O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse, em depoimento espontâneo à CPI do Mensalão, que o publicitário Duda Mendonça mentiu à CPI dos Correios ao dizer que havia aberto uma conta no exterior a pedido dele. Valério negou ainda ter feito remessa de dinheiro para a conta aberta por Duda, em 2003, nas Bahamas, para receber os cerca de R$ 10,5 milhões que o PT lhe devia pela campanha eleitoral do ano anterior. E desafiou Duda para uma acareação.
O publicitário e sua sócia, Zilmar Fernandes, disseram à CPI dos Correios que, por solicitação de Valério e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, abriram uma conta no paraíso fiscal para receber esses recursos. “Fui procurado pelo Delúbio, que me incumbiu de pagar o Duda, por meio da Zilmar. Fiz os pagamentos à pessoa que ela indicou, o consultor financeiro de nome Jader”, rebateu Valério à CPI do Mensalão.
Jader, segundo os advogados de Valério, seria o doleiro mineiro Jader Kalid Antônio, que se apresentou como consultor financeiro e intermediário de Duda nos saques efetuados pelos policiais Luís Costa Lara, David Rodrigues Alves e pelo churrasqueiro Francisco de Assis Novaes nas contas da SMPB no Banco Rural. Os três sacaram, no total, R$ 6,75 milhões.
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O doleiro mineiro, contudo, afirmou ontem ao jornal O Estado de S.Paulo que não conhece Duda e não fez operações para ele. Jader Kalid também negou conhecer os três sacadores, embora depois tenha admitido que Lara e Novaes já trabalharam para ele.
Num depoimento que começou às 16h30, o empresário contestou que a conta tivesse sido aberta em 2003. De acordo com ele, Duda já era titular de conta bancária nas Bahamas. “ O pedido para remeter (os recursos) para fora foi dele, foi da dona Zilmar”, sustentou Valério. “Não orientei ninguém”, completou.
Cheques e dinheiro
No novo depoimento, Valério afirmou que entregou dinheiro e 22 cheques a Duda, de recursos retirados dos empréstimos tomados por suas empresas junto ao Banco Rural para o PT. Ele contou que se encontrou várias vezes com Zilmar, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Brasília. O empresário garantiu que esses R$ 15,5 milhões são “recursos derivados” dessas fontes
“Não tenho nenhum conhecimento ou poder para fazer alguém abrir conta no exterior. Por quê faria isso?”, contestou. Valério ressaltou que todos os repasses que fez estão sendo comprovados.
O empresário mineiro convalidou os faxes enviados pela SMP&B e apresentados por Duda à CPI dos Correios, numa confissão ao menos de crime de evasão de divisas. Segundo ele, os papéis serviam como comprovação, para Duda e para Delúbio, de que o dinheiro tinha sido remetido. “Existia uma contabilidade que era checada por Delúbio e por Zilmar Silveira, sócia de Duda”, sustentou.
Dirceuduto
Valério se pôs à disposição da CPI para uma acareação com o publicitário baiano. Contudo, ontem mesmo, os presidentes das CPIs dos Correios e do Mensalão, os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Amir Lando (PMDB-RO), descartaram a necessidade de, no momento, colocá-los frente a frente.
O empresário mineiro reclamou que foi abandonado pelo governo e disse ainda que o Palácio do Planalto tem agido no Congresso para proteger Duda e Zilmar, tratamento que não foi dado a ele.
Valério disse ainda ter sido usado pela cúpula do Partido dos Trabalhadores. "Fui usado pelo PT e cuspido para fora. É muito mais fácil acusar o publicitário Valério do que o marqueteiro Duda Mendonça. É muito mais fácil falar em "valerioduto" do que em “dirceuduto” e “PToduto”, afirmou, mencionando, além de Duda, o ex-ministro José Dirceu, que saberia de todas as transações, segundo ele.
Ele confirmou que sua mulher, Renilda Santiago, está tentando marcar uma audiência com Lula: “Acho que ela queria falar que o marido dela ajudou muito o partido e aí recebe o nome de valerioduto. Mas ninguém põe o nome de dirceuduto, PTduto, ninguém põe o nome dos beneficiários. É muito mais fácil jogar em cima do empresário, do que as pessoas virem e assumirem como o senhor Duda foi obrigado a assumir.”
Ao dizer que estão querendo pegá-lo para “cristo”, Valério teme morrer como Paulo César Farias. “A história do Brasil prova isso”, disse o empresário, se referindo ao ex-tesoureiro do presidente Fernando Collor, morto em 1996 em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Empréstimo a Lula
Valério negou ainda que tenha transferido dinheiro a Paulo Okamoto, presidente do Sebrae, para que ele quitasse um empréstimo que Lula teria contraído no PT. “Não, nunca”, afirmou em resposta ao questionamento. Ele negou também ter conhecimento de que parte dos recursos repassados a Duda teria sido para quitar dívidas da campanha do atual presidente da República.