O governo apostou que não resistiriam ao feriadão da Semana Santa os efeitos das declarações de seu líder na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, defendendo o plantio e o uso de drogas. A ideia oficial era impedir os debates acerca da origem e da sede do Comitê Pró-Maconha. Mas o Brasil, assombrado com o tráfico e seus efeitos, não esqueceu. Apesar dos discursos da campanha e da desfaçatez pós-posse, acabaram-se as dúvidas de que a gênese e o celeiro dessas aleivosias são vizinhas do gabinete presidencial.
Se forem contados os contrários e os favoráveis, a bancada da erva é majoritária entre os próximos da presidente Dilma Rousseff, resultado inversamente proporcional à voz das ruas, que ecoam o drama dos viciados e seus familiares. O sofrimento das vítimas do uso e do tráfico de drogas não conta para os defensores da liberação de drogas. Teixeira, que agora diz não ser bem assim, aventou até a montagem de cooperativas de cultivadores da erva. Ficou implícito que parte das verbas da agricultura familiar iria para as lavouras de cannabis sativa.
O festival de absurdos se amplia por ter estrelas detentoras de altos cargos, como Teixeira e o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, além de políticos do nível de Fernando Henrique Cardoso. O alheamento dessas personalidades às consequências do uso de drogas é surpreendente. O eixo de seus argumentos é que a política atual não funciona, fracassou etc. Que política fracassou? A que eles próprios implantaram. Mas o fiasco de suas atuações não pode ser avalista de uma hecatombe. Se, em vez de investirem no tratamento dos viciados e no cerco aos traficantes, a maioria da equipe presidencial e astros da política querem liberar drogas, dias piores virão.
Bradam que a repressão não funciona. Que repressão? As drogas entram, circulam e são consumidas sem que as autoridades ajam de forma alguma. Repressão zero. Quem usa não pode ser preso, quem trafica raramente vai para a cadeia. A presidente se cala, como se continuasse a ser secretária do governo gaúcho. Não é com ela combater ou liberar droga, o país que ela dirige não tem problema algum com entorpecente, não há desfile de zumbis do crack, nenhum lar foi destruído pela cocaína, o líder de seu partido não participa de convescote de maconheiros. Não consegue nem unificar o discurso a cada tragédia.
Tragédia das drogas: hoje demite um secretário por defender liberação, amanhã o líder no Parlamento está no canal dos viciados oferecendo-lhes soluções legislativas.
Tragédia do bullying: hoje seu ministro da Justiça inicia campanha para recolher cápsulas já disparadas, amanhã sua bancada no Senado defende plebiscito ilegal e nunca se lembram de investir na causa, o acompanhamento individual dos alunos, nos âmbitos psicológico e social.
Tragédia da estrutura: hoje o presidente da Fifa diz que o Brasil vai descumprir os itens que lhe deram a Copa de 2014, amanhã o governo destina bilhões para fazer uma linha férrea que transportará aditivos e nada de prioridades.
Enfim, o governo parece sob efeito de uma substância letal ao desenvolvimento, a zorra administrativa. Quando se imagina que há luz no fim do túnel, é o líder da sigla com a turma do cigarro maldito ou o farol da ferrovia Campinas-RJ. É a nova gestão mostrando sua cara. E ela está com os olhos parados e o cheiro característico de quem acaba de consentir, por w.o., a balbúrdia institucionalizada.
Aguarda-se que a presidente responda ao País se seu mandato vai ser marcado por plantio e cooperativa de drogas ou pelo combate ao uso e tráfico delas. Se é mais importante a fumaça do bom direito ou a da maconha. E se a Dilma presidente é a da campanha eleitoral, uma fera contra o crime, ou a omissa do início de um governo que se recusa a começar.