Ao responder sobre o suposto envolvimento de membros do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, Temer incorpora o presidente do partido. “Institucionalmente, não veio nada para o PMDB. Não há essa coisa de verbas para o PMDB. As pessoas mencionadas querem que a investigação vá até o fim, precisamente para revelar sua inocência. A delação premiada é um elemento de acusação, é um indício, você precisa comprovar a delação. Temos de esperar o processo. Aí, novamente, doa a quem doer”, disse.
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Com mais quatros anos pela frente como morador do Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, Temer nega que o partido dispute hegemonia de poder com o PT da presidenta Dilma Rousseff, mas avisa: “Nós somos governo, não somos aliados”.
Confira a íntegra da entevista:
ÉPOCA – A aliança do PMDB com o PT vive dias difíceis. Parlamentares do PMDB reclamam de um desejo de hegemonia do PT. Como lidar com isso?
Michel Temer – Há um dado numérico. Fizemos sete governadores, e quase fizemos 11 – as vitórias dos adversários foram apertadas. O eleitorado brasileiro apoiou muito o PMDB. Temos a segunda maior bancada da Câmara, a maior do Senado, a presidência de ambas as casas, a Vice-Presidência da República. Não entendo esse discurso da hegemonia, acho que é uma disputa de funções no governo. Neste mandato, o PMDB teve cinco ministérios, vários cargos e atividades. Muitos criticam o PMDB, dizem que o partido só quer cargo. Mas nós somos governo, não somos aliados. Para o segundo mandato, as conversas com o PMDB, a partir das conversas comigo mesmo, têm se amiudado. O PMDB e os aliados terão um protagonismo grande.
Esse maior protagonismo se traduzirá em mais ministérios?
Não tratamos desse assunto ainda. Já estive duas vezes com a presidente Dilmadesde a eleição, hoje (quinta-feira) inclusive, mas deixamos isso para o começo de dezembro. Claro que essa é uma tarefa da presidente. Ela naturalmente conversará com os partidos. A questão não são cargos, mas espaço político.
O PMDB precisa de mais espaço?
Não sei, dependerá do que conversarmos mais adiante. A presidente estará muito atenta ao tamanho do PMDB.
O PMDB não se comporta em alguns momentos mais como oposição que como situação?
É que o partido é muito inquieto. Mas não há um projeto do governo que tenha sido derrotado, até a eleição, pelo PMDB. A derrota na questão dos conselhos populares (a Câmara aprovou um projeto que susta os efeitos de um decreto de Dilma, que criava novas instâncias de participação popular) foi depois da eleição. É um tema muito polêmico desde seu nascimento. Mas não é um projeto que afete a institucionalidade governamental. No mais, o importante é dialogar. É o que mais faço. Há queixas, mas não são dos 72 deputados. É de um grupo. Isso não me assusta e não assusta o governo.
O senhor tem o comando do PMDB? Alguns colocam isso em dúvida.
Se não tivesse nenhuma presença no PMDB, convenhamos, no instante em que fizesse um jantar, não reuniria 202 lideranças no Palácio do Jaburu. Não sou um “coronel” do partido, até repudio essa espécie de denominação. Tenho uma liderança construída ao longo do tempo. Fui três vezes presidente da Câmara. Devo isso ao PMDB. Sou presidente do partido. Devo isso ao PMDB. Sou vice-presidente da República. Devo isso ao PMDB.
O líder do PMDB, Eduardo Cunha, está em campanha pela presidência da Câmara, com uma postura que incomoda o governo. Como o senhor avalia a conduta dele?
Nas três vezes em que fui candidato à presidência da Câmara, uma ou duas semanas antes aparecia uma outra candidatura que tumultuava o ambiente eleitoral. Muitas vezes, lançar a candidatura muito antes não é útil. Cada um tem seu estilo. Ele está no direito dele, legítimo, de se lançar candidato. Ele diz que ainda não se lançou, que está sondando. Mas tem o direito de trabalhar.
Há um bloco de parlamentares em formação para apoiá-lo.
É o que me dizem também. Falando como presidente do PMDB, ele tem de ser um candidato que revele a independência do Poder Legislativo; mas, ao mesmo tempo, que não seja de oposição prévia ao governo federal. A Constituição, embora as pessoas falem muito em independência, determina que os poderes sejam independentes e harmônicos entre si. Essa harmonia, temos de recuperar.
O senhor considera o deputado Eduardo Cunha capaz dessa harmonia?
Acho que ela será obtida seja quem for o presidente.
O senhor conversou com o deputado Eduardo Cunha. O que combinaram?
Ele disse que não será oposição, que trabalhará conosco. Disse a ele que, ao longo do tempo, ele revelou certa dissonância, certa discordância, especialmente durante a campanha eleitoral. Ele fez uma declaração que me destituía da presidência do partido. Atribuo isso à inabilidade política, simplesmente isso. Ou, então, achou que eu estava derrotado de uma vez e resolveu ver se me expulsava do partido desde já! (risos) Tive de dar uma resposta dura. Ele disse que a intenção não foi essa, justificou-se.
O Blocão, o grupo de parlamentares da base do governo e da oposição, formado no ano passado, foi algo normal?
Que derrota o Blocão impôs ao governo? Afora essa história do conselho?
Ajudou a criar as duas CPIs da Petrobras.
Há coisas inevitáveis. Isso revela a faceta democrática do governo. Se fosse um governo autoritário, atropelaria.
O senador Aécio Neves (PSDB) disse em seu discurso de volta ao Congresso que o diálogo com o governo dependerá da investigação do caso Petrobras. Como o senhor avalia essa imposição?
Essa investigação está em andamento. Já dissemos que isso irá até o fim, usando a expressão clássica, “doa a quem doer”. Uma coisa curiosa é que quem faz a investigação é a Polícia Federal, há uma CPI instalada, todos os instrumentos de fiscalização operam tranquilamente. E, embora o governo tenha maioria, ninguém impede essas investigações, as coisas caminham.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento à Justiça que o PMDB levava recursos dos negócios fechados na Diretoria Internacional. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Institucionalmente, não veio nada para o PMDB. Não há essa coisa de verbas para o PMDB. As pessoas mencionadas querem que a investigação vá até o fim, precisamente para revelar sua inocência. A delação premiada é um elemento de acusação, é um indício, você precisa comprovar a delação. Temos de esperar o processo. Aí, novamente, doa a quem doer.
Isso inclui o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, filiado ao PMDB, que se afastou do cargo?
Não quero falar dele, porque ele é uma bela figura, sempre tive a melhor impressão pessoal dele. Ele já tomou uma medida muito adequada, afastar-se do cargo, para permitir a investigação (depois que Paulo Roberto Costa o acusou de receber R$ 500 mil em propinas).
O senhor conhece Paulo Roberto Costa?
Encontrei-o uma vez em Brasília, mas só fui apresentado. Nunca tive nenhum contato pessoal com ele, nenhuma relação. Aliás, com nenhum diretor da Petrobras, com toda a franqueza. Minha atividade política, quando era deputado, não era conseguir emendas para municípios, valores não sei para quem. Sempre tive um voto mais ou menos de opinião.
O que o senhor pensa da regulação da imprensa, defendida novamente na plenária do PT na semana passada?
Eu sou, e o PMDB também é, pela mais absoluta liberdade da imprensa. Qualquer tipo de regulação que resvale para uma censura precisa ser repudiada e será repudiada pelo PMDB como partido. Sobre a regulação econômica, é preciso ver os termos. Confesso que não conheço o projeto. De qualquer forma, há um preceito constitucional que garante a iniciativa privada, a liberdade de iniciativa. Não sei como compatibilizar a regulação econômica das empresas com a liberdade constitucional da iniciativa privada. É preciso conhecer o projeto.