Afastado por ser alvo de investigação da Polícia Federal, o vice-presidente da Caixa Econômica Federal Roberto Derziê de Sant’Anna circulava em gabinetes do Palácio do Planalto, informa a Coluna do Estadão. Agendas oficiais publicadas no portal do governo mostram que ele foi recebido três vezes em 2017 pelo presidente Michel Temer. Em duas dessas reuniões, estava acompanhando do presidente da Caixa, Gilberto Occhi.
Segundo a coluna, o vice afastado também visitava os ministros da articulação política do governo, o atual, Carlos Marun, e o seu antecessor, Antônio Imbassahy. “Interlocutores confirmam que, nas visitas ao Planalto, Derziê apresentava as relações de pedidos de financiamento em tramitação no banco. Assessores relatam que o vice-presidente passava nos gabinetes de outros ministros do Palácio”, destaca a nota.
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O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou ser “normal receber dirigentes dos agentes financeiros”. Já o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), que, segundo uma auditoria independente, tinha relações com Derziê, não quis comentar. A assessoria de Temer disse que o presidente recebeu o vice para tratar de questões de governo.
Investigação independente conduzida por um escritório de advocacia encontrou indícios de que Derziê forneceu informações sobre operações em trâmite do banco ao próprio peemedebista e a Moreira Franco, ou atendeu a pedidos do ministro e do presidente Michel Temer.
<< Apuração independente vê indícios de ligação entre vice da Caixa, Temer e Moreira Franco
“[Roberto Derziê Sant’Anna] afirmou que nunca presenciou a realização de irregularidades por Geddel Vieira Lima, por Moreira Franco ou por Fábio Cleto. Contudo, foram encontrados documentos que podem indicar, pelo menos, o atendimento de pedidos ou o fornecimento de informações de operações em trâmite na CEF, por parte de Roberto Derziê de Sant’Anna, a Moreira Franco e a Michel Temer”, diz o relatório da investigação feita pelo escritório Pinheiro Neto.
PublicidadeO documento da apuração interna feita pelo escritório de advocacia foi remetido ao Comitê Independente da Caixa e ao Ministério Público Federal. As informações embasaram o pedido de afastamento apresentado pelo Banco Central e pelo Ministério Público Federal. Temer resistia a afastar os dirigentes, mas mudou de ideia após ser informado pelo MPF de que poderia ser responsabilizado caso fossem descobertos novos indícios contra os vice-presidentes.
Além de Derziê, também foram afastados Deusdina dos Reis Pereira (Fundos de Governo e Loterias), José Henrique Marques da Cruz (Clientes, Negócios e Transformação Digital) e Antônio Carlos Ferreira (Corporativo). Eles são citados nas operações Sépsis, Cui Bono? e Patmos, conduzidas pelo Ministério Público em Brasília, suspeitos de auxiliar o grupo de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima.