Sylvio Costa
Esqueçam o Congresso, Lula, Serra, Alckmin, CPIs, eleições. O fato mais importante do dia ontem, em Brasília, foi o lançamento do bloco Suvaco da Asa. Aliás, bloco não. Trata-se de uma troça carnavalesca mista (TCM), que é o nome dado aos blocos não-oficiais do maravilhoso Carnaval de Olinda (PE).
A iniciativa, liderada pelas jornalistas pernambucanas Clarissa Lima e Marina Amazonas, é uma prova do poder de fogo da internet. Via e-mail, dias atrás, ela e outras figuras-chave do que há de melhor em Brasília no departamento de bom humor, inteligência e integridade, meio despretensiosamente, anunciaram a "convocação mista anárquica armorial etílica carnavalesca" para a estréia do Suvaco da Asa (assim mesmo, com "u"). Apesar da espontaneidade e do caráter algo improvisado da coisa, mais de 200 pessoas aderiram à brincadeira.
O Suvaco da Asa tem a ver com o endereço de Clarissa e do grupo de amigos que estão por trás da materialização da TCM: o bairro Sudoeste, que fica a oeste (portanto, no sovaco) da Asa Sul. Saindo do Quiosque da Codorna, os foliões desfilaram por diversas ruas das imediações, recebidos com aplauso e expressões de surpresa por dezenas de moradores de uma cidade na qual o Carnaval está longe de ser a vibrante festa realizada em tantas outras regiões brasileiras.
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Carros paravam o trânsito para buzinar o som de aprovação, numa verdadeira heresia (um dos orgulhos de Brasília é que aqui raramente se buzina). Transeuntes juntavam-se ao cortejo. E, da janela de um prédio residencial, apareceu cartaz rapidamente providenciado com pincel atômico e tosco pedaço de papel: “Valeu a idéia”, comemorava, com sorriso estampado na face, o anônimo brasiliense.
A cidade que poucos conhecem
Para a grande maioria dos brasileiros, Brasília é apenas a capital do poder federal e das muitas maracutaias que o rondam. O Suvaco é expressão de outro universo, a cidade viva e interessante que vai muito além da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes. Cidade, aliás, que, em momentos importantes da história brasileira, foi em massa às ruas, mobilizada por boas causas, como o fim da ditadura militar e o impeachment de Collor.
Na troça do Suvaco, porém, política não fazia parte do script. A ordem era apenas exercer o sagrado direito humano ao prazer, amplo, geral e irrestrito. Como anunciava a convocação, ali pintou "só gente boa", presenteada com músicas carnavalescas de alta qualidade, com destaque para antigas marchinhas, sambas de primeira e muito frevo. A Polícia Militar, atenciosa e polida, abriu as ruas para a troça, que transcorreu sem nenhum incidente.
O sucesso, muito acima da expectativa dos (des)organizadores, levava ontem mesmo os suvaqueiros a arquitetar as próximas incursões do bloco. Uma coisa é certa: em junho, a troça dará novamente o ar de sua graça, mas para fazer uma baita festa de São João. Outro plano é lançar, no Carnaval de 2007, o Suvaquinho da Asa, versão do bloco destinada às crianças. E, animem-se, foliões: o estandarte do bloco voltará a reluzir na festa dos 40 anos do Beirute, o mais tradicional bar da cidade, que comemorará a data fechando a rua entre a 109 e a 110 Sul, no próximo dia 16 de abril.
A grande imprensa não compareceu. O Congresso em Foco, é óbvio, esteve lá, não só para registrar o fato como, sobretudo, para, junto com a galera, berrar: "Olinda, quero cantar…"