Diego Moraes
Embora ainda não chegue à maioria das pessoas, a internet tornou-se uma realidade na vida do brasileiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12,4% das residências do país já têm computadores ligados à rede. Somando os que acessam a WEB em outros ambientes (escola, trabalho etc.), estima-se que já existam mais de 30 milhões de internautas no Brasil.
Partidos e políticos sabem dessa nova tendência e correm para aproveitar, da melhor forma possível, os frutos que a rede mundial pode proporcionar. Ela ainda não garante eleições, mas assegura às legendas uma disputa mais equilibrada, pelo menos no ambiente virtual.
"Manter um site ainda está longe de ser algo barato, mas com certeza custa muito menos que uma publicação impressa. Isso exige menor poder de fogo para que os partidos concorram em pé de igualdade", avalia a editora do site do PT na internet, Priscila Lambert.
Os petistas foram os primeiros a se aventurarem no oceano virtual. A página do partido está no ar desde maio de 1996. Porém, somente a partir de 1998, com a terceira campanha presidencial de Lula, o trabalho de comunicação se intensificou definitivamente. Foi quando a legenda percebeu que, quando podem, os eleitores recorrem à rede para saber mais sobre o partido. "As pessoas vão em busca de informações. Durante as eleições de 2002, o número de acessos quintuplicou. Depois caiu, mas nunca para o tanto que era antes. Nas campanhas municipais, a procura também cresceu", analisa Priscila.
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Todos na rede
Os sites dos partidos foram o início da corrida política pela internet. Hoje, desde o recém-criado Psol até legendas sem representantes no Congresso, como o PCO ou o PMN, já se adaptaram à era digital e hospedam uma página na rede. "Na política, há cada vez menos espaço para quem não entende de internet", afirma André Campos, editor da Agência Tucana e responsável pela página virtual do PSDB. "O candidato sem site fica com a imagem prejudicada", analisa Cláudio Gonzales, editor do Vermelho, página oficial do PCdoB.
O sítio dos comunistas está no ar há menos tempo que o do PT, há cerca de cinco anos, mas se tornou referência entre as páginas de política na internet. Em 2004, foi o vencedor do Prêmio iBest, o principal do país, como o melhor na categoria política. O site divulga notícias internacionais e do Congresso, sempre levando em conta o ponto de vista do partido. Para manter a estrutura, composta por quatro redatores e um webmaster (profissional que dá rosto à página), o partido desembolsa cerca de R$ 20 mil mensalmente.
Peso eleitoral
Os editores ainda não se arriscam a dizer qual será o peso da rede nas próximas campanhas eleitorais. Limitam-se a afirmar que, por enquanto, o trabalho é mais voltado para os filiados. Mas todos concordam que os partidos têm a chance, já em 2006, de experimentar algo inédito no processo político brasileiro. "A internet está consolidada e funciona muito bem para as transações comerciais e para a troca de arquivos. Na política, ela é algo totalmente novo", compara o editor do site tucano.
A página do PSDB antes era apenas um espaço restrito à reprodução de reportagens de jornais e revistas. A comunicação do partido era feita por boletins, que atingiam 25 mil leitores. Campos conta que, ao ver o crescimento da demanda por informações sobre o partido, viu-se forçado a apelar para internet e fez uma reformulação geral no site. Depois de muita insistência, conseguiu convencer os dirigentes do partido sobre as vantagens de explorar a rede. "Não davam muita importância para isso. No começo foi difícil", relata Campos.
Via expressa
A questão financeira contribui fortemente para fazer da internet um grande filão para partidos, políticos e grupos que pretendem exercer influência social. Trata-se, afinal, de uma mídia que permite alcançar grandes distâncias, de modo instantâneo, com custos infinitamente mais baixos que o de publicações impressas ou de programas de rádio e de televisão.
"Conseguimos emplacar uma reportagem nossa numa página inteira da Veja. Se o PSDB fosse pagar para sair em uma página, dava um ano e meio de salário aqui da minha equipe", afirma Campos, que coordena dez repórteres e sete estagiários.
Outra vantagem é ter espaço ilimitado para falar sobre qualquer assunto de interesse do partido, sem depender da boa vontade dos jornais. Com isso, chegar ao eleitor torna-se uma tarefa menos complicada. "O impacto em termos de comunicação partidária é muito positivo. A maior parte dos militantes do partido tem acesso à internet e, com o site, conseguimos atingir a 90% do nosso público", conta Gonzáles.
Diversidade
Ao permitir a comunicação direta com a população, a internet, sem dúvida, diminui a dependência dos partidos em relação à grande imprensa. Ao mesmo tempo, ela pode abrir espaço nas páginas dos jornais. Informações publicadas na rede pelos partidos, muitas vezes, atraem a atenção de repórteres, transformando-se em matérias, que, por sua vez, garantem credibilidade aos veículos virtuais.
Durante a gestão do ex-presidente do PT José Genoino, que se afastou do cargo em julho deste ano em meio à crise do mensalão, o site do partido publicava todas as segundas-feiras, durante a manhã, uma entrevista inédita com o petista. "Todas as agências de notícias repercutiam porque elas sabiam que toda segunda de manhã havia notícias fresquinhas ali", explica Priscila Lambert.
Outra proposta é tornar os sites úteis às redações de jornais, tentando fazer o trabalho que os repórteres, muitas vezes por falta de tempo, não conseguem fazer. "Eles descobriram que muita coisa o jornal não precisava cobrir porque o site já cobria, como coletivas de alguns tucanos", afirma André Campos. "O que for nosso, vai estar no site. Se tiver uma coletiva, em 30 minutos está no ar. Com isso ganhamos credibilidade e um olhar positivo da mídia", reforça.
Contudo, eles afirmam que o principal objetivo é atingir a militância. E conseguir espaço nos jornais é uma forma de alcançar essa meta. "O jornal impresso repercute melhor e é mais rico em informação. Ele resiste porque ainda cumpre o papel de detalhar", argumenta o editor do Vermelho.
Parcialidade
No começo, o PT queria fazer uma agência para petistas, não só com notícias do próprio partido, mas também com reportagens de jornal que pudessem ser interessantes. "É uma forma de prestar contas ao eleitor, mostrando o que nossos deputados, governadores, senadores estão fazendo e não é divulgado", reforça Priscila.
Não só para servir aos filiados, os partidos estruturam suas páginas para vender uma idéia. Os editores não negam que a linguagem dos sites é parcial. "Não se pode pensar que o site leva a ótica do jornal. Não temos a pretensão de sermos isentos", afirma a editora do portal petista. "O que a gente faz não é jornalismo. Nós usamos técnicas jornalísticas para vender as ações positivas do partido", admite Campos.