Na sua carta de renúncia divulgada agora há pouco, o agora ex-ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, diz que "jamais" foi ouvido pelo procurador-Geral da República antes que a denúncia (leia mais) fosse apresentada contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Nem a Polícia Federal, nem o próprio Procurador deram-me o direito de prestar os esclarecimentos ao longo dos quase dez anos nos quais investigou-se esse assunto", diz. Leia abaixo a íntegra da carta:
"Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente: quando aceitei seu honroso convite para assumir o Ministério do Turismo e, posteriormente, a Secretaria de Relações Institucionais, o fiz com a tranqüilidade de que tenho uma vida idônea, transparente e marcada por êxitos que obtive à custa de muito trabalho. Ao longo destes quase cinco anos de colaboração com seu governo, procurei contribuir com todos os meus esforços para uma obra econômica e social que já faz parte da História do País. Infelizmente, esse mesmo compromisso me obriga, hoje, a pedir meu afastamento do cargo de Ministro-Chefe da Secretaria de Relações Institucionais.
Leia também
Uma única vez, no dia 6 de março de 2006, prestei depoimento à Polícia Federal sobre questões relativas à campanha eleitoral de 1998 em Minas Gerais. Naquela oportunidade, nada me foi perguntado sobre um possível desvio de recursos de patrocínio de eventos para a campanha de reeleição do então governador. Essas questões, agora, baseiam uma surpreendente acusação contra mim. Recebi com profunda indignação a informação de que o Procurador-Geral da República acusou-me perante o Supremo Tribunal Federal por um crime que não cometi e sobre o qual jamais fui ouvido. Nem a Polícia Federal, nem o próprio Procurador deram-me o direito de prestar os esclarecimentos ao longo dos quase dez anos nos quais investigou-se esse assunto.
Como lhe disse anteriormente, se tivesse um milímetro de dúvida sobre minha biografia, jamais teria aceitado este cargo. Essa convicção me permite afirmar que nunca participei de qualquer reunião sobre o assunto que ora move o Procurador-Geral da República em sua acusação ou dele tive ciência ao longo da campanha eleitoral de 1998, período no qual dediquei-me intensamente à minha eleição para a Câmara dos Deputados. A acusação é injusta e improcedente. Isso ficará provado no curso do processo. Considero que neste momento é meu dever empenhar todos os meus esforços para me defender. Não quero, entretanto, que um assunto alheio ao seu governo cause qualquer embaraço à sua gestão e à importante agenda que Vossa Excelência tem para o País.
Senhor Presidente, agradeço imensamente seu apoio e sua confiança. Nos conhecemos ao final de 2002, quando fui chamado para compor sua equipe. Desde então, sua postura leal, firme e cordial estreitou os laços entre nós e também entre nossas famílias. Ao interromper esta colaboração, o faço com enorme gratidão pela oportunidade de servir ao País e com profundo afeto pela amizade que construímos. Saiba que onde estiver continuarei trabalhando por seu governo".