Renata Camargo
Pesquisa do instituto Vox Populi divulgada neste domingo (5) mostra que a população brasileira é, em sua maioria, conservadora quando se refere a mudanças na legislação a respeito de temas polêmicos como aborto, casamento homossexual e uso de drogas. De acordo com o estudo, encomendado pelo portal IG, 82% dos entrevistados são contra descriminalizar o aborto, enquanto 60% não querem permitir a união civil de gays e 87% são contra a legalização do uso das drogas.
O Datafolha registrou que, em outubro, a rejeição ao aborto era de 71%. É o maior índice desde que os levantamentos começaram a ser feitos, em 1993.
Um dos temas mais levantados durante o segundo turno da campanha eleitoral para presidente neste ano, a interrupção da gravidez é hoje considerada crime no Brasil.
Na avaliação de 1.760 pessoas, das 2.200 entrevistadas pelo Vox Populi, a legislação sobre o aborto deve permanecer como está. Apenas 308 entrevistados (14%), são a favor da descriminalização dessa prática e 88 pessoas (4%) não têm opinião formada sobre o assunto ou não responderam.
Entre os habitantes das regiões Norte e Centro-oeste, 89% defendem punição a quem pratica o aborto. No Sudeste, o menor índice, 77% são contra a interrupção da gravidez.
Segundo a pesquisa, nas grandes cidades, é mais fácil encontrar quem defenda a descriminalização do aborto (19%), do que nos pequenos municípios (9%). Em relação à taxa de rejeição dessa prática, ela é maior entre eleitores com nível superior e atinge altos patamares entre eleitores que se dizem religiosos (86% dos evangélicos são contrários).
Para 72% dos entrevistados, a governo Dilma não deve sequer propor uma lei a esse respeito.
União homossexual
Quando se trata de união civil entre pessoas do mesmo sexo, a maioria dos entrevistados também se posiciona no sentido de manter as leis atuais. A legislação vigente não reconhece a união civil homossexual. De acordo com o Vox Populi, 60% da população deseja que essa regra se mantenha, contra 35% que acredita que a união de gays deve ser permitida.
Segundo a pesquisa, a maior resistência é observada nas regiões Centro-oeste e Norte (69%) e a menor, no Sudeste, onde 39% defendem o reconhecimento da união homossexual.
A maior rejeição desse direito aparece entre pessoas mais velhas da população: 69% dos que tem 50 anos ou mais não aceitam a mudança na lei. Dos que se dizem sem religião, 56% são contra a união gay, enquanto os evangélicos, 78% rejeitam esse reconhecimento.
O estudo mostra ainda como os brasileiros avaliam a adoção de crianças por casal homossexual. Dos entrevistados, 61% avaliam que o país não deve permitir que gays adotem crianças. A maior rejeição é na região Nordeste, 70%. Um índice alto da população também considera que a lei não deve mudar para ampliar o direito civil dos homossexuais e igualar a união ao casamento: 63% dos entrevistados se dizem contra isso.
Legalização das drogas
Dilma cumprimenta eleitores na rodoviária de Brasília: para se aproximar da opinião maioria, passou a ser contra o aborto
No que diz respeito à legalização das drogas, a pesquisa identificou que quase nove em cada dez brasileiros (86,14%) são contra a descriminalização do uso de drogas. Na região Nordeste, o índice chega a 93%.
Para 72% da população, o governo sequer deve propor uma lei nesse sentido. No Sul do país, a rejeição à ideia de legalizar o consumo das drogas é de 81%.
De acordo com o estudo do Vox Populi, apenas 11,88% dos entrevistados são favoráveis a legalizar as drogas. A pesquisa realizou 2.200 entrevistas, nos dias 19 e 23 de novembro. A margem de erro é 2,1 pontos percentuais.
Mudança de opinião
Temas polêmicos pautaram a campanha presidencial deste ano. Dilma Rousseff (PT) chegou a mudar de opinião. Antes favorável ao aborto, passou se dizer contra e afirmar que quer tratar o assunto como “questão de saúde pública”.
José Serra (PSDB) também se disse contrário, apesar de, quando ministro, ter baixado portaria para facilitar o aborto em unidades de saúde. Preocupado em cativar votos do eleitorado religioso, disse na TV que, no governo, iria “defender os valores cristãos”.
Em reunião após o primeiro turno, os coordenadores de Dilma avaliaram que a associação do PT à legalização do aborto foi decisiva para levar a disputa para o segundo turno.
A petista fez e assinou uma carta chamada “Mensagem da Dilma” em que se comprometeu a não enviar ao Congresso nenhum projeto ampliando as possibilidade de interrupção da gravidez. O texto ainda dizia que, se eleita, ela não sancionaria lei que proibisse os religiosos de criticarem o homossexualismo.