Mergulhado na maior rejeição da história e acusado de envolvimento em esquemas de corrupção, o presidente Michel Temer (MDB) resolveu gravar um vídeo para mudar de assunto e não deixar passar em branco a Copa do Mundo da Rússia, iniciada nesta quinta-feira (14) com a goleada de 5 a 0 dos anfitriões na frágil Arábia Saudita. Em mensagem de boa sorte à Seleção Canarinho, Temer faz menção indireta à polarização política que acomete o país há alguns anos, com PT e PSDB a se revezar no comando do país.
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O filmete foi veiculado nas redes sociais do Palácio do Planalto pouco depois das 20h desta quinta-feira. “A partir de agora, desaparecem todas as diferenças, prevalece nossa alma verde e amarela. E todos nós estaremos juntos na mesma torcida, na mesma fé, na vitória de nosso país”, diz Temer, em cerca de um minuto de vídeo. “É hora de todos nos somarmos aos 11 que estarão no gramado.”
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Veja no vídeo:
Com sinais cada vez mais nítidos de cansaço, como admitiu até seu ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) em entrevista ao Congresso em Foco, Temer caminha para o fim do mandato cada vez mais sozinho em seu processo de “sarneyzação” – termo usado para conotar o processo de degradação do impopular governo do correligionário José Sarney (1985-1990), que também sangrou no final do mandato presidencial. Além de duas denúncias congeladas no Supremo Tribunal Federal (STF), que serão reativadas quando Temer deixar o Palácio do Planalto, o presidente é alvo de dois inquéritos ativos sob responsabilidade do STF.
Em um deles, é acusado de receber propina por meio da edição do Decreto dos Portos, legislação sob encomenda para beneficiar concessionárias do Porto de Santos como a Rodrimar. Em outro, é apontado como um dos beneficiários de pagamentos milionários acertados com a Odebrecht em um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República.
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Ao seu lado continuam firmes os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia), ambos alvos de graves acusações em investigações como a Lava Jato e igualmente denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), mas baixas como a de Pedro Parente na Petrobras e a de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda têm minado as forças diminutas da gestão emedebista. Sem a medalha da recuperação econômica como inicialmente projetada, restarão para o trio de amigos emedebistas as barras da lei, já a partir de 1º de janeiro de 2019. E, muito provavelmente, sem a prerrogativa do foro privilegiado.
Hoje (quinta, 14), por meio de nota, Temer teve que lidar com outro baque forte em sua trajetória. Trata-se de uma reação ao teor do relatório final da Operação Cui Bono, como este site mostrou mais cedo, por meio do qual a Polícia Federal afirma haver “indícios suficientes de materialidade e autoria” de que o Temer tentou comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), condenado e preso na Lava Jato, e de Lúcio Funaro. Delator do petrolão, Funaro é apontado nesta e em outras investigações como operador do PMDB em esquemas de corrupção.