O editorial desta segunda-feira (6) do jornal norte-americano The New York Times fez críticas ao governo interino de Michel Temer e aos mecanismos legais que dificultam a condenação de políticos envolvidos em esquemas de corrupção. A publicação lembra que em menos de um mês, dois ministros de Temer já deixaram o governo em função da divulgação de conversas suspeitas relacionadas à Operação Lava Jato.
O jornal diz que Temer foi alvo de críticas ao apresentar uma equipe ministerial formada por homens brancos. “Compreensivelmente, isso irritou muitos num país racialmente diversificado como o Brasil”. O texto também lembra que sete dos novos ministros estão envolvidos no esquema de corrupção desvendado pela Lava Jato.
A suspeita de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff tenha como pano de fundo a interrupção das investigações de casos corrupção é mencionada no texto, assim como o afastamento de dois ministros de Temer em decorrência da divulgação de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolvendo a Operação Lava Jato. No último dia 23, Romero Jucá deixou o Ministério do Planejamento e voltou para o Senado em função da publicação de conversas em que ele defende a troca do governo e a construção de um “pacto” para “estancar a sangria” da Lava Jato.
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Já na última segunda-feira (30) foi a vez do ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, deixar o cargo após a divulgação de áudios em que foi flagrado orientando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e Sérgio Machado a se defenderem na Operação Lava Jato.
O Times diz que estes acontecimentos fizeram com Temer afirmasse publicamente que o Poder Executivo não iria interferir nas investigações da operação. “Considerando os homens com quem Temer cercou-se, isso soa falso”, diz o editorial. “Se o presidente interino quer ganhar a confiança dos brasileiros, muitos dos quais têm protestado contra o afastamento da presidente Rousseff, visto como golpe, ele e seu gabinete devem tomar atitudes significativas contra a corrupção”, completa.
O jornal explica aos leitores que no Brasil ministros e parlamentares possuem imunidade parlamentar, mecanismo legal que, a seu ver, contribui para a impunidade. “Essa proteção irrazoável claramente permitiu uma institucionalização da cultura de corrupção e impunidade”, critica, mas lembra que o Brasil não é o único país na região a enfrentar problemas com corrupção, e cita casos na Bolívia, Colômbia, Honduras e Guatemala.
Por fim, o editorial sugere que Temer promova alterações nas regras que tratam da imunidade parlamentar. “Não está claro até que ponto o Sr. Temer irá para acabar com a corrupção. Se ele for sério e quiser acabar com as suspeitas sobre as motivações para o afastamento da Sra. Rousseff, ele seria sábio em promover uma lei que acabasse com a imunidade para parlamentares e ministros em casos de corrupção”, conclui o texto.
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