Fábio Góis
O palhaço Tiririca, candidato a uma vaga de deputado federal pelo PR de São Paulo, pode ser impedido, nos próximos dias, de disputar as eleições de outubro – a despeito da possibilidade de ser o mais votado, com estimativa de 900 mil votos. Famoso pela música “Florentina” – na verdade, uma sátira musical que ganhou as paradas populares de rádio e TV –, Tiririca admitiu ao programa Domingo Legal, do SBT, que não sabe ler nem escrever. A Justiça Eleitoral exige comprovante de escolaridade para registro de candidatura.
Na tentativa de atender à legislação eleitoral, Tiririca apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo um documento informando saber ler e escrever. Acontece que a Justiça Eleitoral exige que o candidato o faça em declaração escrita de próprio punho, ou realize teste presencial comprovando a habilidade. Nem uma coisa nem outra foi feita pelo candidato.
Tiririca admitiu o analfabetismo à produção do programa em julho deste ano, quando foi convidado a ter um quadro fixo na atração. O papel do humorista se resumiria a contar piadas ao telespectador – em textos elaborados por um redator que teria a incumbência de repeti-los até que Tiririca os decorasse.
Segundo informações do colunista do UOL Ricardo Feltrin, o humorista se mostrou preocupado com o procedimento de apresentação de seu quadro, repetiu diversas vezes que era analfabeto e quis saber se teria de “decorar alguma coisa, porque vocês sabem que eu não sei ler e nem escrever”. Um produtor perguntou se ele não queria aprender, e ele respondeu que não levava jeito algum para a coisa.
Capa de revista
Em sua mais recente edição, a revista Época trouxe em sua capa uma foto de Tiririca e sua espécie de boina, com o título “Tiririca, a cara do novo Congresso”. A reportagem relata alguns indícios do analfabetismo do humorista, que atualmente é contratado pela TV Record.
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“O humorista Ciro Botelho, redator do programa Pânico da rádio Jovem Pan, diz que escreveu sozinho o livro As piadas fantárdigas do Tiririca, em 2006. A publicação é assinada só por Tiririca. Botelho diz que escreveu com base em histórias contadas por ele. ‘O Tiririca não sabe ler nem escrever’, afirma. (…) Dois funcionários da TV Record também disseram a Época que nos bastidores do programa humorístico Show do Tom, do qual Tiririca participa, é sabido que ele não lê nem escreve. De acordo com Ciro Botelho, o palhaço conta com a ajuda da mulher para decorar suas falas (…)”, diz trecho da reportagem que relata ainda situações “constrangedoras” sobre a limitação do candidato.
“A reportagem de Época acompanhou Tiririca (…). Viu o candidato dar autógrafos com uma grafia bem diferente da que aparece na declaração apresentada ao TRE, com letras redondas. Aos fãs, ele assina um rabisco circular ininteligível e desenha o que seriam as letras do nome de seu personagem. Em duas ocasiões, a reportagem deparou também com situações que demonstram que Tiririca tem, no mínimo, enorme dificuldade de leitura. (…) No dia 21, a reportagem pediu para Tiririca ler uma mensagem de celular. Ele ficou visivelmente assustado diante do aparelho. O constrangimento do candidato só foi desfeito quando uma assessora leu o torpedo em voz alta.”
A reportagem da revista semanal chamou a atenção do promotor Maurício Antônio Ribeiro (1ª Zona Eleitoral de São Paulo), que ajuizou representação com o objetivo de fazer o humorista demonstrar sua capacidade intelectual. O promotor já havia apresentado ação por falsidade ideológica depois de Tiririca ter declarado publicamente que repassou todos os seus bens a familiares, omitindo-os da declaração encaminhada à Justiça Eleitoral. O objetivo, segundo o próprio candidato, era driblar os processos judiciais a que responde na Justiça comum.
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