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Em um vídeo da campanha, a Transparência Internacional diz ter examinado 213 casos de corrupção em 80 países mundo afora. Ao todo, mostra o trabalho, 70% dessas ocorrências registraram o uso de “algum tipo de veículo secreto” – como o truste – no sentido de “esconder dinheiro ilícito”. A ONG lembra que o mecanismo permite a transferência de ativos a um administrador, o que tem sido uma maneira de “esconder ativos”, muitas vezes obtidos de maneira irregular, em países onde os beneficiários não residem.
Assista ao vídeo em que Cunha é chamado de “Mr. Trust do Brasil”:
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A entidade diz que Cunha é um exemplo de beneficiário de truste com movimentação financeira operada em banco suíço – como autoridades da Suíça, em colaboração investigativa com o Ministério Público Federal brasileiro, comprovaram em ação formal aberta contra o ex-deputado. A ONG diz que “Mr. Trust é um dos políticos mais poderosos investigados” no Brasil e faz menção à participação de Cunha no “escândalo de corrupção na Petrobras”.
O truste foi argumentação central de Cunha na tentativa – frustrada – de convencer os pares de que não mentiu ao dizer, na CPI da Petrobras, que jamais possuiu contas no exterior. Em 12 de março de 2015, o então deputado foi espontaneamente ao colegiado e, diante de uma maioria ocasional de aliados, negou ainda ter recebido “qualquer vantagem” ilícita – uma semana antes, o peemedebista figurava entre os acusados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de envolvimento no esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato na Petrobras.
Nesse ponto do vídeo, a entidade sinaliza que Cunha de fato mentiu à CPI da Petrobras naquele março de 2015. “Alguns meses depois, procuradores suíços localizaram quatro contas relacionadas a ele e sua esposa em um banco na Suíça. No total, as autoridades brasileiras estão pedindo de volta US$ 30 milhões do Mr. Trust e de sua mulher”, diz trecho da campanha.
“Não sabemos para onde o dinheiro foi. Mas sabemos que o Mr. Trust gastou US$ 42 mil em uma semana de compras em Miami”, acrescenta a Transparência Internacional, para quem é necessário “acabar com o vício da impunidade” propiciado por instrumentos como o truste.
“Precisamos saber quem são as pessoas e os reais beneficiários de entidades secretas. Se soubermos, isso vai ajudar a acabar com a grande corrupção”, arremata o filmete, com uma exortação final. “Existem muitos Mr. Trusts ao redor do mundo. Ajude a desmascará-los.”
Discurso derradeiro
A cassação do ex-presidente da Câmara foi aprovada por 450 votos a 10, com nove abstenções, às 23h50 desta segunda-feira (12). Além da perda de mandato, o peemedebista é atingido pelos efeitos da Lei da Ficha Limpa e, consequentemente, fica condenado à perda dos direitos políticos por oito anos, com declaração automática de inelegibilidade. Foram 335 dias de disputa desde que, em 13 de outubro de 2015, Psol e Rede protocolaram representação que resultou no processo por quebra de decoro parlamentar. Com o resultado, Cunha perde o foro privilegiado, fica fora da vida pública até 2027 (oito anos depois do fim do seu mandato, que chegaria ao fim em 1º janeiro de 2019) e passa a ser investigado na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), sob a responsabilidade do juiz Sérgio Moro.
Mas, mesmo diante da dura realidade de investigações e ostracismo político que o aguarda, o peemedebista manteve a acidez e a virulência das épocas em que comandava a Câmara e, estima-se, detinha o apoio de quase 200 deputados. “Quem acha que tirar a Dilma foi uma coisa política e parlamentar pode concordar que o seja com todos. É só por vingança! Alguém tem dúvida de que, se não fosse a minha atuação, teria havido processo de impeachment? Alguém tem dúvida de que, se eu não houvesse autorizado, teria havido impeachment? Alguém tem dúvida de que, se eu não tivesse conduzido a votação, teria havido impeachment? Alguém tem alguma dúvida disso nesta Casa? Duvido!”, ralhou o agora ex-deputado, diante de um plenário que se dividia entre vaias (majoritariamente) e aplausos, quando o petismo era o alvo.
Leia e veja em vídeo a íntegra do discurso:
Cunha, no último discurso: “Com Dilma foi diferente, foi crime de responsabilidade!”