Expedito Filho, de Nova York |
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A crise do mundo globalizado mudou de endereço. Deixou o mundo emergente e ingressou no coração da globalização. Lembra da crise do México, da crise da Rússia, da crise da Ásia e do ataque contra o real, a chamada crise da desvalorização da moeda brasileira? Pois é. Tudo isso já está no retrovisor. No pára-brisa está a crise americana, com a desidratação da moeda-base da economia mundial. O dólar está se enfraquecendo, perdendo valor frente ao euro. A ameaça às verdinhas tem muitas explicações e uma conta que não fecha – a do déficit americano, que já é superior a 400 bilhões de dólares. Qualquer outra economia, que não a americana, já teria sucumbido ao poder de gravidade de um buraco monetário dessa dimensão. No momento em que mais precisou de receita, o governo de George W. Bush saiu cortando impostos e aumentando despesas de forma temerária. Invadiu o Afeganistão, invadiu e ocupou o Iraque, algo que ficou na casa de centenas de bilhões em gastos militares. Quando invadiu os dois países, Bush não estava sozinho. Estava com o dinheiro asiático, fundamentalmente da China e do Japão, que compram títulos do tesouro americano e financiam o déficit dos Estados Unidos. Conectados a Washington pelas vias da globalização, os bancos centrais asiáticos avaliam que pior do que jogar dinheiro nesse buraco seria tentar sair dele. Uma retirada em massa custaria para os asiáticos muito mais caro. Com uma desvalorização abrupta do dólar, suas economias seriam seriamente afetadas. Alguns países produtores de petróleo já iniciaram uma troca do dólar pelo euro. É um movimento preventivo, e não de ataque. Já tem economista imaginando uma cesta de moedas composta pelo próprio dólar (EUA), euro (Europa), yene (Japão) e yuan (China) para substituir a moeda americana. É bom lembrar que o dólar, nos últimos três anos, já sofreu uma desvalorização de 35% frente ao euro e de 24% contra o yene. Uma desvalorização moderada da moeda americana até que não seria de todo mal. Com ela, os Estados Unidos exportariam mais e voltariam a crescer. Numa economia toda conectada, o crescimento da maior potência capitalista beneficiaria todo o mundo. O problema é que a moderação não é característica das crises de moeda. Se o tesouro americano continuar gastando mais do que arrecada, como vem fazendo na administração Bush, a queda pode provocar um terremoto nas estruturas do mundo globalizado. Para se ter um idéia, o déficit americano estimado para 2006 é abismal: US$ 825 bilhoes ou 6,4% do PIB americano. É por causa de um buraco como esse que a crise pode ter Wall Street como seu mais novo endereço. |