O economista Vladimir Poleto negou há pouco, durante seu depoimento na CPI dos Bingos, saber o que havia dentro das caixas de uísque, supostamente recheadas de dólares, que transportou de Brasília a São Paulo em 2002. A revista Veja, entretanto, divulgou em seu site uma gravação em que o economista narra em detalhes como transportou a mercadoria e o que havia dentro. A entrevista foi gravada com o consentimento de Poleto.
De acordo com reportagem da Veja publicada na semana passada, o economista transportou caixas de uísque com US$ 1,4 milhão em seu interior, doados pelo governo de Cuba para a última campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. O economista afirma que pegou as caixas no apartamento de um ex-embaixador cubano em Brasília.
Confira abaixo a transcrição da entrevista publicada no site da revista (os pontos principais da conversa estão destacados em negrito).
Veja – Hoje é madrugada de sábado. Estou aqui com Vladimir Poleto. Vladimir, você transportou dinheiro para o PT na campanha de 2002?
Poleto – Não, absolutamente não.
Veja – Mas há o episódio de que você – a gente já apurou – que você trouxe de Brasília para São Paulo caixas supostamente contendo bebidas e que havia dinheiro…
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Poleto – Que eu saiba não.
Veja – O que vc sabe?
Poleto – A única coisa que eu sei é que eu peguei um avião de Brasília com destino a São Paulo com três caixas de bebida, só isso.
Veja – Depois que você fez esse transporte você descobriu que… Foi informado do que efetivamente tinha dentro destas caixas…
Poleto – Depois de todo o acontecimento, sim.
Veja – E o que tinha dentro dessas caixas, segundo te disseram?
Poleto – Uma coisa é o que me dizem outra coisa é a realidade…
Veja – E o que te disseram?
Poleto – Que tinha dinheiro numa das caixas. Só isso.
Veja – Quem disse isso?
Poleto – Ralf Barquete.
Veja – Como você se sentiu sendo usado para fazer esse transporte.
Poleto – Um absurdo, um absurdo. Eu estive em Brasília para resolver problemas ligados diretamente, não só a minha questão pessoal, mas a outros encaminhamentos, alguns processos de enchentes, no ministério diretamente responsável e vim saber depois que acabei transportando alguns pacotes e num deles havia dinheiro. Só isso!
Veja – Você se sentiu usado?
Poleto – Lógico. Evidente. Isso é um descalabro!
Veja – Quanto tempo depois do episódio você ficou sabendo disso, que era dinheiro ao invés de bebida.
Poleto – Depois que eu ganhei uma garrafinha de Havana Club, que me foi presenteado, me falaram. Só isso!
Veja – Qual o valor que foi falado?
Poleto – É…
Veja – Segundo a informação que eu tenho, o valor transportado teria sido 3 milhões de dólares.
Poleto – Não. O valor que me disseram era 1 milhão e 400 mil dólares.
Veja – Vindo de Cuba?
Poleto – Não, não sei da onde. A origem eu não sei, apenas que eu acabei transportando num ato de minha infatilidade. Só isso!
Veja – Você fez um favor?
Poleto – Exato.
Veja – A pedido de um amigo.
Poleto – Exato.
Veja – Que não te disse o que era…
Poleto – Disse que eu tinha que trazer três caixas de bebidas. Só isso!
Veja – Você correu risco de vida?
Poleto – Não. O que aconteceu foi que peguei tempestade no ar, só isso! A partir do momento que eu saí de Brasília bateu uma tempestade. Meu destino era São Paulo aí bateu uma tempestade de Campinas até São Paulo. O piloto teve que mudar a proa para Poços de Caldas e depois certificou-se que talvez não tivesse combustível necessário para chegar até São Paulo e eu pedi pra ele arrumar uma outra alternativa de vôo. Ele disse que tinha que pousar ou em Poços de Caldas ou em Campinas. Eu optei que pousássemos em Viracopos.
Veja – O que aconteceu quando vocês pousaram em Viracopos?
Poleto – Viracopos? O avião pousou e eu…imediatamente me retirei do avião e disse que jamais entraria naquele avião, pelas penúrias e pelos problemas que passei. E, a partir do momento que o Ralf chegou no aeroporto, eu pedi que ele assumisse o avião e junto com o piloto tomasse os destino necessários. A partir dali, eu voltei para a minha terra natal.
Veja – Com relação à mercadoria, você disse que ela foi transportada em um carro blindado.
Poleto – Eu não vi. Eu fiquei em Viracopos. O avião na realidade pousou em Viracopos e tinha um tempo hábil, já que ali não tinha o combustível necessário para aquele avião, tinha que ser em outro aeroporto ali pertinho, então teve que se levantar outra vez, teve que decolar e fazer pouso nas proximidades. E o Ralf tava dentro desse vôo. E o Ralf tomou as ações daí pra frente, com relação aos produtos que estavam dentro do avião.
Veja – Você me disse no início da entrevista que esta história poderia comprometer muito, inclusive derrubar o governo. Por quê?
Poleto – Eu? Não. Eu fiquei sabendo da história depois e fiquei muito preocupado. Só isso!
Veja – Você acha que foi um inocente útil?
Poleto – Evidente. Isso é uma realidade.
Veja – A quem você narrou esta história?
Poleto – Eu? Narrei à minha mulher e ao meu filho, Gregory, de 16 anos, que sabe perfeitamente dessa história.
Veja – Você tem a consciência absolutamente limpa de que você não participou de uma maneira efetiva desse transporte de dinheiro, sabendo o que estava fazendo…
Poleto – Lógico, imagina… Jamais iria pegar um vôozinho com um milhão de dólares dentro de um avião e transportar. Isso não é da minha índole.
Veja – Vocês estava atendendo a um pedido de um amigo.
Poleto – Lógico.
Veja – Você se arrepende disso?
Poleto – Olha, costumeiramente eu não viro as costas para os amigos. É da minha índole. A partir do momento que um amigo me pede ‘Vladimir traga”, eu…. Qual o problema se não levar?
Veja – De quem era o avião?
Poleto Não sei
Veja – Era um Seneca?
Poleto – Um Seneca. Um Seneca para quatro lugares.
Veja – Você me disse que destes quatro lugares, três estavam ocupados com as caixas.
Poleto – Exato e mais o meu.
Veja – Como você descreveria estas caixas. Como elas eram?
Poleto – Uma caixa escrita Red Label, a outra Black Label, a outra Havana Club. Todas do mesmo tamanho, da mesma textura…Idênticas..Só mudando o nome.
Veja – Você imaginou que tinha bebida dentro?
Poleto – É lógico. Conheço muito Black Label, Red Label, mas não conhecia o Havana Club. Mas aí o meu amigo Ralf Barquete me trouxe uma garrafa de Havana e presenteou-me. Disse: Vladimir, aqui tem um Havana Club pra ti.
Veja – Foi quando ele te contou a história.
Poleto – Exato.
Veja – Foi na casa dele?
Poleto – Não. Na minha.
Veja – Isso muito tempo depois?
Poleto – Não. Uma semana depois, por aí.
Veja – Isso aconteceu em setembro de 2002?
Poleto – Não me recordo. Eu sei que foi em 2002…
Veja – Durante a campanha?
Poleto – Durante a campanha.
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