Tatiana Damasceno
A possibilidade de a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy (foto) vencer em São Paulo pode torná-la imbatível como candidata petista em 2010. Esta é a avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco.
O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto afirma que, apesar do presidente Lula dar sinais de que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pode ser sua sucessora, ela não é uma escolha do partido. “A Dilma é uma escolha do Lula, mas não do PT. Se Marta ganhar em São Paulo ela é, automaticamente, a candidata para presidência. Ficaria muito difícil para o Lula e para o próprio PT sugerir o nome de outra pessoa”, diz ele.
Essa opinião é compartilhada por Leôncio Martins Rodrigues, professor titular de Ciência Política das universidades de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp). Ele acredita que uma vitória de Marta em São Paulo tornará difícil a escolha de outro nome petista para 2010.
“Marta, como Dilma, não faz parte das bases históricas da formação do PT. Contudo, se obtivesse uma vitória retumbante na disputa pela capital paulista, como seria derrotar no primeiro turno o PSDB e o DEM, seria difícil duvidar de que seja a candidata petista ‘natural’ para concorrer ao lugar de Lula”, afirma Rodrigues. “Todas facções petistas (sindicalistas e ex-revolucionários) teriam que engolir seu nome.”
O professor considera contraditórias as demonstrações públicas de Lula em mostrar Dilma como sua candidata em 2010. “Embora me pareça que seja o próprio Lula que ganha mais popularidade, não deixa de ser estranho, pelos padrões históricos petistas, a escolha de alguém que só aderiu ao PT em 2001”, diz Rodrigues.
Ele afirma que a melhor opção para o PT em 2010, apesar das fortes resistências, é tentar um terceiro mandato para Lula. “Será muito doloroso para Lula e sua base de apoio ver os companheiros petistas e aliados de um governo com tanto apoio do povo serem substituídos por tucanos apenas em respeito à democracia burguesa formal.” Rodrigues pondera: “Para a efetivação do projeto continuísta, há muitas dificuldades a serem superadas”.
PT e PSDB
A tentativa de aproximação entre PT e PSDB em Belo Horizonte não deve, na opinião dos cientistas políticos, ser um ensaio para 2010. Adversários no campo nacional, as duas siglas já se coligaram em eleições municipais passadas, prova de que a aproximação não seria tão esdrúxula quanto muitos imaginam.
Em 2004, na cidade de Anápolis (GO), o candidato petista a prefeitura, o hoje deputado federal Rubens Otoni, contou com o apoio do PSDB do então governador, o atual senador Marconi Perillo, que indicou o vice. No segundo turno, a chapa tucano-petista perdeu para Pedro Sahium, do PSB.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), costuraram um acordo para lançar o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Márcio Lacerda (PSB), como cabeça de chapa e o deputado estadual Roberto Carvalho (PT) como candidato a vice.
Mas a intenção barrou na Executiva Nacional do PT, que vetou a coligação com tucanos, apesar de liberar a aliança com a oposição em outros municípios. Por exemplo, os petistas autorizaram a união do partido com o PSDB em Aracaju (SE), com o DEM em Porto Velho (RO) e Volta Redonda (RJ) e com o PPS em Manaus (AM).
O apoio tucano à candidatura de Lacerda virou informal, já que, oficialmente, apenas o PT está na coligação do ex-secretário de Aécio.
Um acordo PT-PSDB, para além das montanhas mineiras, hoje não soa factível a petistas históricos lotados em São Paulo. “O PT paulista e o PSDB paulista possuem um peso desproporcional em relação ao restante do país. As brigas entre os dois partidos dentro de São Paulo impediram que os dois se aproximassem no plano nacional até agora”, acredita Leonardo Barreto.
Ele mostra que a insistência de Aécio em mostrar o entendimento entre os dois agrupamentos políticos é uma estratégia para penetrar no grupo decisório tucano. “O que é gente está vendo são movimentos na periferia do PT e PSDB motivados por políticos que querem descentralizar e talvez dividir esse poder que hoje está concentrado em São Paulo”, avalia Barreto.
O governador mineiro atuou pensando na sua própria pré-candidatura a presidente em 2010, no entender do cientista político. “Quando o Aécio sugeriu aquela aliança lá em Minas, ele queria jogar esta discussão na mídia e no próprio partido para conseguir penetrar nesse núcleo paulista e ter condições de impor seu nome.”
Partido de elite
Além da questão do nome para disputar a presidência de 2010, Barreto afirma que PSDB terá que buscar uma forma de se comunicar com a parcela mais pobre do eleitorado se quiser ter sucesso no próximo pleito. “O PSDB ganhou a pecha de ser um partido elitista. E ele não é homogêneo no país. Hoje isso é um problema muito sério para eles”, analisa o cientista político.
Em entrevista ao Congresso em Foco no ano passado, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), respondeu que a intenção do partido era se direcionar cada vez mais à esquerda. “O partido se desloca cada vez mais para o centro, para o centro-esquerda e para uma posição progressista, que é a sua origem e que vai ser o seu futuro”, afirmou. (confira a íntegra da entrevista)