Realizadas no auge das crises política e econômica e sob o efeito de novas regras, as eleições municipais infligiram ao PT a maior derrota de um partido desde a redemocratização. Mas os petistas não foram os únicos rejeitados. O novo mapa do poder municipal, que se torna realidade neste domingo (1º), com a posse dos novos prefeitos, expõe um país ainda mais dividido e contrariado com o discurso da política tradicional. Empresários ricos que tentaram passar a ideia de que não têm nada a ver com a política vão comandar cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Velho, casos de João Doria (PSDB), Alexandre Kalil (PHS) e Dr. Hildon (PSDB).
Com a participação inédita de 35 partidos políticos na última eleição, as prefeituras serão controladas por um número recorde de legendas: 31 (apenas PSTU, PCO, PCB e Novo não emplacaram prefeitos). No comando dos 92 municípios com mais de 200 mil eleitores, estão agora siglas como o PTN, o Solidariedade, o PSC, o PMN, de Rafael Greca, em Curitiba, o PHS, de Kalil, na capital mineira, e o PRB, de Marcelo Crivella.
Entre os prefeitos eleitos, 920 conseguiram a reeleição e 55 disputaram o cargo enquanto ocupavam o posto de deputados federais ou estaduais. Negros e mulheres continuam sub-representados no comando das prefeituras. Dos 5.545 prefeitos eleitos, 4.903 são homens; apenas 642 são mulheres. Só uma capital brasileira será conduzida por uma prefeita, Boa Vista, em Roraima, com a reeleita Teresa Surita (PMDB), que já havia sido a única vitoriosa na eleição anterior. Outras duas vão administrar cidades com mais de 200 mil eleitores: Raquel Lyra (PSDB), em Caruaru, e Paula Mascarenhas (PSDB), em Pelotas (RS).
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A grande maioria dos novos prefeitos se declara branca e tem de 45 a 54 anos. Eleito aos 88 anos, o professor Josibias Cavalcanti (PSD) é o mais velho do país e vai comandar, pela terceira vez, o município de Catende, na Mata Sul de Pernambuco, com 38 mil habitantes. Suas outras duas passagens pelo cargo foram ainda nas décadas de 60 e 70. Já o prefeito mais jovem é Leonardo José Caldas Lima (PRB). Com 21 anos, o novo administrador da cidade de Milagres do Maranhão (MA) recebeu 52,44% dos votos válidos.
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Os números mostram a dificuldade de negros e indígenas chegarem ao poder em suas cidades. Em todo o Brasil, 3.906 prefeitos se apresentam como brancos (70,4%); 1.513 como pardos (27%); apenas 93 informaram à Justiça eleitoral que se consideram negros (1,6%), 27 (0,4%), amarelos, e seis (0,1%), indígenas. Um deles é o professor Isaac Pyânko (PMDB), da etnia Ashaninka, o primeiro prefeito indígena do Acre. Ele vai comandar o município de Marechal Thaumaturgo, com 16 mil habitantes. Somente dois prefeitos assumem publicamente que são homossexuais: Edgar de Souza (PSDB), reeleito em Lins (SP), e Wirley Rodrigues (PHS), o Têko, de Itapecerica (MG), que enfrentou preconceito e homofobia e vai comandar o seu município, de 21 mil habitantes, pela primeira vez.
Com a pulverização dos votos, o partido que mais perdeu espaço nas administrações municipais foi o PT. A legenda recebeu 17 milhões de votos a menos em comparação com 2012, perdeu mais de 60% das prefeituras que controlava e governará apenas 15% da população que estava sob sua gestão nos municípios anteriormente. Das 638 cidades que administrava, a legenda só conseguiu manter o comando sobre 109, perdendo para o PMDB, o PSDB e outras 23 legendas, sobretudo pequenas e médias.
Enquanto o PT manteve o controle sobre 17% de seus municípios, tucanos tiveram o dobro de aproveitamento: conquistaram 34% das localidades que já governavam. O único petista a vencer em uma capital foi Marcus Alexandre. Com a vitória, ele repetiu o cenário vivido pelo PT em 1985. Com uma campanha desassociada do partido, baseada na cor laranja e sem a tradicional estrela, Marcus vai comandar Rio Branco pela segunda vez.
Os milionários
Um em cada cinco prefeitos declara possuir patrimônio superior a R$ 1 milhão. Do total, 55 informaram bens acima de R$ 10 milhões e, desses, 29 dizem possuir mais de R$ 20 milhões. A maioria está em Minas Gerais, estado que tem 161 prefeitos “milionários”. Em seguida, aparecem São Paulo, com 137, Rio Grande do Sul, com 85, Paraná, com 83, Bahia, com 80, Goiás, com 73, e Mato Grosso, com 63.
Das 26 capitais brasileiras, 11 serão administradas por prefeitos com mais de R$ 1 milhão em bens declarados. São elas: Belém (Zenaldo Coutinho, do PSDB); Belo Horizonte (Kalil, do PHS); Campo Grande (Marquinhos Trad, do PSD); Cuiabá (Emanuel Pinheiro, do PMDB); Goiânia (Iris Rezende, do PMDB); João Pessoa (Luciano Cartaxo, do PSD); Natal (Carlos Eduardo, do PDT); Palmas (Carlos Amastha, do PSB); Porto Velho (Dr. Hildon, do PSDB); Salvador (ACM Neto, do DEM); e São Paulo (João Doria, do PSDB).
Os partidos que mais têm prefeitos com patrimônio acima de R$ 1 milhão são o PSDB (206), o PMDB (205), o PSD (107), o PP (81), o PSB (79), o PDT (66), o PR (60), o DEM (53), o PTB (49), o PT (32) e o PV (29). Abaixo, os cinco prefeitos mais ricos:
Vittorio Medioli (PHS) – Betim (MG) R$ 352,5 milhões
Antidio Lunelli (PMDB) – Jaraguá do Sul (SC) R$ 280,5 milhões
João Doria (PSDB) – São Paulo (SP) R$ 179,7 milhões
Francis Maris (PSDB) – Cáceres (MT) R$ 60,1 milhões
Toni Mafini (PSDB) – Novo Mundo (MT) R$ 55,5 milhões
Base aliada
Dos 26 prefeitos eleitos nas capitais neste ano, 14 terão maioria na câmara municipal no início da legislatura. Ao menos sete poderão enfrentar problemas para aprovar projetos, já que a oposição será mais numerosa. Veja a situação de cada um deles:
Aracaju
Edvaldo Nogueira (PCdoB)
Base aliada 8
Oposição 14
Independentes ou indefinidos 2
Belém
Zenaldo Coutinho (PSDB)
Base aliada 18
Oposição 12
Independentes ou indefinidos 5
Belo Horizonte
Alexandre Kalil (PHS)
Base aliada 14
Oposição 16
Independentes ou indefinidos 11
Boa Vista
Teresa Surita (PMDB)
Base aliada 8
Oposição 13
Campo Grande
Marquinhos Trad (PSD)
Base aliada 8
Oposição 17
Independentes ou indefinidos 4
Cuiabá
Emanuel Pinheiro (PMDB)
Base aliada 11
Oposição 14
Curitiba
Rafael Greca (PMN)
Base aliada 20
Oposição 9
Independentes ou indefinidos 9
Florianópolis
Gean Loureiro (PMDB)
Base aliada 12
Oposição 5
Independentes ou indefinidos 6
Fortaleza
Roberto Cláudio (PDT)
Base aliada 31
Oposição 10
Independentes ou indefinidos 2
Goiânia
Iris Rezende (PMDB)
Base aliada 16
Oposição 19
João Pessoa
Luciano Cartaxo (PSD)
Base aliada 16
Oposição 11
Macapá
Clécio Luís (Rede)
Base aliada 10
Oposição 13
Maceió
Rui Palmeira (PSDB)
Base aliada 13
Oposição 7
Independente ou indefinido 1
Manaus
Arthur Neto (PSDB)
Base aliada 19
Oposição 18
Independentes ou indefinidos 5
Natal
Carlos Eduardo (PDT)
Base aliada 11
Oposição 3
Independentes ou indefinidos 14
Palmas
Amastha (PSB)
Base aliada 8
Oposição 6
Independentes ou indefinidos 5
Porto Alegre
Nelson Marchezan Jr (PSDB)
Base aliada 11
Oposição 7
Independentes ou indefinidos 18
Porto Velho
Dr. Hildon (PSDB)
Base aliada 4
Oposição 17
Recife
Geraldo Julio (PSB)
Base aliada 31
Oposição 6
Independentes ou indefinidos 2
Rio Branco
Marcus Alexandre (PT)
Base aliada 12
Oposição 5
Rio de Janeiro
Marcelo Crivella (PRB)
Base aliada 36
Oposição 8
Independentes ou indefinidos 8
Salvador
ACM Neto (DEM)
Base aliada 30
Oposição 10
Independentes ou indefinidos 3
São Luís
Edivaldo Holanda Jr (PDT)
Base aliada 24
Oposição 7
São Paulo
João Doria (PSDB)
Base aliada 34
Oposição 11
Independentes ou indefinidos 10
Teresina
Firmino Filho (PSDB)
Base aliada 22
Oposição 3
Independentes ou indefinidos 4
Vitória
Luciano (PPS)
Base aliada 11
Oposição 3
Independente ou indefinido 1
Número de candidatos por partido
PMDB – 2.382
PSDB – 1.757
PSD – 1.368
PP – 1.157
PSB – 1.093
PT – 1.004
População governada por partido (milhões)
PSDB – 48,8
PMDB – 29
PSB – 16,7
PSD – 13,6
PDT – 12,5
DEM – 10,9
PP – 9,8
PRB – 9,7
PL – 8
PTB – 6,9
PT – 5,8