Antonio Vital |
Não vai ser fácil para o governo aprovar, no orçamento do ano que vem, a destinação de R$ 1 bilhão para o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. No Congresso, a proposta é vista com desconfiança por muita gente e até mesmo quem apóia a idéia não está convencido da viabilidade técnica da obra. O líder da minoria no Senado, Sérgio Guerra (PSDB-PE), apesar de representar Pernambuco, um estado que não é da bacia do São Francisco e mesmo assim será beneficiado pela obra, é um exemplo dessa postura. "Eu sou favorável à transposição, mas sob três condições: não causar prejuízos ambientais, não permitir a exportação de água para irrigação de regiões distantes e ser sustentável, do ponto de vista financeiro, a longo prazo", explicou o senador ao Congresso em Foco. Leia também Guerra é um dos maiores especialistas do Congresso em orçamento e afirma temer que a transposição se torne mais uma obra inacabada. Seis estados – e mais o Distrito Federal – estão na bacia do São Francisco: Bahia, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Nesses lugares, a proposta é vista com reservas e as bancadas no Congresso estão divididas. Os governos da Bahia, Minas Gerais e Alagoas já se posicionaram contra a proposta alegando que, antes, é preciso revitalizar e recuperar o São Francisco. Até mesmo o senador Aelton Freitas (PL-MG), ligado ao vice-presidente José Alencar, se diz favorável à proposta, mas apresenta condicionantes. "Enquanto senador por Minas Gerais, vejo com bons olhos as ambições do projeto, desde que sejam garantidas, primeiramente, as obras de revitalização do rio, recuperação das nascentes e conservação do solo às suas margens", disse. A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) é totalmente contra. "Nunca foi apresentado um projeto técnico para justificar a proposta, que pode se tornar mais uma obra faraônica que não vai resolver o problema da seca", disse. A senadora também defende a recuperação do São Francisco antes da transposição. O projeto de transposição vai beneficiar estados que ficam fora da bacia do rio, como o Ceará, o Rio Grande do Norte, a Paraíba e Pernambuco. Nesses lugares, o apoio ao projeto vem de onde menos se espera. O senador Efraim Morais (PFL-PB), um dos parlamentares mais críticos ao governo, é favorável à proposta. "A transposição vai viabilizar vários pólos econômicos e a ampliação de diversos rios no seco sertão nordestino, a exemplo da Paraíba, onde milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza", disse. |