Ricardo Ramos |
As denúncias de pagamento de propina a parlamentares colocaram o PP em xeque. O partido, contudo, tem atravessado com destreza o vendaval que abateu, com intensidade maior, o PL e o PTB. Neles, membros ou já renunciaram ao mandato ou estão à beira da cassação. Há exatamente um mês, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), teve que renunciar ao mandato para não ser cassado num provável processo por quebra de decoro. O denunciante do mensalão, deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), deixou a presidência do seu partido, mas não abriu mão do mandato. Resultado: deve ser o primeiro cassado do escândalo que ele mesmo detonou. Integrantes do partido ocupam cargos-chave na Câmara e pode, sim, ditar o ritmo e interferir nas investigações. Veja quem é quem do PP na Câmara: Severino Cavalcanti (PE) – Presidente da Câmara Leia também Responsável por despachar para o Conselho de Ética ou para a Corregedoria as representações de parlamentares e de partidos suspeitos de quebra de decoro. * Intermediou um acordo frustrado entre o PTB e o PL, pelo qual Roberto Jefferson, do PTB, e Valdemar Costa Neto, do PL, retirariam um contra o outro os processos de quebra de decoro no Conselho de Ética. Ao dizer nesta semana que o mensalão não existe, deu declarações de que considera uma “pena branda”, não passível de cassação, o uso de caixa dois de campanha eleitoral. Afirmou ainda que quer dar um “amplo direito de defesa” aos parlamentares. Posteriormente, disse que não vai ocorrer “abafa”. Ciro Nogueira (PI) – Corregedor-geral da Câmara Xerife da Câmara. Recebe os despachos da Mesa Diretora e tem a atribuição de remeter ao Conselho de Ética as conclusões da investigação sigilosa feita pela Comissão de Sindicância – composta por quatro deputados e presidida por ele. Nelas, podem ser sugeridas a perda de mandato, a advertência, a censura, entre outras punições. O colegiado, no entanto, não tem tempo para concluir as suas investigações – há um prazo de 20 sessões legislativas que podem ser prorrogadas ad eternum . *Muito ligado ao presidente da Câmara, por quem é chamado de “filho”, Ciro já ouviu 49 depoentes, fez 31 reuniões e aprovou 70 requerimentos desde o início das investigações do suposto esquema de compra de deputados. Entre os primeiros que foram ouvidos, espontaneamente, estão os correligionários Pedro Corrêa, Pedro Henry e José Janene. Não deu prazo para encerrar as investigações, embora tenha informado que vai requisitar parte da documentação em poder das CPIs para apressar os trabalhos. Por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não existe acordo. “Não tem a menor possibilidade de haver”. Ibrahim Abi-Ackel (MG) – Relator da CPI do Mensalão Responsável direto pela investigação do esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada. Não tem limite de tempo para fazer perguntas e pode interrogar o investigado a qualquer momento. Também tem a atribuição de, ao final das investigações, preparar um relatório no qual sugere punições. Nesse caso, pedidos de cassação por quebra de decoro. * Teve um início de trabalho como relator conturbado, após a denúncia de que, na campanha de 1998, recebeu R$ 100 mil do empresário Marcos Valério, por meio do tesoureiro da coligação que o elegeu, Cláudio Mourão. Outros R$ 50 mil foram repassados a Paulo Abi-Ackel, filho do deputado. O deputado se eximiu da culpa de ter recebido os recursos de caixa dois, ao afirmar que a contabilidade da sua campanha foi feita por Mourão. Como relator, tentou sem sucesso há duas semanas colocar em pé de igualdade o depoimento de Genu com os deputados que sacaram das contas de Valério: a resposta aos questionamentos dele poderia ser feita por escrito. Mesmo assim, Abi-Ackel, diferentemente do Severino, acredita que está provando a existência do mensalão. “Os repasses aconteceram, mas não conseguimos ainda chegar à conclusão de que foram mensais”, explicou Abi-Ackel, ontem, ao jornal O Estado de S. Paulo . |