As relações entre o publicitário Marcos Valério e o PT continuam a render assunto na revista Veja. Depois da suposta entrevista em que Valério envolveu o ex-presidente Lula no mensalão, o veículo semanal estampa em sua capa desta semana a informação de que, em depoimento ao Ministério Público Federal, Valério diz ter detalhes sobre o envolvimento do PT no assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002. De acordo com a reportagem, intitulada “O que Valério quer contar à Justiça”, Lula e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sofreram chantagem e foram até extorquidos por suspeitos de envolvimento com o homicídio. Dez anos depois, investigações ainda não conseguiram solucionar o caso.
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Segundo a revista, petistas recorreram a Valério para pagar pelo silêncio dos chantagistas. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) há mais de 40 anos de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Valério disse no depoimento que se recusou a dar o dinheiro – a missão, relatou o publicitário, coube a um amigo pessoal do ex-presidente da República, por meio de repasses de uma instituição financeira não mencionada no processo do mensalão (leia aqui neste site tudo sobre o assunto).
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Ainda segundo a revista Veja, um dos suspeitos de chantagear Lula e Gilberto Carvalho é o empresário Ronan Maria Pinto, acusado pelo Ministério Público de integrar esquema de propina praticado na Prefeitura de Santo André. “Procurado pelos petistas para dar aos achacadores o dinheiro que eles buscavam, Valério recusou: ‘Nisso aí, eu não me meto’, disse ele em um encontro com Sílvio Pereira, então secretário-geral do PT, e Ronan. Quem relata é o próprio publicitário”, registra trecho da reportagem.
Arquivo vivo
PublicidadeA disposição de Valério em falar se justifica pelo procedimento judicial chamado “delação premiada”, que consiste em abrandar penas de condenados que se dispuserem a contribuir com investigações. Como o julgamento do mensalão já está em vias de conclusão, suscitou-se a discussão sobre a aplicação do benefício a Marcos Valério, que não contribuiu com o processo em sua fase inicial. O depoimento de Valério ao ministério público, prestado no final de setembro, foi revelado na edição de quarta-feira (31) do jornal O Estado de S. Paulo.
“As declarações são apenas parte do arsenal de Valério. Como VEJA havia mostrado já em setembro, o publicitário, que diz temer por sua vida, cogita trazer à luz detalhes sobre o envolvimento de Lula no esquema do mensalão. Mais do que isso: diz ser capaz de desvendar o mistério sobre a origem do 1,7 milhão de reais apreendidos pela Polícia Federal no escândalo do dossiê dos aloprados, em 2006. E de dar detalhes comprometedores sobre a participação do ex-ministro Antonio Palocci na arrecadação de recursos para o caixa do PT”, arremata a revista, destacando que “ainda resta a contar” por parte de Marcos Valério sobre “questões que ficaram sem resposta”.
Repercussão
Diante dos novos fatos, a cúpula petista e representantes do partido no Congresso repetem o discurso de que Marcos Valério é uma figura “desqualificada”, como classificou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). Para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), é “lamentável” que o operador do mensalão tente envolver o ex-presidente Lula no esquema. Presidente do PT, Rui Falcão aproveitou o intervalo de uma reunião da Executiva Nacional, ontem (quinta, 1º), para dizer que a legenda nada tem a temer.
Já a oposição demonstrou descompasso ao repercutir o assunto. O PPS, na figura de seu presidente nacional, deputado federal Roberto Freire (SP), anunciou representação junto à Procuradoria Geral da República (PGR) cobrando novas investigações, em conjunto com PSDB e DEM – ambos os partidos, porém, negaram a ação conjunta. Os tucanos ainda vão estudar o que fazer ante às novas denúncias, enquanto DEM prefere aguardar uma posição da PGR.
Para Freire, o “fato novo” pode evidenciar que Lula seria o verdadeiro chefe da “sofisticada quadrilha” do mensalão, na denominação da própria Procuradoria. O ex-presidente, por meio da assessoria, disse que não comentará as denúncias de Marcos Valério.