Um ano após as revelações da delação da JBS, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot diz que o comportamento posterior dos delatores, como o ex-presidente do grupo Joesley Batista e o ex-diretor de relações institucionais Ricardo Saud, não enfraquece as denúncias feitas por ele. Segundo o ex-procurador, figuras como o presidente Michel Temer (MDB) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), achavam-se, até então, imunes a qualquer investigação.
Em entrevista ao jornal O Globo, Janot afirma ter absoluta convicção do envolvimento do presidente nos crimes apontados nas duas denúncias criminais contra o emedebista barradas pela Câmara.
“Existem provas contra o presidente da República em exercício por atos criminosos por ele praticados? A imprensa divulgou áudios, vídeos. Se isso não é suficiente, eu me mudo para Marte”, respondeu Janot ao repórter Jailton Carvalho. “Acredito que essa foi uma das colaborações premiadas que mais auxiliaram o combate à corrupção no Brasil”, acrescentou.
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Segundo Janot, a delação da JBS permitiu ao Ministério Público chegar “à cabeça da organização criminosa”. “Atingiu um presidente da República em exercício, que, depois de três anos e meio da Lava Jato, continuava praticando atos que queria. Achava que era imune a qualquer investigação do Ministério Público. E nenhum cidadão é”, declarou.
Outro que se achava imune, segundo ele, é o senador Aécio Neves. “Chegamos ao virtual futuro presidente da República (senador Aécio Neves), que também continuava praticando atos e se acreditava imune. Esse é o quadro que eu desenho de um ano depois dessa colaboração da J&F.”
PublicidadeTemer, na avaliação do ex-procurador-geral, só não é réu por causa do julgamento político da Câmara, que impediu o Supremo Tribunal Federal (STF) de analisar as duas denúncias contra o presidente. “O Brasil mudou, tem indignação na rua e tem uma atuação profissional no campo judicial.”
Janot diz que propôs a rescisão do acordo de delação da JBS por entender que os delatores tentaram enganar o Estado, como indicaram áudios gravados entre Joesley e Ricardo Saud em que a dupla admite ter omitido informações.
Para Rodrigo Janot, o ex-procurador Marcelo Miller, que foi seu assessor e atuou como advogado dos executivos, não cometeu crime, mas deslize ético. Essa percepção, segundo ele, mudou nos últimos meses.
“Na época, com os elementos que tínhamos, eu acredito que sim, que ele fazia parte dessa organização criminosa, como fazia parte o presidente da República e esses executivos da J&F. Hoje, com o quadro fático que temos — já saí dessas investigações desde setembro —, eu acredito que ele tenha cometido atos não éticos, mas estou convencido que crime ele não cometeu.”
O ex-procurador-geral da República defendeu uma reforma política profunda para mudar a realidade do país. “A mudança virá pela política. A investigação não criminaliza a política. Ela busca criminosos que se escondem atrás de mandatos políticos.”
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