Criado na Itália, em 1986, o conceito de “slow food” tem a ver com arranjar tempo para saborear alimentos de qualidade. Desde a sua criação, o movimento ganha adeptos e seguidores em todo o mundo, sejam chefs, cozinheiros ou simples comensais conscientes e engajados no propósito de contribuir para um planeta melhor. Hoje são mais de cem mil membros em todo o mundo.
Segundo ensina seu fundador, Carlo Petrini, “é inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas”. A filosofia do slow food fala, de uma forma simples, de tornar o nosso cotidiano mais prazeroso.
Sempre fui simpática ao movimento, mas não tinha tido a oportunidade de sentir mais de perto essa atmosfera até que, numa viagem a Puglia, na Itália (região conhecida nos roteiros turísticos como o “salto da bota”, no mapa italiano), pude viver esse ar de quietude e prazer das coisas simples. O requinte de provar a alta gastronomia contida num “vero pomodoro”, os doces tomates do terroir italiano.
Foi uma viagem de carro, explorando a região rural e milenar da Puglia, onde você entra numa cidadezinha muito quieta, parecendo meio deserta, acha um lugar numa rua estreita para estacionar seu carro e procura no mapa onde fica o centro histórico. Caminha umas ruelas bem antigas e, de repente, milagre, você se depara com um centro histórico de muitos séculos, com prédios de arquitetura deslumbrante. E muitas igrejas milenares, belíssimas.Lecce, uma linda cidade da Puglia, é conhecida como “a Florença do Sul”, por sua arquitetura barroca, com prédios construídos e decorados com a pedra “leccese”, de material calcário e cores quentes. Os monumentos históricos são muitos e todos merecem a visita.
Formando uma espécie de contraste com os prédios majestosos, o que encanta a qualquer turista é o sabor inesquecível de quase tudo o que se prova na Puglia. A gastronomia é simples, e saborosa, temperada pelo gosto do terroir da terra onde habitaram muitos povos e civilizações.
E foi lá, numa cidade à beira-mar encantadora que vi a plaquinha, em frente ao restaurante em que íamos almoçar: “Trani, cittá slow”, que poderia ser traduzido como “cidade devagar”. País berço do slow food, são muitas as cidades da Itália que aderiram ao movimento, para sorte de viajantes que apreciam os bons sabores da terra.
E assim fui apresentada ao slow food: na forma de camarões grandes grelhados cujo acompanhamento era uma fatia de limão. Eles foram regados a um bom vinho branco da uva Fiano, vinhos frescos e de coloração palha. Não estava muito gelado, mas não precisava. Desceu como uma luva. E a viagem continuou por muitas outras cidades cheias de surpresas, das quais eu já tinha lido sobre as maravilhas da culinária e da arquitetura milenar.
O slow food é uma prova que não é necessário ir a um restaurante cinco estrelas de um chef famoso para se comer maravilhosamente bem. Às vezes, a excelência e a perfeição podem estar no sabor de um simples tomate, numa incrível abobrinha (zucchini em italiano), nos vinhos de uvas ainda pouco conhecidas para nós.
Não é à toa que o movimento já tem tantos apoiadores em mais de 150 países. Todos têm em comum a sabedoria de tornar mais prazerosos momentos e alimentos simples. O movimento tem se tornado voz ativa na agricultura e na ecologia, numa união de prazer com alimentação consciente responsável.