Na véspera de apresentar a prestação de contas dos primeiros seis meses de trabalho da CPI dos Correios, o deputado e relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR), ficou sumido durante a semana e preferiu não adiantar o conteúdo do texto. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), também adotou a mesma estratégia. “Eu não posso divulgar nada. Amanhã vocês vão saber de tudo”, afirmou.
Apesar do sigilo, os integrantes da comissão confirmam que o texto desta quarta-feira não trará grandes novidades. O relator, porém, disse que o documento vai mostrar, com base em dados da extinta CPI do Mensalão, que o pagamento de mesadas pelo PT a deputados da base aliada existiu e não estava relacionado apenas com pagamento de dívidas eleitorais.
A idéia é mostrar que os repasses obedeciam uma periodicidade, embora nem sempre mensal, e às vezes ultrapassavam os R$ 30 mil, valor da mesada paga pelos petistas, segundo a versão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O petista Paulo Rocha (PA), um dos beneficiários, recebeu R$ 920 mil ao todo. Entre 7 de abril e 27 de maio de 2003, ele sacava o dinheiro a cada 30 dias. A partir daí, há registros de saques diários, semanais, interrompidos por cinco meses e retomados em 16 de dezembro daquele mesmo ano.
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“(O mensalão) era uma espécie de caixa disponível para eventuais necessidades dos amigos no governo”, afirmou o relator-adjunto da CPI, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). “A CPI termina o ano dizendo que o mensalão existiu e que é aquilo que o brasileiro acha que ele é”, afirmou o sub-relator Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), referindo-se ao uso de recursos públicos no esquema.
No texto, Serraglio deve falar que os repasses ocorreram fora dos períodos eleitorais, o que desmontaria a tese de que o dinheiro serviu para quitar despesas de campanha, como sustentou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O relator argumenta ainda que bancadas de partidos aliados cresceram consideravelmente entre 2003 e 2004, o que poderia levar a crer que os aliados atraíam deputados para suas legendas, em troca de recursos, para aumentar a vantagem do governo na Câmara.
Tucanoduto
Outro assunto que será relatado oficialmente pela CPI é o uso de recursos do valerioduto na campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais, em 1998. Contudo, o relator disse que não vai citar nomes desse esquema, mas contará que o valerioduto havia sido anteriormente para bancar campanhas eleitorais.