Passados quase cinco anos anos de investigações e depois de mais de 50 fases, a Operação Lava Jato recuperou nesta semana quase R$ 4 milhões de réus em busca de redenção. Dizendo-se arrependidos dos crimes que cometeram, três ex-funcionários da Delta Construções, empresa sediada no Rio de Janeiro, devolveram R$ 3,75 milhões para tentar reduzir suas penas ou até ser absolvidos.
Depois de ouvir testemunhas de acusação e defesa, além dos próprios réus, o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, já avançou no processo em questão e deve proferir sentença nos próximos dias. Os réus foram alvejados na Operação Saqueador, uma das fases da Lava Jato deflagrada em junho de 2016.
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Naquela ocasião, foram presos o então dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e operadores do esquema de corrupção, entre eles Carlinhos Cachoeira, cuja teia de negócios levou à cassação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) quatro anos antes, e Adir Assad. Cavendish é um dos personagens que, em setembro de 2009, ao lado figuras como o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), festejaram em um restaurante de luxo em Paris com guardanapos de luxo na cabeça – símbolo das negociatas desvendadas no petrolão fluminense, o episódio ficou conhecido como “farra dos guardanapos” (imagem acima). Um dos principais alvos da Lava Jato, Cabral já foi sentenciado por diversos crimes e acumula condenações que ultrapassam cem anos de cadeia.
O dinheiro foi desviado em esquema de corrupção que envolvem lavagem de dinheiro em obras públicas, como a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Os valores da devolução já foram depositados em juízo.
Segundo reportagem da Globonews, o réu Carlos Roberto Duque Pacheco disse a Marcelo Bretas estar arrependido por ter cometido crimes e demonstrou interesse em restituir parte dos danos de suas ações. Nesse sentido, o réu diz ter ajudado investigadores a apurar os crimes quando confessou ter autorizado sua ex-funcionária e co-ré, Cláudia Salgado, a preparar contratos fictícios com empresas-fantasma de Assad. Ele depositou R$ 2,5 milhões e pediu que, caso não fosse absolvido, tivesse pena reduzida em dois terços, o máximo que a lei permite.
“Pacheco também afirma que auxiliou na apuração do suposto crime de lavagem de dinheiro desviado das obras do Maracanã ao confirmar que Cavendish havia lhe dito que parte do montante dos contratos com as empresas de Adir Assad – um total de pouco mais de 2 R$ milhões – teriam sido utilizado no pagamento de propina. Segundo Pacheco, a propina foi paga por causa de um acerto feito entre Cavendish e o então governador do Rio, Sérgio Cabral, na licitação das obras do Estádio do Maracanã”, diz trecho da matéria assinada por Marcelo Gomes.
Já Aluízio Alves de Souza, outro ex-diretor da Delta, expressou “profundo arrependimento” e também anexou ao seu pedido de absolvição depósito judicial de R$ 1 milhão como forma de restituir danos aos cofres públicos. Cláudia Salgado fez o mesmo e apresentou à Justiça comprovante de depósito de R$ 250 mil. O MPF deve se manifestar sobre os pedidos dos réus nos próximos dias.
Mecanismo
O esquema tinha o seguinte mecanismo: a Delta utilizava empresas de fachada montadas por Cachoeira e Assad com o objetivo de lavar centenas de milhões saqueados das obras públicas. O dinheiro foi empregado no pagamento de propina para agentes públicos como Cabral, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), como o próprio Cavendish já admitiu em depoimento a investigadores. Em um dos relatos, ex-executivos da Delta disseram que o ex-governador pedia propina no valor de 5% sobre o faturamento de cada empreendimento, indicando seu ex-secretário de governo, Wilson Carlos, como interlocutor as empresas envolvidas nas operações.
Em dezembro de 2017, executivos ligados à Odebrecht, à Carioca Engenharia e à própria Delta relataram detalhes do pagamento de propina a políticos fluminenses em decorrência da reforma do Maracanã e de obras do Parque das Favelas e do Arco Metropolitano, todas no Rio. Os depoimentos foram prestados a Marcelo Bretas e revelaram esquema de manipulação dos editais com direcionamento de licitações, de modo a garantir a divisão dos empreendimentos entre empreiteiras apontadas pela organização.
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Uma informação prestada por Cavendish a autoridades da Lava Jato ilustra o poder de fogo do esquema. Segundo o empreiteiro, um anel com um diamante de quatro quilates de R$ 846 mil foi ofertado como presente à esposa de Cabral – Adriana Ancelmo, também condenada e presa como beneficiária do esquema – a título de “primeira parcela” de uma propina que chegaria a estimados R$ 3,5 milhões. Era 2009 e o grupo estava em Nice, na França, para comemorar o aniversário da então primeira-dama.
Meses depois, a Delta era selecionada para o consórcio que tocou as obras do Maracanã. “Deixei claro que [o anel] não era um presente. Acabou sendo um anel de compromisso”, disse Cavendish no final de 2017.
Ao todo, 23 investigados foram enquadrados nos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
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