Lúcio Lambranho
Depois do lobby bem articulado que derrubou ontem (8) a CPI dos Corinthians, o Congresso deverá continuar refém da influência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Criada justamente para ajudar o governo federal e a própria CBF na organização da Copa de 2014, uma subcomissão da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara terá um aliado de primeira hora como presidente.
Trata-se do deputado José Rocha (PR-BA), conhecido representante da chamada bancada da bola e que teve atuação destacada em favor dos cartolas do futebol na extinta CPI da Nike-CBF (2001). Na época, o relator da comissão, Silvio Torres (PSDB-SP), atribuiu 13 crimes ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pediu o indiciamento do cartola e de outras 32 pessoas.
Além de trabalhar como um dos principais articuladores dos dirigentes para barrar a CPI sobre as irregularidades envolvendo o fundo de investimentos MSI e o clube paulista, o deputado baiano está na lista de doações de campanhas da CBF desde as eleições de 2002 (veja quem mais foi financiado).
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Naquele ano, Rocha recebeu R$ 100 mil da confederação. Já no ano passado, a entidade doou mais R$ 50 mil para o deputado, que exerce atualmente o seu quarto mandato.
Veja quem retirou a assinatura do pedido de criação da CPI do Corinthians
Em entrevista ontem (8) ao Congresso em Foco (leia mais), o deputado do PR classificou como “dura batalha” sua cruzada pelo arquivamento da comissão mista de inquérito. “Sou contra a CPI porque não é o momento adequado”, disse o parlamentar, que presidiu o Esporte Clube Vitória entre 1983 e 1985.
Segundo ele, bom para o esporte nacional “é ter uma legislação que dê estabilidade ao esporte, com dirigentes sérios que façam um trabalho competente para o futebol brasileiro”. A reportagem procurou novamente o deputado ao tomar conhecimento de que ele foi indicado para presidir a subcomissão da Câmara que acompanhará a organização da Copa de 2014, mas não conseguiu retorno.
Questionada sobre a relação de José Rocha com a CBF e as doações de campanha, a assessoria do parlamentar usou o seguinte argumento para alegar que não havia conflito de interesse: “A CPI não era da CBF, era do Corinthians”.
O Congresso em Foco também procurou a presidente da Comissão de Turismo da Câmara, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), responsável pela indicação de Rocha, mas sua assessoria recomendou à reportagem que procurasse o secretário do colégio, James Lewis, para explicar os motivos da nomeação do colega baiano.
Segundo Lewis, José Rocha foi indicado para o cargo por ter sido o autor do requerimento que propôs a criação da subcomissão. “Tradicionalmente esse é o procedimento. A subcomissão não foi criada para investigar o Corinthians. Para isso existe uma proposta de fiscalização na comissão e que já fez duas audiências públicas e deve ouvir o delegado da Polícia Federal encarregado da investigação”, justificou o secretário da comissão.
“Cabrito cuidando da horta”
“Na verdade, eles não vão investigar nada, principalmente colocando o cabrito para cuidar da horta. Essa nomeação é a continuidade da relação promíscua entre a CBF e os deputados da Câmara que derrubaram a CPI”, atacou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), um dos articuladores da CPI do Corinthians.
Entre 2000 e 2001, o senador presidiu a CPI do Futebol, que apontou a existência de indícios de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e apropriação indébita em transações de dirigentes esportivos e da própria CBF.
“Se depender de mim essa Copa não vai receber um tostão do governo federal. Que isenção esse deputado pode ter para cuidar dos preparativos da Copa? Nenhuma. Essas pessoas deveriam alegar problemas de consciência para não aceitar esse cargo. Mas parece que eles não têm nem isso”, disparou o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), um dos articuladores da comissão na Câmara junto com o deputado Sílvio Torres.
A subcomissão presidida por José Rocha vai acompanhar o cumprimento do caderno de encargos apresentado pela CBF à Federação Internacional de Futebol (Fifa). Uma das primeiras etapas será a escolha das cidades que sediarão os jogos do campeonato. Ao todo, 18 cidades disputam o direito de sediar os jogos. São elas: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, Salvador, Maceió, Recife/Olinda, Natal, Fortaleza, Belém, Manaus e Rio Branco. A lista final será divulgada em dezembro de 2008.
Financiamento da bola
Outros seis senadores e três deputados foram beneficiados (veja a lista) por doações da CBF nas duas últimas eleições. Na Câmara, além de José Rocha, Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Ciro Nogueira (PP-PI), integrante da Mesa Diretora da Casa, receberam doações da CBF.
A assessoria do quarto-secretário da Câmara disse que o deputado não assinou o requerimento para a criação da CPI por “considerar que o assunto é local e deveria ser investigado pela Assembléia Legislativa de São Paulo”. Segundo Ciro, não há assunto federais envolvidos na investigação sobre o time paulista.
Como mostrou este site, Darcísio Perondi também trabalhou para derrubar a investigação no Congresso. “Não há dinheiro público. A Polícia Federal e a Receita são os órgãos competentes e estão investigando. Por que uma CPI aqui para investigar o Corinthians?”, disse Perondi, que recebeu, ao todo, R$ 200 mil da Confederação Brasileira de Futebol em suas campanhas eleitorais de 2002 e 2006.
O Congresso em Foco também procurou, por meio de suas assessorias, todos os seis senadores beneficiados com doações da CBF nas últimas duas eleições. São eles: Leomar Quintanilha (PMDB-TO), presidente do Conselho de Ética, Marconi Perillo (PSDB-GO), Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, Delcidio Amaral (PT-MS), Gilvam Borges (PMDB-AP) e o presidente licenciado da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) (veja quanto eles receberam). Nenhum deles, contudo, retornou o contato feito pela reportagem.
Em sessão conjunta de deputados e senadores, o Congresso arquivou ontem o pedido de criação da CPI do Corinthians. Faltaram apenas três assinaturas de deputados para que a comissão fosse instalada, uma vez que o número mínimo de adesão de senadores já havia sido atingido, com 39 assinaturas (eram necessárias, no mínimo, 27). Ao todo, 111 parlamentares retiraram as assinaturas do requerimento de instalação da CPI do Corinthians.
Deputados mineiros e maranhenses foram fundamentais para a derrubada da CPI. Nas duas bancadas, houve 37 retiradas de apoio para a investigação. A debandada representou um terço dos 111 parlamentares que retiraram suas assinaturas do requerimento da CPI (leia mais).
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