Ainda que não seja possível prever resultado para a eleição à presidência do Senado, que acontece amanhã às 9h, uma coisa é certa: ela será marcada por traições e rachas partidários. E um retrato do desgaste político que a eleição está gerando em algumas legendas é a rusga pública entre o líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (PSDB-AM), e seu correligionário, senador Papaléo Paes (PSDB-AP).
Virgílio ficou insatisfeito com a declaração do colega de apoio à José Sarney, após a confirmação de que o PSDB votaria em Tião Viana (PT-AC). “Se ele não se retratar com o partido, irei pedir a intervenção do diretório do PSDB no Amapá nesse assunto”, afirmou o líder tucano na tarde de hoje.
O senador amazonense disse ainda que sentiu-se desrespeitado como líder. “Estou na liderança do PSDB há seis anos e descobri que tenho concorrência dentro do próprio partido”, sustentou.
Papaléo Paes, por sua vez, disse receber com perplexidade as críticas do colega. “Posso dizer que estou perplexo. Vigílio deveria me colocar no meu lugar. Sou um simples senador no PSDB. Mas não vou me retratar nem que a minha mãe ressuscite para me pedir isso”, disparou o senador ao Congresso em Foco por telefone.
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Papaléo Paes reiterou seu apoio a Sarney e justificou. “Tenho contas a prestar com meu eleitorado, que é do Amapá, estado que precisa de mais reconhecimento nesta Casa. Como vou explicar a eles que deixei de apoiar um candidato à presidência que nasceu no estado que represento?”, disse, referindo-se a José Sarney.
Os dois senadores devem se encontrar logo mais, às 20h, em jantar do PSDB que acontecerá na residência do senador Marconi Perillo (PSDB-GO). “Votar com o Sarney é votar na continuidade. Eu quero mudança. Quero que o Senado seja visto com bons olhos pela sociedade”, encerrou Virgílio.
Números
Hoje, o senador Tião Viana (PT-AC) afirma ter 43 votos. José Sarney especula ter 48. Com 81 senadores no plenário, a conta não fecha. Até a noite de ontem, o grupo de apoio à candidatura do petista contabilizava 38 votos a favor de Viana. Na projeção dos que ficaram ao lado do petista, 17 senadores ainda estariam indecisos. Hoje, no início da tarde, após uma maratona de telefonemas e costuras políticas, Tião Viana disse que conta com um placar de 43 votos para ele e 38 para o peemedebista.
O apoio do PSDB foi fundamental e deu novo fôlego à campanha petista. Várias teorias sobre os reflexos dessa união em 2010 surgiram assim que o acordo foi anunciado. “O PSDB só me pediu para garantir autonomia ao Legislativo e uma campanha efetiva de moralização dessa Casa. Não falamos sobre as próximas eleições”, garantiu Viana. O líder tucano corroborou a afirmação. “Queremos vencer o PT em 2010 nas urnas, não firmando acordos aqui dentro”, finalizou Virgílio. (Daniela Lima)