No primeiro trecho divulgado da conversa entre o empresário Joesley Batista e o diretor de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, os dois delatores combinam estratégia para se aproximar do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Sem se dar conta de que estão gravando a própria conversa, Joesley e Saud dizem que o caminho é chamar os delatados de “bandidos”. Os áudios foram divulgados em primeira mão pelo site da revista Veja.
“Cara, eu vou te contar um negócio, sério mesmo. Nós somos do serviço, né? (A gente) vai acabar virando amigo desse Ministério Público, você vai ver. Nóis vai virar amigo desse Janot. Nóis vai virar funcionário desse Janot. (risos). Nós vai falar a língua deles. Você sabe o que que é?”, questiona Joesley.
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“A língua… domina o país… dominar o país”, diz Saud. “Você quer conquistar o Marcelo (Miller)? Você já achou o jeito. Cê quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. É só começar a chamar esse povo de bandido. Esses vagabundo bandido, assim.” Procurador até o início do ano, Marcelo Miller deixou o Ministério Público dias antes de assumir a defesa dos delatores da J&F.
No diálogo, eles dizem que as delações têm de “ser a tampa do caixão” na política brasileira. “Eu quero nós dois 100% alinhado com o Marcelo…nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot…eu acho…é o que falei com a Fernanda [possivelmente Fernanda Tórtima, advogada]…nós nunca podemos ser o primeiro, nós temos que ser o último, nós temos que ser a tampa do caixão…Fernanda, nós nunca vamos ser quem vai dar o primeiro tiro, nós vamos o último…vai ser que vai bater o prego da tampa”, diz Joesley. “Nós fomos intensos pra fazer, temos que intensos pra terminar”, completa o empresário.
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PublicidadeSegundo eles, Fernanda, possivelmente a advogada Fernanda Tórtima, “surtou” porque, conforme os rumos da delação e de qual autoridade citassem em depoimento, os dois poderiam “entregar” o Supremo Tribunal Federal (STF).
Saud comenta, ainda, que Marcelo Miller, que trabalhou por três anos no gabinete de Janot, estava “afinado” com eles e encaminhava o acordo de delação premiada. Segundo os investigadores, o diálogo ocorreu provavelmente em 17 de março, dez dias depois da conversa gravada pelo empresário com o presidente Michel Temer, que resultou na primeira denúncia contra o presidente por corrupção, rejeitada pela Câmara.
Embora tenha pedido investigação sobre o acordo de delação premiada e ter admitido cancelar os benefícios homologados, Janot afirma que as eventuais omissões e irregularidades cometidas pelos delatores não prejudica em nada o aproveitamento das provas levantadas contra autoridades como Temer e o presidente licenciado do PSDB, Aécio Neves (MG).
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