De acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovada pelo Congresso em dezembro passado, a folha salarial do funcionalismo público, sem contar servidores de prefeituras e governos estaduais, gira em torno de R$ 242 bilhões. A quantia contempla os reajustes negociados pelo Executivo com os servidores públicos federais em 2012 para serem aplicados em três anos, até 2105.
Leia também
No entanto, dois projetos apresentados no ano passado e que tramitam na Câmara buscam quebrar o acordo feito pelo Executivo com outro poder da República. De autoria do presidente do STF, Joaquim Barbosa, e da então procuradora-geral da República em exercício, Helenita Caiado de Acioli, eles previam um reajuste maior para 2014. Ao invés dos R$ 29,4 mil acordados, os maiores salários do serviço público seriam de R$ 30.658,42.
O valor proposto pelo presidente do STF e pela ex-chefe interina do Ministério Público da União é similar ao que estava previsto para 2015 na lei aprovada há dois anos pelo Congresso – R$ 30.935,36 mensais. Pelo texto apresentado pelo MPU, o impacto orçamentário seria de R$ 51,5 milhões pelo efeito cascata causado em toda a instituição. Já no Judiciário a conta ficaria mais salgada: R$ 149,2 milhões na folha salarial.
Os dois textos começaram a ser analisados em comissões técnicas da Casa. Ambos estão parados no primeiro colegiado, a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP). Para chegar a plenário, ainda precisam passar pelas comissões de Finanças e Tributação (CFT) e Constituição e Justiça (CCJ). Entretanto, a expectativa é de que isso não aconteça.
Em 20 de novembro, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, criticou os dois projetos. Afirmou que os textos rompem o acordo celebrado com o Palácio do Planalto em 2012 e colocam em risco políticas públicas do governo. Em uma audiência para discutir as propostas na CTASP, ela disse que não existia previsão orçamentária para o reajuste e que ele era injusto com as outras categorias, que também receberão 15,8% em três anos.
PublicidadeSupersalários
Em tese, nenhum servidor público pode ganhar acima do teto constitucional. A prática, entretanto, tem se mostrado um pouco diferente. O Congresso em Foco já revelou ao menos 4 mil casos de supersalários em todos os poderes no Brasil. Em 14 de agosto do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou a Câmara dos Deputados cortar os vencimentos acima do teto constitucional. Quase um mês depois, em 25 de setembro, uma decisão mais dura contra o Senado: além de obedecer o limite constitucional, os servidores precisam devolver os valores pagos irregularmente.
O site mostrou que, durante cinco anos, a Câmara pagou indevidamente R$ 2,58 bilhões a servidores da Casa, segundo auditoria do TCU. Os auditores do tribunal identificaram nove irregularidades na folha de pagamento entre 2006 e 2011. Só com supersalários – ou seja, pagamentos acima do teto do funcionalismo público –, foram R$ 261 milhões depositados na conta de 1.111 funcionários no período. Já a Revista Congresso em Foco mostrou que as duas Casas do Congresso desperdiçaram R$ 68,7 milhões com supersalários de janeiro a setembro do ano passado.