O ex-governador José Serra ainda nem falou, mas a página do PSDB na internet
já divulga a íntegra do discurso que o pré-candidato tucano fará em instantes.
“Quero ser o presidente da união”, dirá o tucano num discurso com críticas
indiretas ao governo Lula e no qual destaca a origem humilde de seus pais,
imigrantes italianos.
Leia a íntegra:
Veja discurso do
pré-candidato José Serra
“O BRASIL PODE MAIS
Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida;
falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no
Brasil. E mostrar minha disposição de assumir esta caminhada. Uma caminhada que
vai ser longa e difícil mas que com a ajuda de Deus e com a força do povo
brasileiro será com certeza vitoriosa.
Alguns dias atrás, terminei meu
discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o
Brasil pode mais. Quatro palavras, em meio a muitas outras. Mas que
ganharam destaque porque traduzem de maneira simples e direta o sentimento de
milhões de brasileiros: o de que o Brasil, de fato, pode mais. E é isto que está
em jogo nesta hora crucial!
Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro
alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o
direito de votar para presidente, vivemos hoje num país sem censura e com uma
imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova
Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o
Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou
a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também
conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura
mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido.
Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na
escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente
para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de
um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas
são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós
somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para
essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos
orgulhar disso.
Mas, se avançamos, também devemos admitir que ainda falta muito por
fazer. E se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil,
uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.
Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los,
sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento
para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia
Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos
respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.
Democracia e
Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e
inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem,
coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da
política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei
agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as
minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus
amigos e amigas, pode mais.
Governos, como as pessoas, têm que ter alma. E a alma que inspira nossas
ações é a vontade de melhorar a vida das pessoas que dependem do estudo e do
trabalho, da Saúde e da Segurança. Amparar os que estão desamparados.
Sabem quantas pessoas com alguma deficiência física existem no Brasil?
Mais de 20 milhões – a esmagadora maioria sem o conforto da acessibilidade aos
equipamentos públicos e a um tratamento de reabilitação. Os governos, como as
pessoas, têm que ser solidários com todos e principalmente com aqueles que são
mais vulneráveis.
Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a
austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos.
Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos
trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores
públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos
pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado
dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e
serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento,
a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza.
O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não
representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a
nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra
ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na
solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de
todos.
Ninguém deve esperar que joguemos estados do Norte contra estados do Sul,
cidades grandes contra cidades pequenas, o urbano contra o rural, a indústria
contra os serviços, o comércio contra a agricultura, azuis contra vermelhos,
amarelos contra verdes. Pode ser engraçado no futebol. Mas não é quando se
fala de um País. E é deplorável que haja gente que, em nome da política,
tente dividir o nosso Brasil.
Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma
Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não
pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em
qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca
excluindo. O Brasil tem grandes carências. Não pode perder energia com disputas
entre brasileiros. Nunca será um país desenvolvido se não promover um equilíbrio
maior entre suas regiões. Entre a nossa Amazônia, o Centro Oeste e o
Sudeste. Entre o Sul e o Nordeste. Por isso, conclamo: Vamos juntos.
O Brasil pode mais. O desenvolvimento é uma escolha. E faremos essa escolha.
Estamos preparados para isso.
Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não
o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo.
Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero
todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum.
Na Constituinte fiz a emenda que permitiu criar o FAT, financiar e
fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego – que hoje beneficia 10
milhões de trabalhadores. Todos os partidos e blocos a apoiaram. No
ministério da Saúde do governo Fernando Henrique tomei a iniciativa de
enviar ou refazer e impulsionar seis projetos de lei e uma emenda constitucional
– a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de
Saúde, a implantação dos genéricos, a proibição do fumo nos aviões e da
propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à
falsificação de remédios e a PEC 29, que vinculou recursos à Saúde nas três
esferas da Federação – todos, sem exceção, aprovados pelos parlamentares
do governo e da oposição. É assim que eu trabalho: somando e unindo, visando ao
bem comum. Os membros do Congresso que estão me ouvindo, podem testemunhar: suas
emendas ao orçamento da Saúde eram acolhidas pela qualidade, nunca devido à sua
filiação partidária.
Se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem
discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao
diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de
hostilizá-las. Vamos valorizar o talento, a honestidade e o patriotismo em vez
de indagar a filiação partidária.
Minha história de vida e minhas convicções pessoais sempre estiveram
comprometidas com a unidade do país e com a unidade do seu povo. Sou filho de
imigrantes, morei e cresci num bairro de trabalhadores que vinham de todas as
partes, da Europa, do Nordeste, do Sul. Todos em busca de oportunidade e de
esperança.
A liderança no movimento estudantil me fez conhecer e conviver com todo o
Brasil logo ao final da minha adolescência. Aliás, na época,
aprendi mesmo a fazer política no Rio, em Minas, na Bahia e em Pernambuco, aos
21 anos de idade. O longo exílio me levou sempre a enxergar e refletir sobre o
nosso país como um todo.
Minha história pessoal está diretamente vinculada à valorização do
trabalho, à valorização do esforço, à valorização da dedicação. Lembro-me do meu
pai, um modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de
jornada de trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos
domingos. Só não trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava
de ganhar o dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo,
digno. Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor
familiar de um trabalhador: ele carregava caixas de frutas para que um dia eu
pudesse carregar caixas de livros.
E eu me esforço para tornar digno o trabalho de todo homem e mulher, do
ser humano como ele foi. Porque vejo a imagem de meu pai em cada trabalhador. Eu
a vi outro dia, na inauguração do Rodoanel, quando um dos operários fez questão
de me mostrar com orgulho seu nome no mural que eu mandei fazer para
exibir a identidade de todos os trabalhadores que fizeram aquela obra
espetacular. Por que o mural? Por justo reconhecimento e porque eu sabia que
despertaria neles o orgulho de quem sabe exercer a profissão. Um momento de
revelação a si mesmos de que eles são os verdadeiros construtores nesta
nação.
Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de
esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando
governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada
da quarta série. Ia reencontrar-me comigo mesmo. Porque tudo o que eu sou
aprendi em duas escolas: a escola pública e a escola da vida pública. Aliás, e
isto é um perigo dizer, com freqüência uso senhas de computador baseadas no nome
de minhas professoras no curso primário. E toda vez que escrevo lembro da sua
fisionomia, da sua voz, do seu esforço, e até das broncas, de um puxão de
orelhas, quando eu fazia alguma bagunça.
Mas é por isso tudo que sempre lutei e luto tanto pela educação dos
milhões de filhos do Brasil. No país com que sonho para os meus netos, o melhor
caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não
a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa:
bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades
esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a
condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem
declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel. Serão
necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter
essa nova Educação em que o filho do pobre freqüente uma escola tão boa
quanto a do filho do rico. Esse é um compromisso.
É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a
estagnação da escolaridade entre os adolescentes. Para essa faixa de
idade, embora não exclusivamente para ela, vamos turbinar o ensino técnico
e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é
castigada pela falta de oportunidades de subir na vida. E vamos fazer de
forma descentralizada, em parcerias com estados e municípios, o que
garante uma vinculação entre as escolas técnicas e os mercados locais, onde os
empregos são gerados. Ensino de qualidade e de custos moderados, que
nos permitirá multiplicar por dois ou três o número de alunos no país inteiro,
num período de governo. Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode
mais.
Podemos e devemos fazer mais pela saúde do nosso povo. O SUS foi um
filho da Constituinte que nós consolidamos no governo passado, fortalecendo a
integração entre União, Estados e Municípios; carreando mais recursos para
o setor; reduzindo custos de medicamentos; enfrentando com
sucesso a barreira das patentes, no Brasil e na Organização Mundial do
Comércio; ampliando o sistema de atenção básica e o Programa Saúde
da Família em todo o Brasil; prestigiando o setor filantrópico
sério, com quem fizemos grandes parcerias, dos hospitais até a
prevenção e promoção da Saúde, como a Pastoral da Criança; fazendo a melhor
campanha contra a AIDS do mundo em desenvolvimento; organizando os mutirões;
fazendo mais vacinações; ampliando a assistência às pessoas com
deficiência; cerceando o abuso do incentivo ao cigarro e ao tabaco em
geral. E muitas outras coisas mais. De fato, e mais pelo que aconteceu na
primeira metade do governo, a Saúde estagnou ou avançou pouco. Mas a
Saúde pode avançar muito mais. E nós sabemos como fazer isso acontecer.
Saúde é vida, Segurança também. Por isso, o governo federal deve assumir
mais responsabilidades face à gravidade da situação. E não tirar o corpo fora
porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal
nessa área. Tenho visto gente criticar o Estado Mínimo, o Estado Omisso.
Concordo. Por isso mesmo, se tem área em que o Estado não tem o direito de ser
mínimo, de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime
organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo
cabe às autoridades federais . Ou o governo federal assume de vez, na
prática, a coordenação efetiva dos esforços nacionalmente, ou o Brasil não tem
como ganhar a guerra contra o crime e proteger nossa juventude.
Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo
tráfico e pela difusão do uso das drogas? As drogas são hoje uma praga nacional.
E aqui também o Governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação
para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes da morte. Mais ainda
se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política. Os jovens são as
grandes vítimas. Por isso mesmo, ações preventivas, educativas, repressivas e de
assistência precisam ser combinadas com a expansão da qualificação profissional
e a oferta de empregos.
Uma coisa que precisa acabar é a falsa oposição entre construir escolas e
construir presídios. Muitas vezes, essa é a conversa de quem não faz nem uma
coisa nem outra. É verdade que nossos jovens necessitam de boas escolas e de
bons empregos, mas se o indivíduo comete um crime ele deve ser punido. Existem
propostas de impor penas mais duras aos criminosos. Não sou contra, mas
talvez mais importante do que isso seja a garantia da punição. O problema
principal no Brasil não são as penas supostamente leves. É a quase certeza da
impunidade. Um país só tem mais chance de conseguir a paz quando existe a
garantia de que a atitude criminosa não vai ficar sem castigo.
Eu quero que meus netos cresçam num país em que as leis sejam aplicadas
para todos. Se o trabalhador precisa cumprir a lei, o prefeito, o governador e o
presidente da República também tem essa obrigação. Em nosso país, nenhum
brasileiro vai estar acima da lei, por mais poderoso que seja. Na
Segurança e na Justiça, o Brasil também pode mais.
Lembro que os investimentos governamentais no Brasil, como proporção do
PIB, ainda são dos mais baixos do mundo em desenvolvimento. Isso compromete ou
encarece a produção, as exportações e o comércio. Há uma quase unanimidade
a respeito das carências da infra-estrutura brasileira: no geral, as estradas
não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do
caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito
deixaram de atender as necessidades. Tem gente que vê essas carências apenas
como um desconforto, um incômodo. Mas essa é uma visão errada. O PIB brasileiro
poderia crescer bem mais se a infra-estrutura fosse adequada, se
funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da
economia.
Um exemplo simples: hoje, custa mais caro transportar uma tonelada de
soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto
brasileiro até a China. Um absurdo. A conseqüência é menos dinheiro no bolso do
produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil. E
sobretudo menos empregos.
Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas
para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma
combinação perversa de falta de infra-estrutura, inadequações da política
macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do
déficit do balanço de pagamentos. Aliás, o valor de nossas
exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda
por nossas matérias primas. Mas vai ter de crescer mais. Temos de romper
pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista de
mercados. Vejam que dado impressionante: nos últimos anos, mais de 100
acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento
poderoso de abertura de mercados. Pois o Brasil, junto com o
MERCOSUL, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou
em vigência!
Da mesma forma, precisamos tratar com mais seriedade a preservação do
meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável. Repito aqui o que venho dizendo
há anos: é possível, sim, fazer o país crescer e defender nosso meio ambiente,
preservar as florestas, a qualidade do ar a contenção das emissões de gás
carbônico. É dever urgente dar a todos os brasileiros saneamento básico, que
também é meio ambiente. Água encanada de boa qualidade, esgoto coletado e
tratado não são luxo. São essenciais. São Saúde. São cidadania. A economia verde
é, ao contrário do que pensam alguns, uma possibilidade promissora para o
Brasil. Temos muito por fazer e muito o que progredir, e vamos fazê-lo.
Também não são incompatíveis a proteção do meio ambiente e o
dinamismo extraordinário de nossa agricultura, que tem sido a galinha de ovos de
ouro do desenvolvimento do país, produzindo as alimentos para nosso povo,
salvando nossas contas externas, contribuindo para segurar a inflação e ainda
gerar energia! Estou convencido disso e vamos provar o acerto dessa convicção na
prática de governo. Sabem por quê? Porque sabemos como fazer e porque o Brasil
pode mais!
O Brasil está cada vez maior e mais forte. É uma voz ouvida com
respeito e atenção. Vamos usar essa força para defender a autodeterminação
dos povos e os direitos humanos, sem vacilações. Eu fui perseguido
em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do
Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos
morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida.
Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões:
democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente
de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de
fome quando discordam do regime.
Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças
Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A
existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da
Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos
mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças
sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao
desenvolvimento tecnológico do país.
Como falei no início, esta será uma caminhada longa e difícil. Mas
manteremos nosso comportamento a favor do Brasil. Às provocações,
vamos responder com serenidade; às falanges do ódio que insistem em
dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no
futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os
adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.
O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham;
aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos
brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam
corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não
dispõem de uma “boquinha”; aos brasileiros que exigem ética na vida pública
porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou com alguma
maracutaia para subir na vida.
Este é o povo que devemos mobilizar para a nossa luta; este é o povo que
devemos convocar para a nossa caminhada; este é o povo que quer, porque assim
deve ser, conservar as suas conquistas, mas que anseia mais. Porque o Brasil,
meus amigos e amigas, pode mais. E, por isso, tem de estar unido. O Brasil é um
só.
Pretendo apresentar ao Brasil minha história e minhas idéias. Minha
biografia. Minhas crenças e meus valores. Meu entusiasmo e minha
confiança. Minha experiência e minha vontade.
Vou lhes contar uma coisa. Desde cedo, quando entrei na vida
pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade
política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício,
como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer
do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho
de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes,
porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma
sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou
vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se
compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que
vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer
acontecer.
O grande escritor mineiro Guimarães Rosa, escreveu: O correr da
vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Concordo.
É da coragem que a vida quer que nós precisamos agora.
Coragem para fazer um projeto de País, com sonhos, convicções e com
o apoio da maioria.
Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais
generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem
picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha
biografia, minha história política e com . esperança no nosso
futuro. E determinado a fazer a minha parte para construir um Brasil melhor.
Quero ser o presidente da união. Vamos juntos, brasileiros e brasileiras, porque
o Brasil pode mais.”
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