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A anunciada saída de José Sarney (PMDB-AP) do jogo político – conforme o presidente do Senado anunciou ao jornal O Globo – dá tempo para o governo costurar a eleição de um terceiro nome para a presidência do Senado. A escolha de um terceiro nome é uma espécie de "plano B", caso não seja possível ao mesmo tempo reeleger Sarney e contentar Renan Calheiros (PMDB-AL), que disputa o cargo com o presidente do Senado. O governo pretende pacificar a disputa e não quer que se repitam as derrotas creditadas por muitos à briga entre Renan e Sarney. Enquanto isso, o Congresso virou cenário de um jogo de intrigas alimentado pelas assessorias de Renan e do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Tudo se transformou em motivo para um festival de desavenças, que resultou em derrotas para o governo em votações ou em um elevado custo para a aprovação de projetos. Leia também Os aliados de Renan acusam João Paulo de vazar para a imprensa reuniões do presidente, informações desencontradas e até mesmo erradas. Teria sido assim na matéria publicada pela revista Veja sobre uma reunião com a presença do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na qual teria sido acertado o apoio a João Paulo – e, por tabela, a Sarney. Aliados de Renan afirmam que tudo isso foi “plantado” pelo presidente da Câmara, que também seria beneficiado pela aprovação de uma emenda constitucional que permita a reeleição no Congresso. Já os líderes da base governista na Câmara acusam Renan de espalhar boatos apenas com o objetivo de minar o prestígio de João Paulo. Nessa empreitada, dizem que Renan teria o apoio do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Mercadante estaria interessando em criar problemas para João Paulo, com quem disputará a indicação do PT para governador de São Paulo em 2006. O detalhe é que João Paulo tem o apoio de José Dirceu, que sempre solta um comentário maldoso sobre as ações, às vezes desastrosas, de Mercadante no Senado. Mercadante não tem bom trânsito entre os colegas senadores de outros partidos. Por causa disso, no primeiro ano do governo Lula foi Sarney quem teve papel decisivo nas negociações para aprovação de projetos prioritários, sobretudo a reforma da Previdência e as mudanças no sistema tributário. A disputa de Renan com Sarney, de certa forma, é o prolongamento de outra, também intensa, travada dentro do Palácio do Planalto: a briga de José Dirceu (que apoia Sarney) e Aldo Rebelo (que apoia Renan) pela coordenação política do governo. Depois do resultado das urnas, em outubro, o presidente Lula fará uma reforma ministerial. Como já declarou várias vezes, Lula não é pautado pela imprensa, mas se sabe que dificilmente Aldo Rebelo permanecerá na Coordenação Política. O PT reivindica o cargo e tem um argumento infalível: é uma necessidade vital do partido ter a coordenação política nos dois anos em será pavimentada a estrada para a reeleição do presidente Lula. A reeleição de Lula também é o argumento do PT para tentar abater Renan da presidência do Senado. |