Fábio Góis
A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), deixou há pouco o gabinete do presidente nacional de seu partido, senador Sérgio Guerra (PE), dizendo ter trazido provas “da lisura” em relação às contas de sua campanha para o governo do estado, em 2006. A iniciativa da tucana foi uma resposta à matéria publicada na edição desta semana da revista Veja, segundo a qual gravações telefônicas e o depoimento de uma empresária brasiliense lançam suspeitas de prática de caixa dois contra a governadora, em um complexo esquema que envolveria Detran e empresariado locais.
A revista faz menção a dez horas de áudio, em poder de procuradores federais, em que o ex-assessor de Yeda Marcelo Cavalcante – encontrado morto no Lago Paranoá, em Brasília – teria feito revelações “desastrosas” para o governo tucano. Marcelo, coordenador da campanha de Yeda Crusius em 2006, viveu 15 meses, a partir de 2007, com a empresária Magda Koenigkan, que “relatou à Veja as confidências que seu companheiro lhe fez sobre irregularidades que teriam sido cometidas em nome da governadora gaúcha”.
A governadora disse ter entregado a Sérgio Guerra três documentos: um sobre a compra de uma casa em seu nome – a matéria fala em aumento de patrimônio de Yeda por meio do caixa dois –, legalmente atestado pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul; um sobre a prestação das contas de campanha à Justiça Eleitoral; e outro sobre o suposto falso testemunho de um delegado que teria sido chefe de segurança do ex-governador do estado Olívio Dutra (PT), adversário local de Yeda.
“Parece interessante que venham novamente com denúncias sem provas. Eu respondo com provas”, declarou Yeda, acrescentando que sempre teve boas relações com a executiva nacional do PSDB. A governadora questionou também o pedido de abertura de uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul para apurar as denúncias – segundo a revista, o PT gaúcho já teria coletado 14 assinaturas de adesão.
“Para quê CPI se temos as provas da lisura?”, disse a tucana, adiantando que seus advogados exigirão as provas das denúncias aventadas e, se estas não aparecerem, tomarão as medidas judiciais cabíveis. Sérgio Guerra concorda com a colega de partido, e advertiu que uma eventual CPI serviria como palanque pré-eleitoral para os petistas contra Yeda (ela tentará a reeleição em 2010).
Yeda disse ainda que vai exigir direito de resposta à revista Veja – mas não em relação à reportagem, e sim ao editorial da publicação semanal. Intitulado “Pagos para descobrir”, o texto mostra o caso de dois jovens repórteres que, “recém-saídos da universidade”, estariam entre os melhores repórteres da revista – caso de Igor Paulin, correspondente no Rio Grande do Sul, que assina o “furo de reportagem” sobre as denúncias de caixa dois contra Yeda.
“Nos projetos de reforma política ora em exame no Congresso, existe a proposta de proibir as doações de empresários, que alimentam os caixas dois, e estabelecer o financiamento público como o único recurso financeiro para partidos e candidatos. Os mais céticos acreditam que os beneficiados não vão usar esse dinheiro honestamente e ainda continuarão a receber doações por fora. Pode ser. Mas é urgente encontrar uma forma de curar essa chaga que está na base de praticamente todos os escândalos recentes da política nacional”, diz trecho do editorial.
“Chega de atacar o Rio Grande do Sul e a governadora com fatos que já foram comprovados”, bradou Yeda, para quem os fatos apresentados por Veja são “requentados” para qualificar as acusações de seus adversários políticos.
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