Ativistas dos movimentos dos direitos humanos de gays e lésbicas e parlamentares ligados à defesa da causa reagiram com indignação às declarações do deputado Robson Rodovalho (DEM-DF) de que os homossexuais são “antinaturais” e frutos de “famílias deformadas”, publicadas ontem pelo Congresso em Foco (leia).
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A estranheza foi maior, segundo os militantes, porque o bispo e fundador da Igreja Sara Nossa Terra é considerado o principal interlocutor do movimento GLBT na bancada evangélica da Câmara.
“Antinatural é a violência, é o preconceito. Eu sou filho de uma mulher e um homem, não sou de Júpiter ou de Marte. Nada em mim é falso ou de silicone – e eu respeito as mulheres que usam silicone. O Rodovalho normalmente tem uma postura conciliadora, de negociar conosco. Mas essas declarações foram machistas e homofóbicas”, reagiu o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (ABGLT), Toni Reis.
As críticas de Rodovalho foram manifestadas num seminário promovido no último 17 na Câmara pela Frente Parlamentar da Família e em Defesa da Vida, coordenada pelo deputado. “Quando você tem um adulto ou um adolescente deformado, desfocado, desestruturado, pode ter certeza que aquilo não é, nada mais nada menos, que um reflexo da família distorcida que ele tem”, disse.
Segundo Toni Reis, a comunidade GLBT não quer “destruir a família, quer o direito de construir seu próprio tipo de família”. “Ele exacerbou e generalizou. É como se eu dissesse que todos os pastores roubam porque vi alguns na TV roubando”, atacou.
Homofobia
Em entrevista ao Congresso em Foco, Rodovalho declarou que a aprovação de leis especificamente voltadas para a população homossexual, como o PL 122/06, que torna crime a discriminação por orientação sexual, “é uma agressão para a maioria da sociedade” (leia mais).
A senadora Fátima Cleide (PT-RO), relatora do projeto na Comissão de Direitos Humanos do Senado, disse ter ficado espantada com as declarações do bispo. “Essa fala dele contradiz o rumo que está sendo dado para as discussões. Mesmo quem é contrário ao mérito da matéria defende que não haja discriminação. Essa fala não colabora”, avaliou Fátima.
“Se as pessoas não querem aceitar a homossexualidade, o problema é delas. Mas dados mostram que é preciso medidas do poder público para garantir a proteção constitucional à liberdade de escolha”, completou a senadora.
Segundo a relatora, a cada 48h um homossexual é morto no país em crimes violentos e motivados, sobretudo, pelo preconceito. “Toda vez que a gente vai inovar para garantir os direitos humanos, tem polêmica. Mas é preciso um marco legal para mudar a mentalidade das pessoas”, concluiu.
No Senado, o principal opositor à proposta que criminaliza a homofobia é o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo e sobrinho do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo.
Para Crivella, o projeto atenta contra a liberdade religiosa dos cristãos. Com a aprovação, afirma o bispo, todos ficariam impedidos de condenar a homossexualidade, inclusive os sacerdotes em cultos religiosos.
A deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), integrante da Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, classifica como “erro de interpretação” a leitura feita por Crivella e demais representantes religiosos no Congresso. “Não existe nenhuma possibilidade de a liberdade religiosa ser cassada porque trata-se de uma garantia constitucional”, declarou. “O PL não diz respeito à liberdade religiosa, diz respeito à manutenção de um Estado democrático que não pode admitir preconceito”, acrescentou.
*Colaborou Soraia Costa.
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