Vagner Miranda Rocha *
Segundo o dicionário, o significado de empreender está relacionado com propor-se a fazer algo difícil, a sair da inércia, se mexer em busca de algo mais. No mundo empresarial, aquele que se aventura a criar um negócio é reconhecido como um empreendedor.
Por sua natureza, o empreendedor é alguém que, por meio da sua empresa ou até por outros tipos de organização, contribui a todo instante com o desenvolvimento econômico e social, que são condições indispensáveis para a evolução e consequente manutenção da independência do país em relação ao resto do mundo. Engana-se quem acha que a geografia no mundo está definitivamente consolidada. Vide os últimos acontecimentos no mundo.
Toda pessoa que se propõe a dedicar seu tempo em atividades empreendedoras deveria receber tratamento diferenciado por parte de instituições privadas e principalmente do governo. Tinha que ter estímulos para continuar com sua atividade que de alguma forma beneficia a sociedade, melhorando a vida de um único individuo ou da coletividade. Na prática, porém, não é isso que acontece. O empreendedor está sujeito a regras que tiram seu fôlego, seu foco e sua vontade.
Quem analisa a situação de forma macro ou observa à distância, vai dizer que não é assim. Dirá que existem vários meios disponíveis para ajudar quem se propõe a empreender em alguma atividade geradora de algum tipo de riqueza. Até poderá citar alguns exemplos de como o governo ajuda as pequenas empresas dando acesso a dinheiro fácil via bancos públicos que disponibilizam linhas de crédito com juros subsidiados, consultoria que dá suporte ao pequeno empresário, cumprimento de legislação favorável.
O empreendedor que, no dia a dia, é quem a enfrenta sabe que a situação é bem complicada e que se não for revista rapidamente não há como o país crescer como necessita. Criam-se empresas, geram-se oportunidades e dá-se emprego, mas não há geração de riqueza suficiente para levar o país a um outro patamar de desenvolvimento.
Não faltam exemplos que mostram o quanto o empreendedor que procura manter suas operações dentro da estrita legalidade tem de dificuldades para conseguir seguir em frente com suas atividades. Quem tem dívidas tributárias é punido com multas e juros abusivos que tornam a dívida impagável e deixam o empreendedor engessado nas suas decisões e reduzem o valor da empresa.
Quem recorre a bancos depara-se com uma instituição que quer emprestar sem correr risco algum e só empresta em função do oferecimento de garantias e custo financeiro impagável. Na cidade de São Paulo, por exemplo, se a atividade for regulamentada a carta tributária sobre a Nf é de 16,33% e mais encargos previdenciários e custos sobre a folha de pagamento que juntos podem chegar a 100% do salário pago.
Todos os exemplos destacam situações em que a forma como as regras estão definidas impactam diretamente a ação do empreendedor. Mas muitas outras decorrentes de políticas equivocadas tanto por parte do governo como também por imposições de entidades representantes da classe trabalhadora, atrapalham indiretamente a vida do empreendedor.
As obrigações impostas na contratação do trabalhador de determinadas categorias e a forma como esses trabalhadores encaram os benefícios adquiridos a partir do registro na carteira de trabalho distorcem a relação a ponto do empregador não conseguir manter um quadro de funcionário estável em sua empresa. Mesmo com baixa ou sem qualificação, o pagamento de um piso mínimo salarial é obrigatório e a baixa qualificação e nível de escolaridade criaram um tipo de empregado que no nível mínimo de pressão prefere ficar desempregado, vivendo de benefícios como o seguro- desemprego e a multa de 10% do FGTS.
Não é preciso ser adivinho para saber que todas as situações destacadas são vividas pelo empreendedor brasileiro. Talvez seja esse conjunto, um brasileiro e o instinto natural de empreendedor, que faz com que mesmo diante de tanta dificuldade ainda surjam tantos novos negócios iniciados por pessoas-empreendedoras – optando por deixar de ter carteira assinada para tentar voo solo em alguma atividade com que tenha afinidade. Um quadro que vai ao encontro do dito popular que prega que Deus é brasileiro.
São essas pessoas-empreendedoras que precisam ser identificadas rapidamente e amparadas pelas políticas econômicas e sociais do governo, pois são elas que podem fazer a diferença e levar o país a alcançar um nível de riqueza suficiente para que todas as outras que ficam “sob as asas do país” tenham uma vida digna.
Ser empreendedor não é apenas ter um número de CNPJ – que por qualquer deslize pode ter seu nome inscrito em vários desses órgãos públicos e privados criados para cercear seus sonhos e liberdade. Ele deve ser motivado a todo instante e mais do que tudo, deve ter a paz necessária para que seu dia a dia seja repleto de realizações, entusiasmo e alegria. Só assim poderá ajudar a quem não tem o privilégio de ter nascido com um espírito de empreendedor.
* É administrador de empresas e sócio da VSW Soluções Empresariais.
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