Aécio começou sua fala respondendo a uma afirmativa feita por Dilma em seu discurso ao plenário do Senado na manhã de hoje (29), quando disse que o processo que pode tirá-la do cargo surgiu de um “inconformismo” com o resultado das urnas daquele que chamou de “derrotado nas eleições”, e afirmou que não é “desonra nenhuma” perder as votações.
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“Não poderia imaginar que, acredito que tão pouco Vossa Excelência, depois de nos despedirmos do último debate eleitoral, nos encontraríamos aqui hoje no Senado Federal, nessa condição. Digo isso porque, acredite, não ajo hoje com nenhum sentimento de alegria. Ajo na minha obrigação de senador”, disse o senador do PSDB, legenda de maior oposição ao PT, partido do qual Dilma é aliada.
O parlamentar começou pontuando falas ditas pela presidente afastada durante os debates de 2014, principalmente sobre a economia do país. Ele citou, por exemplo, que a petista disse, à época, que a inflação estava próxima a 0%. Entretanto, poucos meses depois de sua posse, a inflação ultrapassou os 10%, e destacou que a de alimentos chegou a 16%, “retirando, aí sim, da mesa do trabalhador aqueles pratos de comida que, tão competentemente, o seu marqueteiro, João Santana, apresentou ao Brasil”.
O tucano criticou argumentos utilizados pela presidente para ilegitimar o processo de impeachment: “Vossa Excelência recorre aos votos que recebeu como justificativa. Voto não é salvo-conduto. É delegação que pressupõe deveres e direitos. O maior dos deveres de quem recebe votos é o respeito a leis e à Constituição”, provocou.
No fim do seu pronunciamento, Aécio perguntou: “Em que dimensão Vossa Excelência e seu governo se sentem, sinceramente, responsáveis por essa recessão? Por 12 milhões de desempregados do Brasil, por 60 milhões de brasileiros que têm contas atrasadas e uma perda média de 5% da renda dos trabalhadores brasileiros?”
PublicidadeAo ter a palavra, a presidente concordou com o senador e afirmou que também não esperava encontrá-lo na situação atual. Depois, Dilma começou a detalhar os problemas sofridos por ela no início do seu segundo mandato.
“O que eu tenho dito, afirmei no meu discurso, e reafirmo aqui para o senhor, é que a partir do dia seguinte da minha eleição, uma série de medidas políticas para desestabilizar o meu governo foram tomadas. Primeiro, pediu-se recontagem de votos. Depois, pediu-se auditoria das urnas. Nos dois casos, após um ano, verificou-se que isso não tinha nenhuma irregularidade. Na sequência, senador, antes da minha diplomação, arguiu-se no TSE, e levantou-se a necessidade de auditar as minhas contas. Isso está em processo”, avaliou Dilma.
Crises econômicas e políticas
A petista também pontuou a queda dos preços de commodities – como petróleo, soja e minério de ferro – em 2014 e destacou que essa movimentação econômica afetou o crescimento do país. Ela enfatizou ainda que uma das maiores secas que atingiu o Sudeste entre 2014 e 2015 gerou crises no setor energético, e destacou a crise política, afirmando que apesar de ter enviado ao Congresso medidas para fugir da crise fiscal, a Casa Legislativa se negou a aprovar e, às vezes, sequer analisou as propostas feitas pelo seu governo para minimizar os impactos na economia brasileira. Dilma voltou a acusar o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter trabalhado para inviabilizar que essas medidas fossem aprovadas e pelo começo do processo de impeachment.
“Esta eleição do senhor Eduardo Cunha produz uma situação complexa para meu governo. Os projetos que enviamos para buscar uma saída fiscal para nossa situação, […] houve uma ação negativa, no sentido de não aprovar o que mandamos. E ainda houve as ‘pautas-bomba’ [que aumentaram os gastos]. Todas as comissões cuja ação têm impacto na questão fiscal não funcionaram”, disse ao responder o senador.
Sobre o processo de impeachment, Dilma falou que prefere o grito nas ruas das disputas eleitorais, e que respeita o voto direto: “Não respeito a eleição indireta, que é produto de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade. Isso não posso respeitar. Posso, ao longo do meu mandato, ter cometido erros e não ter cumprido tudo o que era esperado de mim”, avaliou.
Outro ponto mencionado pela petista foi a alta do juro norte-americano. De acordo com a presidente afastada, três dias depois do fim das disputas do segundo turno, os Estados Unidos mudou sua política monetária, que teria impactado diretamente o crescimento econômico do Brasil: “A consequência é elevação dos juros americanos e desvalorização generalizada das moedas. Esse é um processo extremamente comprovável. Não foi só o real. Foram todas as moedas atingidas, provocando um efeito na inflação, via o câmbio desvalorizado.”
Tribunal Superior Eleitoral
Aécio disse que Dilma condena o PSDB, partido que hoje preside, pela iniciativa de abrir ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com denúncia sobre irregularidades na campanha da candidata eleita. Contudo, apontou ele, a presidente não se lembra de dizer que o tribunal só decidiu abrir a investigação depois de identificar, após perícias, “inúmeras ilegalidades”.
“Por outro lado, vejo que Vossa Excelência recorre, permanentemente, aos votos que recebeu como justificativa para todas as atitudes que tomou”, avaliou o tucano.
Em sua resposta, Dilma acusou Aécio por, “sistematicamente”, acusá-la por supostos delitos, enquanto ele mesmo tem suas contas de campanha sob investigação.
Assista ao vídeo com o pronunciamento feito por Aécio Neves e a resposta, na íntegra, da presidente afastada:
* Com informações da Agência Senado