Para o Brasil, 2011 terminou com um gostinho de contradição: o PIB nacional “ultrapassou” o da Inglaterra, antiga potência colonial! Nossos governantes celebraram o fato, como se vitória fosse deles, e não o resultado inevitável da comparação entre o tamanho do território e da população do Brasil com os do Reino Unido, e como se o simples aumento do PIB indicasse melhoria nas condições de vida do povo. Seria tão bom se em 2012 deixássemos de lado esse ilusionismo!
O outro lado da moeda pode ser simbolizado pela humilhante derrota do Santos para o Barcelona, no futebol, sem que qualquer dos nossos governantes indagasse, em público, sobre como reverter a persistente derrocada nosso país nas comparações internacionais do esporte! Parece que eles ainda acreditam que sediar a Copa do Mundo da Fifa trará o “desenvolvimento”! Mais ilusão, que deveríamos descartar o quanto antes!
Nesse sentido, 2012 será igual a 2011: teremos vitórias e derrotas, o que sem dúvida é a mais prudente das previsões, sem chance de erro! Teremos também políticos, empresários, sindicalistas, acadêmicos e outros dizendo asneiras, sem serem questionados, outra previsão com 100% de chance de acerto!
Já no segundo dia do ano, mais um escândalo no governo Dilma: o ministro da Integração Nacional destinou 90% das verbas do seu “feudo” para o seu estado natal, onde ele provavelmente será candidato a prefeito! Isso é eficiência da gestão governamental? O nome do ministério seria uma ironia? Mas, como noutros escândalos, parece que não haverá providências governamentais para corrigir o descalabro, cada vez mais tido como “normal”!
Por falar em escândalos, outra previsão fácil de acertar, ouvida recentemente no rádio: em 2012, dificilmente teremos tantos ministros defenestrados por indícios fortíssimos de corrupção, como no ano recorde de 2011! Afinal, não é todos os dias que se supera um recorde!
Também nos jornais, no início do ano, outro escândalo: o presidente da Cia Docas de São Paulo anuncia com orgulho, e sem qualquer indício de preocupação, que o porto de Santos vai dobrar a capacidade até 2013, tornando-se capaz de movimentar tantos containeres quanto todos os demais portos brasileiros, juntos! Viva, viva: nesse ritmo, para onde vai o Brasil? Para quê concentrar ainda mais movimento numa das regiões mais congestionadas do Planeta? Com um território do tamanho do nosso, não seria melhor distribuir essa atividade de forma mais equilibrada? Mas, quais medidas, quais dos nossos governos, atuais e passados, já tomaram com esse objetivo? Com essa perspectiva, haverá chance de serem reduzidos os congestionamentos em São Paulo e região?
Se ultrapassamos a Inglaterra em PIB, como estaremos, comparados àquele país, com relação à produção de tecnologias, à emissão de gases de efeito estufa e à educação, para não alongarmos a lista? Emitimos 57% GEE a mais que eles, no total, embora cerca de metade, em termos per capita. Se calcularmos com base na intensidade de GEE por unidade de PIB, a Inglaterra é pouco mais “suja” que o Brasil, este na 132a posição e aquele na 121a, na ordem geral das nações.
Na educação, a nossa tragédia se apresenta mesmo sem que se mostrem dados detalhados. Basta um, aliás.
Como se sabe, há anos foi aprovada a instituição do piso salarial nacional para os professores. A ideia era valorizar a carreira, restituir a posição de destaque que professores já tiveram em nosso país, e assim melhorar a qualidade da educação. Sabemos que o piso não foi implantado, em muitos estados, sob alegações as mais diversas, até mesmo a de que não há dinheiro, pois estádios estão sendo construídos para sediar a Copa! Agora, nova notícia na imprensa, já em 2012: o ministro da Educação, hoje mais candidato a prefeito que a melhorar a educação, proporá, em breve, a elevação do valor do teto! A proposta faz lembrar conselho de José Maria de Alkmin, lendário político falecido há muitos anos, então ministro da Fazenda, a um governador que pedia ajuda para pagar os vencimentos, em atraso, dos funcionários públicos: “Anuncie um aumento geral de salários pois, se é para não pagar, não há problema em se elevar os salários, sem limites”!
Pois é, leitores, feliz 2012 para todos, menos para aqueles que iludem a nossa boa fé e dissipam o dinheiro dos nossos impostos.