Os senadores do PMDB Roberto Requião (PR) e Romero Jucá (RR) têm trocado ofensas públicas por meio de vídeos postados em suas redes sociais. A hostilidade teve início quando Requião reagiu a uma nota do Radar On-Line, da Revista Veja, publicada na sexta-feira (28), com informações de que Jucá estaria trabalhando pela expulsão de Requião e de Kátia Abreu (TO) do partido. “Se tem alguém a ser afastado do PMDB não sou eu”, afirmou Requião. “Vão manter só o pessoal com tornozeleira no pé?”, emendou. Entre outras alfinetadas, os parlamentares recorrem a trocadilhos com cachorros para os ataques.
Em vídeo de quase nove minutos divulgado por meio de sua página no Facebook, Roberto Requião usou os primeiros 26 segundos para provocar Jucá. O parlamentar diz que ao mencionar o líder do governo no Senado, os animais reagiram. “A cachorrada ficou desesperada e eu tive que interromper a gravação”, alfinetou. No mesmo vídeo, é possível ouvir latidos ao fundo. “Romero Jucá, se eu solto meus cachorros atrás de você, vai ser bem mais sério que uma busca da Polícia Federal ou da Lava Jato”, completou.
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PublicidadeTambém em vídeo, Jucá comentou na noite de ontem (domingo, 30) a fala de Requião. Em três minutos e meio, o líder do governo cita a manifestação dos animais de Requião. Sem alterar o tom de voz, ele diz: “O senador Roberto Requião está andando com muitos vira-latas. Deve ser um deles”. Jucá disse ainda que não deve nada à Polícia Federal. “Eu não tenho medo de cara feia e nem de bravatas. Não devo nada. O senhor disse que pode soltar seus cachorros em cima de mim. Solte. Eu não tenho medo e não devo nada. Nem à Polícia Federal, nem à Lava Jato. Não sou réu em nenhuma ação, diferente do senhor que é réu em várias ações aí, no Paraná”, declarou.
Assista ao vídeo divulgado por Jucá:
PMDB rachado
Depois da provocação com os latidos dos cachorros, Requião diz que o tema da transmissão ao vivo seria a convenção municipal do PMDB em Curitiba. Ao saber da notícia publicada na revista Veja, ele decidiu enfatizar que é “o filiado número um do PMDB no Paraná”, além de ser o presidente do diretório estadual da legenda. Ele ressalta ainda que, no estado, o partido é “diferenciado, firme, que não se compra e não se vende e não troca posições por vantagens, por empregos e por favores”.
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Requião, então, reforça sua oposição ao presidente Michel Temer e às políticas de seu governo, e se diz contra a política entreguista, as privatizações, as reformas trabalhista e da Previdência. “É essa a nossa posição. Por isso cogitam a minha expulsão?”, questiona o parlamentar que emenda que talvez não seja ele a sair do partido em meio a essa articulação. De acordo com o senador, o partido chegou ao fundo do poço. “Vamos ver se ainda existe o velho PMDB de guerra ou se está o partido definitivamente acanalhado”, provocou.
Assista ao vídeo publicado pelo senador Requião:
Ao dizer que concorda com Requião sobre a necessidade do partido ter posições claras, Jucá critica posicionamentos defendidos pelo correligionário. “As suas colocações são lamentáveis, atrasadas, visando uma política antiga, bolivariana, petista”, afirma. Ele ainda sugere que o senador defende uma política que não condiz com a realidade do país, mas que faz parte da antiga União Soviética, da Venezuela ou da Bolívia. Por fim, o parlamentar defende a cúpula do PMDB nacional e acusa o diretório estadual sobre os gastos com a campanha do filho de Requião. “Não estava procurando ninguém para entrar com ação. Mas agora eu, presidente do PMDB, levarei essa história da situação do Paraná para a reunião da Executiva”, afirma.
Na tréplica, Requião foi ao Twitter. No microblog, ele postou foto de seu cachorro e segue com as ironias. “Jucá indignado desafia Darc para um duelo. Meu maremano branco não quis responder”, depois de dizer que iria ignorar o vídeo do presidente nacional do partido.
Na Lava Jato
O líder do governo Romero Jucá é um dos principais fiadores da gestão Temer. Jucá é investigado em cinco inquéritos da Lava Jato baseados em delações do empresário Marcelo Odebrecht e executivos do grupo Odebrecht. Em um dos inquéritos, os procuradores sustentam que o parlamentar teria recebido R$ 4 milhões para atuar de acordo com os interesses da empreiteira no Congresso, auxiliando a aprovação de uma resolução que reduziria a disputa fiscal entre os estados para o desembarque de mercadorias em portos. Em outro, no qual são citados diversos parlamentares que teriam atuado em favor da empresa no episódio da licitação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, Jucá teria recebido, segundo o Ministério Público, R$ 10 milhões da empreiteira e da construtora Andrade Gutierrez.
Requião foi citado na delação premiada de Ricardo Saud, diretor da empresa que controla a JBS. Segundo o depoimento do executivo, o senador foi um dos políticos beneficiados com propina paga pela JBS. Na campanha de 2014, quando Requião concorreu ao governo do Paraná, a campanha recebeu R$ 1,5 milhão do grupo JBS. O dinheiro foi repassado por meio de transferência eletrônica no dia 17 de outubro, depois da vitória de Beto Richa (PSDB) em primeiro turno. Outros R$ 900 mil teriam vindo de forma indireta. Os dois senadores negam as acusações.
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