Antônio Augusto de Queiroz*, Renaro Cardozo e Sylvio Costa
Ao longo das últimas semanas, o Congresso em Foco e o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), entidade mantida há 20 anos pelos sindicatos, se uniram no esforço para identificar as principais tendências quanto à composição da Câmara dos Deputados que será eleita no próximo dia 1º.
Os resultados oferecem um rico painel da disputa para deputado federal em cada estado (clique aqui para ver os detalhes de cada um deles) e algumas constatações interessantes. Exemplos:
1) Nada menos que 59% dos integrantes da Câmara atual – ou seja, 303 deputados – têm boas chances de se reeleger.
2) Como no mínimo 25 deles trabalham com margem apertada para conquistar a vitória, é possível que muitos saiam derrotados da eleição. Mas é pouco provável que a Câmara chegue a ter um índice de renovação de 50%. Ou seja: é quase certo que pelo menos metade dos deputados atuais se reelegerá.
3) Vários candidatos com vitória praticamente assegurada estão envolvidos em acusações de conduta criminosa ou irregular.
4) Apesar da taxa de renovação relativamente baixa, novos nomes devem oxigenar a Casa. Já é possível antever, também, quais serão os prováveis campeões de votos (leia mais).
5) PMDB, PT, PSDB e PFL permanecerão como os quatro grande partidos brasileiros, mas os peemedebistas devem ter melhor performance na eleição que os demais, conquistando a maior bancada da Câmara. Entre os partidos médios, o PSB é o que mais deverá crescer. Entre os pequenos, duas surpresas, o PMN e o PTC. Mas o Psol não se sairá mal para um partido em formação (leia mais).
Velha nova Câmara
Se você imagina que não haverá lugar na nova Câmara para mensaleiros, sanguessugas e políticos acusados de envolvimento em outros escândalos, pode tirar o cavalinho da chuva. Um exemplo é o ex-governador paulista Paulo Maluf (PP), que tem chance de ser um dos deputados federais mais votados em todo o país.
Denunciado na Justiça por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção passiva e crime contra o sistema financeiro (evasão fiscal), Maluf chegou a ficar preso durante dez dias, em setembro do ano passado, sob a acusação de ter intimidado uma testemunha.
Conforme investigação do Ministério Público, o ex-governador movimentou irregularmente no exterior mais de US$ 400 milhões. Agora, voltando a exercer o mandato de deputado, terá foro privilegiado para responder aos processos nos quais é réu. Todas essas ações passarão a tramitar no Supremo Tribunal Federal, onde costumam ser menores a transparência e a velocidade de tramitação dos processos penais contra parlamentares.
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, envolvido no episódio do mensalão, é outro que deve se eleger sem maiores dificuldades.
Em situação eleitoral menos confortável, outro acusado de participação no caso, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (SP), também tem razoáveis chances de se eleger. Valdemar renunciou ao mandato de deputado para não responder a um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.
É dada como certa a reeleição do deputado Cabo Júlio (PMDB-MG), acusado pela CPI dos Sanguessugas de receber cerca de R$ 200 mil em propina da empresa Planam.
Também estão entre os prováveis reeleitos vários outros parlamentares denunciados no escândalo das ambulâncias, como Celcita Pinheiro (PFL-MT), Wellington Fagundes (PL-MT), Marcondes Gadelha (PSB-PB), João Caldas (PL-AL), o pastor Raimundo Santos (PL-PA), Agnaldo Muniz (PP-RO), Enivaldo Ribeiro (PP-PB), Iris Simões (PTB-PR), João Magalhães (PMDB-MG), Jonival Lucas (PTB-BA), Pastor Amarildo (PSC-TO), e Wellington Roberto (PL-PB).
Os ex-deputados
Além da volta de parlamentares acusados de práticas irregulares e do grande número de reeleitos, a nova Câmara terá um quê de velha por outra razão. Em muitos casos, a renovação se dará pelo retorno de ex-deputados federais.
Um deles deverá ser o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, cuja competência técnica é tão reconhecida quanto sua capacidade de se meter em histórias rumorosas. Palocci protagonizou o escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
Indiciado por sua participação no caso, também responde por irregularidades praticadas durante o tempo em que foi prefeito de Ribeirão Preto. Elas os levaram a ser indiciado por peculato, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
Entre outros ex-parlamentares com boas chances de se eleger, estão Benito Gama (PTB-BA); o ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro (PMDB-RS); Rita Camata (PMDB-ES), que deverá ser uma das mais bem votadas em seu estado; o ex-deputado e ex-ministro da Saúde Alceni Guerra (PFL-PR); José Aníbal (PSDB-SP); Odacir Klein (PMDB-RS) e Carlos Bezerra (PMDB-MT), ex-presidente do INSS e ex-senador.
Como Bezerra saiu candidato, a mulher dele, a atual deputada Teté Bezerra (PMDB-MT), não se candidatou. Ela está entre os congressistas contra os quais o Ministério Público solicitou abertura de inquérito criminal por envolvimento com a máfia dos sanguessugas.
* Antônio Augusto de Queiroz é diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).