais e aos canais de TV digitais.
A mesma criança precisa chegar em casa e ter à sua disposição um computador, que certamente já não poderá ser o desktop de uso coletivo da família, mas sim um notebook de uso pessoal, para que possa fazer suas pesquisas na internet e depois submetê-las à apreciação dos professores em uma apresentação do Power Point, para que a classe toda possa acompanhar.
Além do consumismo desenfreado desse tipo de equipamento, penso sempre no que entendo ser outro inconveniente nessa utilização: as pessoas deixam de pensar, jogam tudo para as máquinas resolverem e, dessa maneira, subutilizam a mais perfeita delas, o nosso cérebro.
Atualmente, máquinas são incumbidas de gerar outras, desaparecendo a possibilidade de surgirem pessoas que realizem criações geniais como a lâmpada incandescente, criada por Thomas Edison em 21 de outubro de 1879, 132 anos atrás.
A utilização da energia elétrica proporcionou um desenvolvimento tão elevado que, em menos de 150 anos, saímos da era da lamparina para os super e micro computadores atuais.
O consumo desenfreado de máquinas e equipamentos, criados para servir ao homem, pode acabar com ele.
* Produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários