Naomi é nome recente, de pessoas entre vinte e trinta e cinco anos, mas, ao contrário de dezenas de naomis-modelo-e-atriz, ela é Naomi Klein, uma canadense, jornalista e pesquisadora, que deve ter de trinta e cinco a quarenta anos no máximo e cujo precedente memorável foi seu primeiro livro No Logo (Sem Logo: a tirania das marcas num planeta vendido). Agora estou lendo A Doutrina do Choque – a ascensão do capitalismo do desastre, recentemente traduzido e publicado no Brasil (Rio, Nova Fronteira, 2008, 590 págs., R$ 79,00).
Naomi Klein, em razão de seu histórico, da riqueza de referências documentais, da linguagem despojada da blindagem acadêmica lembra o norte-americano Mike Devis, autor de Planeta Favela (Sampa, Boitempo, 2006), outro excelente documento about a tendência de favelização ou terceiromundização global causada pela implantação das políticas de livre mercado.
Santa Naomi, completamente absorvida por sua leitura, por ora não farei a síntese deste livro revelador, consistente, abrangente, me limito a te parafrasear, citar descaradamente alguns pontos que você aborda – sobretudo COMO você aborda – haja vista o fato de você viver/ver as coisas no e do primeiro mundo.
Textualmente, vou lidar com a citação de fragmentos desconectados do livro como um todo, que é extremamente bem estruturado – numa demonstração, digamos, de pós-modernidade completamente imbecil e idiota mas que é paradigmática duma “literatura” escrita por aqui, sem pé nem cabeça, que muito pós-neo-intelectual-estúpido professa (estúpido, porque não é intelectual, e pós-neo-intelectual, porque faz elaborações tão indecifráveis para ninguém perceber o quanto é estúpido. ET: todos ganham o Jabuti).
(das pags. 360 e 382)
“Adquira poder e riqueza além dos seus sonhos. Você pode ganhar milhares de dólares ajudando as forças antitalibã (…)”, dizia um folheto americano distribuído no Afeganistão, utilizado num tribunal federal dos EUA em 2002, como evidência em benefício de vários prisioneiros de Guantânamo.
“Você tem alguma teoria para explicar por que o governo e o serviço secreto do Afeganistão venderiam você e entregariam aos americanos?” – perguntou um membro do tribunal ao prisioneiro egípcio na base da Guantânamo.
“Você sabe, ele respondeu, no meu país você pode comprar pessoas por dez dólares. Imagine com cinco mil!”
“Então eles venderam você?” – perguntou o sujeito do tribunal como se a coisa fosse uma absoluta novidade.
“Sim”.
Só que, de acordo com o próprio Pentágono, em 2006 este libertou 360 detentos de Guantânamo: entre 245, simplesmente 205 foram soltos e liberados de todas as acusações quando retornaram a seus países. E isto é um grave indício da qualidade da inteligência movida pela lógica de mercado adotada pelo governo ianque para identificar terroristas – que une ganância e incompetência no mesmo pacote elaborado pela trindade satânica Bush-Rumsfeld-Cheney. Imagine, diante desses caras, eu, se fosse Lúcifer, teria aposentado o garfo.
“Ele é uma canalha sem compaixão. Pode ter certeza disso” – comentou o presidente Richard Nixon em