A TV Brasil, veículo da recém criada estatal Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), deixou de transmitir para Brasília, Rio de Janeiro, Maranhão e outros estados, na última segunda-feira (22), o programa "Roda Viva", principal programa de entrevistas da TV Cultura. A emissora veiculava semanalmente o programa da TV Cultura, mas pela primeira vez não o fez.
No lugar da entrevista foi veiculado um compacto com destaques do ano do programa "atitude.com", voltado para o público jovem, entre eles trechos de um show da cantora Maria Bethânia. As informações são da colunista Mônica Bergamo, e é a primeira nota publicada em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo, edição desta quinta-feira (25).
Integrante do conselho executivo da emissora, o ex-governador de São Paulo Cládio Lembo diz que o episódio deve ser alvo de "indagação" no colegiado. Segundo a coluna do jornal impresso, a presidente da EBC, a jornalista Tereza Cruvinel, declarou que não foi "deliberada" a decisão de não transmitir a entrevista com Protógenes, mas um equívoco da equipe da grade de programação ao imaginar que a TV Cultura reprisaria atrações "antigas" nesta época do ano.
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Cruvinel disse ainda que a entrevista com Protógenes no "Roda Viva" será programada para veiculação neste domingo (28), às 16h.
Figura polêmica
O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz ficou nacionalmente conhecido depois de deflagrada a Operação Satiagraha, que desbatatou um bilionário esquema de crimes financeiros. Com um relatório considerado excessivo e baseado em inferências, Protógenes conseguiu a prisão de nomes como o economista Daniel Dantas – dono do Grupo Opportunity, núcleo do esquema –, do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Mas um habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, os livrou da cadeia, dando início a um mal-estar entre PF e Justiça, que acabou respingando no Executivo (leia aqui e aqui). Toda a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi afastada pelo presidente Lula, uma vez que foi descoberta a participação clandestina da Abin na Satiagraha, inclusive com a utilização de grampos telefônicos não autorizados judicialmente. Alguns deles prestaram depoimento à CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas, na Câmara.
A queda-de-braço entre o ministro e o juiz deferal Fausto De Sanctis, que deferia rapidamente os pedidos de prisão de Protógenes, contrariando Gilmar Mendes, ganhou amplo destaque na imprensa e no Congresso Nacional. De um lado, defensores de Protógenes e De Sanctis, que viam na dupla a mão firme da lei contra as práticas criminosas de grupos econômicos poderosos. De outro, defensores do amplo direito de defesa e até mesmo pessoas ligadas a Dantas, como o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que se declara amigo do economista.
Depois de diversos desdobramentos do caso, tanto no âmbito judicial quanto no Congresso, ou ainda em questões internas da PF e da Abin, Protógenes foi desligado da Divisão de Inteligência da PF – departamento de sua preferência e no qual é especialista. Ele está à disposição do Departamento de Recursos Humanos do órgão para remanejamento. (Fábio Góis)
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