A idéia era atrair apoio para a sua pré-candidatura à presidência da República. Porém, a greve de fome do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho não contou nem mesmo com o apoio dos correligionários do PMDB e tende a naufragar nos próximos dias. Mesmo assim, o presidenciável insiste no protesto e disse que vai resistir “até a morte” se for preciso.
A decisão do pré-candidato do PMDB à presidência da República, Anthony Garotinho, de levar adiante a greve de fome iniciada no último domingo foi repelida ontem por um dos seus principais aliados, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP). Avalista da candidatura própria do PMDB ao Planalto, Temer disse ontem que a greve “não ajuda em nada” e aconselhou Garotinho a se defender das acusações de irregularidade no financiamento de sua pré-campanha à Presidência.
“O partido não foi consultado, não é um gesto do partido. O PMDB não tem absolutamente nada a ver com esse gesto, que é unilateral, que não ajuda em nada”, afirmou. Temer afirmou ainda não ter ligado para Garotinho já que não poderia dar respaldo ao gesto político. Segundo ele, Garotinho deveria vir “a público responder, com o espaço que a mídia lhe daria, as acusações”.
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Com 1,3 kg a menos, o ex-governador do Rio reiterou ontem a disposição de manter o protesto. “Estou disposto a fazer greve de fome mesmo que seja até a morte. Quem vai me julgar é Deus”, afirmou o pré-candidato, que já perdeu 1,3 kg desde domingo, quando iniciou a greve. Garotinho se recusou a falar com jornalistas brasileiros ontem e mandou dizer que o protesto é uma forma de lutar contra a “campanha mentirosa e sórdida”, que tenta “desconstruir” sua “imagem como administrador, homem público”, além de ridicularizar suas “posições cristãs e éticas”.
Apesar das críticas dirigidas ao ex-governador, Temer disse que não pode determinar a retirada da pré-candidatura, como queria o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE), que acusa o colega de manchar a imagem do partido. “Quem quiser que faça uma representação à Executiva ou à Convenção Nacional. Não é o presidente do partido que vai decidir”, ponderou.
A mulher de Garotinho, a governadora do Rio, Rosinha Matheus, afirmou que o peemedebista não vai recuar e que o manifesto não é uma estratégia para ganhar espaço nos jornais. “Não queremos que tenham pena de nós. Liberdade de imprensa não é mão única nem ditadura”, afirmou a governadora. “Não estamos aqui para aparecer. Não precisamos disso. Eu já sou governadora”, emendou.
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, cobrou objetividade de Garotinho. Disse que ele deve abrir mão da greve de fome e responder às acusações de que tem sido alvo.
“Acho que mais importante do que qualquer manifestação (como a greve de fome), é dar uma resposta clara, correta, em relação a tudo o que foi denunciado. Essas denúncias são sérias e a sociedade exige respostas muito claras e objetivas”, afirmou Rigotto, que disputou com o correligionário a pré-candidatura à presidência pelo PMDB.
Garotinho entrou em greve de fome às 17h15 do último domingo, em protesto a reportagens publicadas pela revista Veja e pelo jornal O Globo que o acusam de receber R$ 650 mil para sua pré-campanha presidencial de organizações não governamentais fantasmas que teriam recebido recursos do governo do Rio.
O peemedebista disse estar sendo perseguido pela imprensa e pelos grandes empresários porque é uma alternativa à política econômica do PT e do PSDB. Ontem ele conversou com jornalistas estrangeiros e reiterou que só encerra a greve depois que duas exigências forem atendidas: o mesmo espaço das denúncias na imprensa para expor sua versão e a designação de um órgão internacional para fiscalizar as eleições de outubro.
Ala governista e partidos protestam
Os integrantes da ala governista do partido adotaram tom mais crítico à greve de fome do ex-governador do Rio. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o protesto é “absolutamente imaturo”. “Como pode alguém que quer ser candidato à presidência da República ter um gesto como esse?”, questionou.
O líder do PDT no Senado, Jefferson Peres (AM), disse que recebeu a notícia sobre a greve de fome com surpresa. “Ele (Garotinho) está se expondo ao ridículo”, afirmou. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), também criticou o gesto do peemedebista. “O que ele quer? Ele não está propondo nada! Ao contrário, vai fazer com que todo o Brasil repudie seu protesto quando pede a presença de observadores internacionais nas eleições”, afirmou.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, ironizou o protesto do peemedebista. “Se todos nós políticos fossemos fazer greve de fome a cada acusação dos jornais, cada um teria uns 30 kg a menos”, disparou.
Em nota, mais críticas à imprensa
Embora esteja boicotando a mídia nacional, o presidenciável Anthony Garotinho aproveitou ontem os minutos de holofotes que sua greve de fome tem lhe rendido para criticar novamente a imprensa. No fim da tarde, o peemedebista leu uma nota em que afirma que seu protesto é uma forma de assegurar a liberdade dos meios de comunicação.
“É também em defesa dela (da imprensa) que me coloquei em greve de fome. A verdadeira liberdade de imprensa pressupõe direito de defesa, garante equilíbrio no tratamento jornalístico, assegura transparência e visibilidade às duas faces da moeda”, disse no comunicado. O ex-governador continuou: “reitero ao povo brasileiro: tudo o que foi dito é mentira”, disse, a respeito das acusações publicadas contra ele nas últimas semanas.
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