A revista Veja traz em sua edição deste fim de semana reportagem sugerindo que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares tinha ligação com a máfia dos vampiros, o bilionário esquema de fraudes em licitações do Ministério da Saúde. A quadrilha começou a ser investigada no começo de 2004, quando agentes da Polícia Federal lançaram a Operação Vampiro e prenderam 17 envolvidos. Segundo estimativa da Polícia Federal, o esquema pode ter chegado a desviar a monumental cifra de R$ 2 bilhões.
A reportagem sugere que havia indícios sólidos de que o esquema tinha uma conexão com o caixa dois do PT. A revista informa que teve acesso aos 25 volumes do inquérito do caso, guardados na Polícia Federal em Brasília. De acordo com a matéria, o inquérito, de 7 mil páginas, traz depoimentos e transcrições de escutas, mostrando que havia ligações entre a máfia dos vampiros e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O elo seria o lobista Laerte de Arruda Corrêa Junior.
As investigações mostraram que Laerte Corrêa, quando estava preste a ser preso, tentou transferir 4,5 milhões de reais de suas empresas para as contas bancárias de sua mãe, mas a operação foi bloqueada em tempo. Ficou 136 dias preso na carceragem da Polícia Federal. Investigado, acabou denunciado pelo Ministério Público Federal e hoje responde a processo judicial por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
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A principal acusação contra Laerte Corrêa aparece no depoimento do empresário Sérgio Krishnamurt Noschang. Em seu depoimento à PF, Noschang contou que começou a ser procurado por Laerte Corrêa em setembro de 2003 e acabou sendo achacado por ele. Noschang afirmou que Laerte Corrêa apresentou-se como homem com “fortes ligações” com o PT, disse que tinha a atribuição de “arrecadar recursos” para o partido e, com base nessa tenebrosa introdução, começou a oferecer seus “serviços de consultoria”. Procurado pela reportagem da revista, Noschang não quis falar sobre o assunto, mas por meio de sua advogada, Mary Livingston, disse que mantém tudo o que disse à PF e nega ter dado dinheiro ao lobista.
Os detalhes da conversa entre o lobista e o empresário aparecem numa escuta telefônica realizada em 2004. Na ocasião, Laerte Corrêa narra seu encontro com o empresário Sérgio Noschang. Seu interlocutor é Jaisler Jabour, um dos acusados de comandar a quadrilha dos vampiros e pai da modelo Ellen Jabour. Laerte Corrêa declara a Jabour que a conversa foi “fantástica” e conta que não terá de “tirar dinheiro” do empresário.
“Nós vamos ganhar dinheiro dele”, diz. No trecho mais explícito de suas intenções, relata ter falado ao empresário que sua taxa não poderia ser de 6%, que teria de cobrar 10%. A razão é que 6% de tudo o que cobrasse já tinha destino previamente selado. “Eu não posso com 6. Eu tenho de mandar 6 para um lugar”, diz. Mais adiante, ele volta ao assunto e repete: “Eu tenho de levar xis para tal lugar. Esse xis tem de ir”. Segundo a Veja, há vários indícios de que “tal lugar” ou “um lugar” é o caixa dois do PT então manipulado por Delúbio Soares.
Além de examinar os 25 volumes do inquérito, a revista entrevistou dois integrantes da quadrilha, que teria reforçado a suspeita de que Laerte Corrêa se ocupava em achacar e reservar uma parcela do achaque ao PT. Os dois, que também chegaram a ficar presos na Polícia Federal por envolvimento com o esquema, falaram à revista com a condição de que sua identidade não fosse revelada.
Eles teriam dito a Veja que Laerte Corrêa se aproximou da quadrilha no segundo semestre de 2003, e afirmado a eles que sua missão era arrecadar dinheiro para o caixa petista. “Laerte ligava a todo momento para Delúbio na minha frente, para contar detalhes do que estava acontecendo”, contou um deles. Quando o escândalo dos vampiros veio à tona, em maio de 2004, Delúbio Soares admitiu que tivera contato com Laerte Corrêa, mas apenas isso. “O Laerte prestava consultoria – é assim que ele falava – para os laboratórios. Até então não havia nada que depusesse contra ninguém”, afirmou Delúbio, na época.
Laerte Corrêa nega que tenha se associado à máfia dos vampiros, que tenha achacado o empresário Sérgio Noschang ou que tenha arrecadado dinheiro para o PT. “Isso tudo é uma fantasia. Falam isso tentando me atingir”, diz.
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