*Sylvia Romano
Do jeito que a coisa anda, daqui a pouco vamos ter de nos identificar através das palavras honesto ou desonesto. A impunidade grassa em todos os níveis, todo mundo é inocente até que se prove o contrário, mas ficou muito fácil provar a inocência, mesmo que ela não exista. Os escândalos estão aí todos os dias, provas existem, evidências são incontestáveis, mas mesmo assim as penalidades nunca aparecem e, quando surgem, não são aplicadas. A função dos advogados está cada vez mais complicada. Os melhores profissionais não são mais aqueles que defendem a inocência pura e simplesmente, mas sim os que conseguem, apesar de todas as provas em contrário, convencer que o que está provado não é bem aquilo e que a única verdade é aquela que interessa ao seu cliente.
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Tempos de impunidade… A Justiça pode ser corrompida, o poder está nas mãos de quem não se pode mais confiar. Em momentos assim, a honestidade passa a ser atestado de covardia, uma vez que não se correm riscos. Mas quem garante que o próprio honesto não venha a ser culpado por interesses desonestos, e que essa mínima parcela venha a ser acusada por atos que não sejam seus?
Num período como o que atravessamos, tudo é possível, até mesmo o envolvimento em fatos que não venham a nos dizer respeito. É o caos! – expressão que costumo usar para definir os tempos atuais. Tempos difíceis e confusos quando não se sabe mais o que é certo ou errado, quando os bons exemplos ficam cada vez mais escassos e não se sabe mais em quem confiar, em quem acreditar, se o cinismo hoje faz parte do nosso dia-a-dia, se a mentira é uma constante, se os nossos líderes cotidianamente nos enganam, se as denúncias são inócuas, se não se busca a verdade, se não se luta pelo direito… O que restará à sociedade?
Compartilhar do botim, procurar fazer parte do time dos corruptos, ou assistir a tudo pacificamente? Sim, porque ainda achamos que os desmandos não nos dizem respeito, já que imaginamos que eles não estão nos atingindo diretamente.
Essa postura irresponsável de uma pequena parcela alienada, ainda não corrompida, que se mantém ao largo de problemas tão contundentes que nos afetam e que comprometem todo um futuro, ainda vai promover o retrocesso a um momento histórico recente, onde as liberdades foram cerceadas pelo poder das forças políticas usurpadas – poder esse que, se comparado à corrupção dos tempos atuais, se equipararia a um mero roubo de galinha, como se dizia no tempo de nossos avós.
*Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados,
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