Eduardo Militão
Diferentemente do que aconteceu na semana passada, a reunião de hoje (5) do Conselho de Ética do Senado promete ser mais tranqüila e sem as tensões da última sessão. Isso porque o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem contra si um parecer pela sua cassação, entregou os pontos. Mas só no Conselho.
Acusado de quebrar o decoro parlamentar, ele põe agora suas esperanças na votação no plenário, que é secreta e onde seus aliados estimam haver nada menos do que 60 votos favoráveis. Para apressar o processo e evitar constrangimentos ainda maiores, Renan desistiu de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para exigir sigilo na decisão de cada membro do Conselho.
No discurso de ontem à tarde, o presidente do Senado voltou a apresentar denúncias contra a Editora Abril, com apelos aos colegas em defesa veemente do sigilo do voto (leia mais). “O voto de todos os senhores é um voto secreto. Cada senador saberá votar com a sua consciência”, afirmou Renan.
Minutos antes, o senador Almeida Lima (PMDB-AL), um dos aliados mais fiéis ao presidente do Senado, já anunciava a nova estratégia. De acordo com ele, após consultar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-presidente do STF, Renan desistiu de recorrer à corte para exigir votação sigilosa.
Lima crê que, no plenário, a votação expressará o desejo dos senadores e não a pressão da “opinião pública e da opinião publicada”. “Será a mais pura manifestação da vontade, escoimada de qualquer vício”, disse.
Para que Renan e a Casa sangrem menos, os líderes governistas e da oposição decidiram fazer a representação do Conselho de Ética chegar o mais rápido possível ao plenário. Segundo o líder do DEM, José Agripino (RN), já está acertado que o presidente da CCJ, Marco Maciel (DEM-PE), receberá nesta tarde a decisão do Conselho para encaminhá-la imediatamente à Mesa Diretora. Com isso, o relatório poderia ser votado pelo Plenário já na próxima semana.
Números conflitantes
Se os aliados do presidente do Senado apostam numa absolvição tranqüila no plenário, a oposição trabalha com outros números. “Ele não teve 60 votos na sua eleição!”, questiona um oposicionista. Para ele, Renan tem contra si ao menos 20 votos e, no mínimo, 35 a favor. Entretanto, segundo ele, a opinião dos demais senadores ainda é um mistério.
Jefferson Péres (PDT-AM) acredita que as novas denúncias contra o presidente da Casa podem ajudar a “minar” a força de Renan no plenário. “A cada semana, há uma nova denúncia”, comentou o senador, ao se referir ao depoimento à polícia do advogado Bruno Lins de que Renan seria sócio de um lobista acusado de armar golpe contra um fundo de pensão (leia mais).
Envenenamento
No discurso de ontem, Renan retomou seus ataques ao grupo Abril, que publica a revista Veja, autora das primeiras reportagens que motivaram o “calvário” do peemedebista no Conselho de Ética. Dessa vez, reclamou da venda de 30% das ações da editora a uma empresa apontada por ele como fantasma. Na seqüência, refutou algumas denúncias, que classificou como dez mentiras que “envenenam” o ambiente.
O discurso tinha o objetivo de convencer os senadores que não integram o Conselho de Ética, onde a maioria já tem opinião formada. Um dos relatores do parecer pela cassação de Renan, Renato Casagrande (PSB-ES) afirmou que o presidente do Senado não conseguiu refutar os oito motivos listados por ele e Maria Serrano (PSDB-MS) no pedido de cassação. A opinião foi compartilhada por outros parlamentares favoráveis à cassação. “Ele não conseguiu se defender”, disse um oposicionista.
Almeida Lima admitiu que Renan não refutou as acusações do relatório de Casagrande e Marisa. “Mas não era seu objetivo. Ele vai se explicar amanhã [hoje]”, disse, acrescentando que isso virá por meio do voto em separado de Wellington Salgado (PMDB-MG), outro integrante da tropa de choque do presidente no Conselho de Ética.
PT liberado
A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), disse que a bancada está livre para votar hoje conforme sua consciência no caso Renan, embora o fato seja negado por alguns petistas. De qualquer forma, o PT será decisivo para o Conselho recomendar tanto a absolvição quanto a cassação do presidente da Casa.
Relator do caso Schincariol, o próximo a ser enfrentado por Renan no Conselho de Ética, João Pedro (PT-AM) disse ter três questionamentos a fazer ao relatório de Marisa e Casagrande para definir seu voto. “Eles falam de uso da verba indenizatória. Isso é grave.”
“Vendido”
Almeida Lima não esqueceu o bate-boca que teve, na última sessão do Conselho, com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O tucano chamou-lhe de “vendido”, “palhaço” e “boneca”. O aliado de Renan disse que estuda as medidas cabíveis contra Tasso. “Não tem nada superado. Esse ‘vendido’ me incomoda muito, me deixa muito irrequieto. Porque, se eu for vendido, não deveria estar aqui”, comentou Lima. A reportagem não localizou Tasso ontem para comentar o assunto.