Rudolfo Lago
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista à Rádio O Dia, do Rio de Janeiro, em que praticamente falou apenas sobre futebol e não chegou a tocar em política. Com o apresentador Mauro Leão, Lula falou de craques da atualidade, como Ronaldo e Adriano, e do passado, como Pelé, Gerson e Zizinho. O presidente demonstrou ainda confiança no sucesso da Copa do Mundo e das Olimpíadas. “Até as Olimpíadas, nós vamos ter o Brasil numa situação infinitamente melhor do ponto de vista econômico e social”, previu Lula.
No começo da conversa, Lula lembrou que é corintiano em São Paulo e vascaíno no Rio. Por essa razão, não quis vestir a camisa do Flamengo na ocasião em que o time, campeão brasileiro, foi visitá-lo. “Vestir a camisa já era demais para mim”, comentou. “Foi legal, porque o Flamengo é um time que, embora eu seja torcedor do Vasco, todo brasileiro termina gostando, porque o Flamengo é o que mais representa a cara do Rio de Janeiro, do futebol”, completou o presidente.
O presidente em seguida comentou sobre a possibilidade de Ronaldo e Adriano, craques que depois entraram em uma fase de decadência e se recuperaram no Brasileirão deste ano, voltarem à Seleção. “Teoricamente, são dois jogadores importantes. Agora, você sabe que para convocar para a Seleção não depende apenas da vontade do técnico”, comentou. “É preciso que os jogadores ponham na cabeça que depende única e exclusivamente deles”, completou. “Se eles estiverem bem, jogando o que eles sabem jogar, dificilmente qualquer técnico deixará de convocá-los. Agora, se eles acharem que podem relaxar, que não precisam treinar, que não devem estar bem fisicamente (…) se bem eu conheço o jeito de trabalhar do Dunga, não serão convocados”.
O presidente tem até a sua fórmula para o uso de jogadores veteranos pelos times. Para ele, caso se saiba mesclá-los com sabedoria, serão muito úteis. “Em 1957, o São Paulo foi campeão paulista porque levou um senhor chamado Zizinho, o nosso querido mestre Ziza, que deu um equilíbrio ao São Paulo. Queria lembrar também que, nos anos 70, o São Paulo levou o Gérson, já quase no final de carreira. (…) Nós vimos agora o que o Pet fez no Flamengo”, lembrou Lula. “Agora, é importante ter a clareza de que um jogador de 37anos não consegue correr 90 minutos disputando um partida com jovens de 22 anos. Então, se você tiver o equilíbrio de colocar esses jogadores no tempo certo, para jogar a quantidade de minutos certa, você pode tirar proveito da idade, por conta da experiência. Agora, não basta ter experiência, senão você contrataria o Pelé”, avaliou.
Copa e Olimpíadas
Para Lula, a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem ser uma boa oportunidade para o Brasil, especialmente no que diz respeito à formação dos jovens brasileiros. “Nós temos que manter o país no mesmo estado de emoção que nós estávamos quando conquistamos as Olimpíadas. Nós temos que ir a esses morros no Rio de Janeiro, nós temos que ir à periferia e tentar cadastrar todo jovem, toda criança que quando chegar nas Olimpíadas esteja em uma idade de disputar uma medalha ou de disputar alguma coisa no esporte. Por que? Porque nós precisamos despertar nas pessoas a paixão pelo esporte e pela cultura, que são as duas coisas que podem, mais rapidamente, motivar a criança a não entrar em jogada que não presta”, ensinou o presidente.
O presidente voltou a usar a imagem futebolística para comentar o fato de o PSDB ter tido durante um tempo dois candidatos à Presidência: sua tese de que um time não pode jogar bem com dois craques com as mesmas características. “Eles vão ocupar o mesmo espaço”, diz Lula. “Se você pega dois Garrinchas e coloca em campo, um vai ficar sem bola, porque o outro vai ficar com a bola o tempo inteiro. Se você colocasse dois Peles, ia ficar com um Pelé só, porque se os dois fossem fazer as mesmas coisas, disputar o mesmo espaço de campo, eles trombavam”, considera Lula.
O presidente ainda falou de música. Enumerou seus sambas preferidos de Zeca Pagodinho. Arriscou até cantarolar um pouquinho. Disse que “Deixa a vida me levar” é um resumo da sua própria vida. Reclamou do fato de os jornais impressos do domingo fecharem no sábado sem os resultados dos jogos de futebol.
Enfim, pareceu ter adorado o fato de não ter sido perguntado sobre política. “Essa foi a primeira entrevista que eu não falo de política, desde 1980. Às vezes, as pessoas acham que político só entende de política”.