Edson Sardinha
Candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma Rousseff (PT), o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), negou hoje que seu partido esteja interessado na partilha dos cargos num eventual governo Dilma. Em debate entre os vices dos três principais nomes à sucessão presidencial, Temer disse que o PMDB repudia “essa coisa do fisiologismo”. “O que o PMDB vai fazer é colaborar com o governo. Todos os governos governam com vários partidos.”
Durante todo o debate, promovido pelo portal UOL e pela Folha de S. Paulo, o peemedebista defendeu a continuidade da coalizão de apoio ao governo Lula e a participação de seu partido na administração federal, e rebateu os ataques feitos pelo candidato a vice de José Serra (PSDB), o também deputado Índio da Costa (DEM-RJ). Segundo Temer, Dilma tem “dinamismo de paulista e poder de superação de nordestino”.
Índio da Costa voltou a acusar o PT de manter relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que, segundo ele, têm ligações com o narcotráfico, e Dilma de não ter experiência nem competência para comandar o país. O deputado tentou explicar por que Serra usou a imagem de Lula em seu programa no horário eleitoral. “O que quis dizer o programa com Lula e Serra é que, para se chegar à presidência da República, tem que ter experiência”, afirmou.
Em sua primeira disputa eleitoral, o empresário Guilherme Leal (PV), vice de Marina Silva (PV), classificou as candidaturas de Dilma e Serra como “mais do mesmo”. “Quem fala de futuro é estadista, quem está propondo algo de diferente é Marina”, disse o empresário. Dono da indústria de cosméticos Natura, Leal negou que sua candidatura seja uma estratégia de marketing para favorecer seus negócios. Ele afirmou que sua entrada na disputa eleitoral lhe traz “mais riscos que oportunidades”.
O debate, que começou às 11h, durou cerca de duas horas e foi mediado pelo jornalista Fernando Rodrigues. Os candidatos responderam a perguntas do editor-executivo do UOL Notícias, Irineu Machado, da editora do caderno Poder da Folha, Vera Magalhães, e de internautas. Veja algumas das principais declarações dos candidatos a vice de Dilma, Serra e Marina:
Michel Temer
“Ela tem o dinamismo paulista e a capacidade de superação nordestina. Ela é a síntese do Brasil. Ela nunca disputou eleição, mas ela entrou nessa eleição com uma capacidade extraordinária e enfrenta muito preconceito por ser firme.”
Índio da Costa
“A Dilma, como gerente do PAC, se mostrou uma péssima gerente. Não mandou 1 centavo do PAC da saúde para São Paulo. A responsabilidade dela era de gerente. O PAC está empacado. Eles fazem muito marketing. É ridículo o resultado. Você, Guilherme, contrataria a Dilma para gerenciar sua empresa? Eu não contrataria ela para ser gerente.”
Guilherme Leal
“Quem se diferencia nessas candidaturas como estadista é Marina Silva. O presidente FHC era um sociólogo. O presidente Lula era um operário, não um gerente. Nesse trio, quem se destaca é Marina Silva, que vem com uma proposta de inflexão do atual modelo. Quem está propondo um novo jeito de fazer política. Quem fala de futuro é estadista.”
Michel Temer
“O direito à moradia está na Constituição. O governo vem implementando o direito à alimentação com o Bolsa Família. O grande desejo de todos é fazer do Brasil um país que comece na classe média, que não tenha miséria. O governo Lula governou para todos os setores. Todos os setores foram incentivados, desde o setor financeiro até a construção civil. Houve grande mobilidade.”
Índio da Costa
“Lula está encerrando um ciclo da política brasileira. Ele apresenta uma candidata que ninguém sabe quem é, que é despreparada. O PAC foi um fracasso. Para chegar à presidência, seria uma negação eleger alguém que nunca foi vereadora, nunca foi deputada. Ela vem por indicação de um político bem avaliado. Isso é um grave risco para o país, assim como Pitta em Maluf (…) O que quis dizer o programa com Lula e Serra é que, para se chegar à presidência da República, tem que ter experiência.”
Guilherme Leal
“Marina foi a primeira pessoa a reconhecer que houve avanço nos últimos 16 anos, saindo dessa polarização. Nós sabemos claramente que existe uma continuidade. Não existe herança maldita de FHC para Lula. O governo FHC foi muito importante para o início da prosperidade. O brasileiro em geral está contente. O PV não será majoritário, ninguém está desconectado da realidade. O PV pode fazer 20 deputados, sendo otimista. O que pode é quebrar essa lógica de PT e PSDB, com o PMDB oscilando para aqui e para ali.”
Michel Temer
“Vamos tentar realizar a reforma tributária, mas ela não depende só do Executivo. Recentemente, o governo mobilizou governadores, para compor os vários interesses. A reforma tributária depende muito de maturação. Ela foi amadurecendo ao longo do tempo, e hoje há condições. Devemos fazer isso no primeiro ano do governo, o Executivo colaborará e incentivará o Congresso a fazê-la.”
Índio da Costa
“Ontem, o ministro Franklin Martins disse que eu sou ‘uma besta’. Eu queria dizer que me parece que eles estão vivendo no século passado. Todo movimento feito pelo atual presidente de 2004, em agosto de 2004, foi enviado pelo presidente um projeto de criação do Conselho dos Jornalistas. Em 2009, foi enviado o Plano Nacional de Direitos Humanos, que quer calar a boca da imprensa.”
Guilherme Leal
“Nós temos um compromisso histórico com todos aqueles que habitam o campo. E temos o grande negócio. Temos a possibilidade de ser o celeiro do mundo, o que nós possibilidade sair da posição de devedores para credores do FMI. Temos produtividade baixíssima na agricultura. O sonho da candidatura Marina Silva é uma grande integração, que vai desde o pequeno produtor, mais pobre e desassistido, até o agronegócio, que possa produzir riqueza e renda”
Michel Temer
“Eu acho útil que no Brasil estejam se formando blocos que disputam as eleições. De um lado, PSDB, DEM e PPS. De outro, PT e PMDB. Porque o Brasil não comporta hoje 28 siglas partidárias. Eu nem chamo de partido. Partido tem que representar uma parcela da sociedade. O ideal é que tenha 2, 3 candidatos a presidente da República”
Índio da Costa
“Nunca usei maconha, não gosto de droga. Hoje, Gabeira é contra a liberação das drogas. Agora, se trata de cuidar do Brasil, que está assolado por uma droga que não é a maconha, é muito pior que a maconha. Eu sou do Rio de Janeiro, o que é conviver com facções e com as milícias. É uma coisa simples. Ou se interrompe a entrada de drogas no Brasil ou a gente vai continuar com esse problema.”
Guilherme Leal
“Nós não precisamos fazer esse tipo de jogada para a Natura. A decisão de entrar, de dar esse passo complexo de entrar na vida política, foi de empreender na vida política. De transformar esse entusiasmo, que é um acúmulo de avanço dos últimos 16 anos. Se tiver a inteligência, esse novo jeito de governar, essa integração do patrimônio ambiental na equação de desenvolvimento, apesar dos sacrifícios que implicam para o cidadão Guilherme Leal. É mais risco do que oportunidade, pode ter certeza. Está valendo a pena, porque estou tendo a oportunidade de discutir com os brasileiros o que pensamos para o futuro do país.”
Michel Temer
“Na aliança do PT e do PMDB, o PMDB terá a vice-presidência. Segundo ponto: participaremos do programa de governo. Esses são os únicos compromissos. Não há nada disso de partilha de cargos. Nosso regime é presidencialista. É a presidente eleita que vai chamar os partidos. O que o PMDB vai fazer é colaborar com o governo. O PMDB repudia essa coisa do fisiologismo. Todos os governos governam com os vários partidos.”
Índio da Costa
“As Farc são ligadas ao narcotráfico. O PT se reuniu com as Farc para tratar de aborto e outros assuntos. No interior da Paraíba, uma pessoa me disse que uma criança pediu uma pedra de crack. Há pessoas morrendo no Brasil pelo excesso de consumo (…). O tiroteio que teve no Rio de Janeiro e que terminou na morte de uma mulher, era traficante fugindo da polícia. O que banca isso é a droga, e quem está por trás são as Farc.”
Guilherme Leal
“No meu caso, houve um encontro de visões de país com Marina Silva, ela traz uma proposta nova para esse país, diferentemente das outras duas candidaturas. Ela traz uma visão de ligação do presente com o futuro, com uma visão de investimento, comprometido no capital humano, na educação de qualidade, de ciência, tecnologia e inovação, como grandes diferenciais do desenvolvimento sustentável do Brasil.”
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