Candidato a vereador em 2016 e, quem sabe, a senador em 2018. Esta é a perspectiva política do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ao deixar o Senado após 24 anos de mandato. A possibilidade de retornar à Casa onde foi premiado nas oito edições do Prêmio Congresso em Foco e apontado entre os mais influentes na relação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) anima o petista.
“As pessoas em todo o Brasil, especialmente em São Paulo, a cada dia, por onde ando, vêm me cumprimentar e dizer que gostariam que eu estivesse aqui mais uma vez. Vai depender muito de como eu estiver do ponto de vista da saúde e do meu relacionamento com os eleitores e o partido. Tudo pode acontecer”, diz o senador neste trecho da entrevista concedida ao Congresso em Foco. Enquanto o futuro não chega, Suplicy promete seguir cantando.”Vou continuar, até que alcancemos a realização de efetiva justiça, solidariedade e fraternidade e possa haver paz”, promete o senador após recitar em português a letra de sua canção favorita, Blowin’ in the wind, de Bob Dylan. Leia:
Leia também
Congresso em Foco – Quem é o senador Eduardo Suplicy?
Eduardo Suplicy – Um senador que gosta de procurar a verdade em todos os campos do conhecimento humano, em tudo o que ocorre na vida administrativa e política, que procura sempre dizer a verdade, que é a maneira de alcançar a justiça. Essa é a maneira de nós avançarmos na direção daquilo que muito prezo e quero, que é contribuir para que nosso país e o planeta Terra tenham muito maior grau de solidariedade e fraternidade. Para que possamos viver com muito maior respeito, uma redução significativa da criminalidade violenta, dos assaltos e roubos, para se acabar também com a guerra. Quantas estradas precisará o homem caminhar até que possa ser chamado de homem? Quantos mares precisará a gaivota branca navegar até que possa descansar na areia? Quantos anos precisarão as balas de canhão voarem até que sejam para sempre silenciadas? Quantos anos precisará uma montanha existir até que possa ser levada pelo mar? Quantos anos precisará um povo, como o brasileiro, resistir até alcançar a liberdade? Quantas vezes precisará o homem virar sua cabeça até que possa ver as coisas? Quantas vezes precisará um homem olhar para cima até que possa ver o céu? Quantos ouvidos precisará uma pessoa ter até que possa ouvir as pessoas chorarem? Quantas mortes precisarão haver até que se perceba que muitas pessoas já morreram? É por essa razão que então canto: a resposta, meu amigo, está sendo soprada ao vento. Canto para dar sentido àquilo que eu prego.
O senhor vai continuar soprando ao vento?
Vou continuar, até que alcancemos a realização de efetiva justiça, solidariedade e fraternidade e possa haver paz.
O senhor tinha uma imagem de senador combativo, que investigativa. Nos últimos anos, cantou várias vezes no Senado, desfilou com sunga de Super Homem. O seu eleitor entendeu isso? Ou o senhor acha que pode ter se prejudicado dessa maneira?
Todos entendem que a utilização de canções é para demonstrar os argumentos das causas que estou defendendo. O episódio relativo à roupa do Super Homem que ocorreu porque a Sabrina Sato, do Pânico, queria vesti-la na minha pessoa. Acabei, por gentileza, aceitando. Se eu pudesse refazer esse episódio, não teria feito aquilo. Na ocasião, ponderei ao diretor e produtor do Pânico que aquilo poderia me prejudicar. Aquilo não foi passado no programa, me respeitaram. Mas só de ter saído a fotografia na imprensa, me prejudicou. Mas não foi por causa disso que perdi as eleições.
Do que o senhor vai sentir mais saudade no Senado?
Quando se tem um debate no plenário de muito bom nível, de temas importantes, é interessante. No âmbito das comissões, das quais sempre fui titular, como a de Assuntos Econômicos, a CCJ e a de Relações Exteriores, tivemos debates memoráveis. Os debates com embaixadores designados para representações diplomáticas são sempre muito interessantes. As argüições que fizemos dos ministros da Fazenda, do Planejamento e do BC têm sido momentos altos, de extremo interesse e grande aprendizado pra mim. Com os senadores com formação e experiência significativa em outras áreas que não a de meu conhecimento principal – sou formado em administração de empresas com mestrado e doutoramento em economia –quantas vezes aprendi. Sempre aprendemos muito uns com os outros.
O senhor pensa em voltar ao Senado daqui a quatro anos?
Está tudo em aberto. Pode vir até a acontecer. Em reuniões do diretório do partido, alguns colegas me sugeriram ser candidato a vereador daqui a dois anos. Com respeito à eleição para a prefeitura de São Paulo, fui pré-candidato do partido em 2012. Mas como o Fernando Haddad disse que iria abraçar minha causa pela renda básica da cidadania, instituindo-a gradualmente, abri mão da minha candidatura e o apoiei. É natural que ele seja candidato à reeleição em 2016. Agora, em 2018, vamos ver. Espero estar em boa saúde para, quem sabe, tentar. Gosto muito do Senado Federal. Realizei aqui meu trabalho com todo entusiasmo e garra. As pessoas em todo o Brasil, especialmente em São Paulo, a cada dia, por onde ando, vêm me cumprimentar e dizer que gostariam que eu estivesse aqui mais uma vez. Vai depender muito de como eu estiver do ponto de vista da saúde e do meu relacionamento com os eleitores e o partido. Tudo pode acontecer.
O PT sempre teve a imagem associada às lutas sociais, mas nos últimos anos passou a ser associado a escândalos e a corrupção. Há hoje um sentimento antipetista em parte da classe média, segmento no qual o partido tinha maior força. Onde foi que o PT errou?
O importante é que venhamos corrigir e prevenir todos os erros que possam ter sido cometidos.
Que erros foram esses?
Tenho proposto, por exemplo, que todas as contribuições de qualquer natureza aos partidos e candidatos sejam devidamente registradas em tempo real na página eletronicamente de cada candidato e partido. Logicamente para que os eleitores saibam, de maneira transparente, a natureza de cada candidato e partido. E logicamente que haja o compromisso de não se utilizar caixa dois. O Partido dos Trabalhadores, pelo próprio depoimento do ex-tesoureiro Delúbio Soares na CPI dos Correios mencionou, usou recursos não contabilizados. A própria presidente Dilma Rousseff, entre o primeiro e o segundo turno, assinalou que dentre as medidas para combater a corrupção, queria que fosse considerado crime eleitoral a utilização de caixa dois. Medidas como essa são importantes. Sou favorável a que terminemos com contribuições de pessoas jurídicas. Mas, enquanto elas existirem, há de ter transparência em tempo real, para dar um exemplo do que seria um passo para corrigir erros. O Partido dos Trabalhadores, como todos nós, precisa tomar atitudes muito firmes que estejam de acordo com os ideais que nos nortearam desde a fundação, em defesa da ética, da transparência, da ética, da honestidade, em tudo que diz respeito à coisa pública.
O partido perdeu essas referências?
Episódios como os que estão sendo revelados pela Operação Lava Jato acabaram danificando a imagem do partido. É preciso tomar as medidas necessárias para corrigir, prevenir e responsabilizar aquelas pessoas que tenham cometido esses erros, com todo direito de defesa. Comprovada a ação incorreta, é preciso que haja a punição de acordo com o que está previsto na lei.
O senhor já foi convidado pela ex-senadora Marina Silva a ingressar na Rede Solidariedade, partido que ela está criando. Agora, sem mandato, o senhor se sente mais à vontade para deixar o PT?
Sou co-fundador do Partido dos Trabalhadores. Quando Marina Silva e outros amigos como Basileu Margarido Alves perguntaram se eu consideraria entrar na Rede Solidariedade, eu expressei que até contribuiria, como fiz, para assinar a solicitação de reconhecimento do partido, como diversos outros parlamentares de outros partidos amigos da Marina fizeram. Entretanto, eu transmiti a ela que continuava batalhando pelos mesmos ideiais e objetivos que me fizeram ser convidado por dirigentes sindicais e lideranças intelectuais que vieram a fundar o PT. Partido que, no seu estatuto, teve como um dos principais redatores o deputado Plínio de Arruda Sampaio, que foi um exemplo de homem público. Ali estava presente a defesa da transparência, da ética, da honestidade, a liberdade de expressão e associação, de imprensa, a liberdade de formação de partidos políticos. E a busca de maior justiça, igualdade, solidariedade e fraternidade em nosso país. Vou continuar na propugnação de política econômica que contribua para uma sociedade civilizada e justa.
Ainda há espaço para esses ideais no PT hoje?
Claro que tem e tem de ter. Instrumentos para ter melhor educação, a ampliação do Sistema Único de Saúde, de medidas que venham propiciar atendimento de saúde mais adequado. Em um país com tamanha desigualdade de renda e riqueza, realizar a reforma agrária ainda se faz muito necessário, assim como o estímulo à economia solidária e formas alternativas. Quero continuar a estudar e a lutar pelo aperfeiçoamento dos sistemas de transferência de renda que venham a garantir renda a todo brasileiro. Por isso, tanto batalho pela renda básica de cidadania até que se torne realidade. Continuarei sempre em diálogo com os movimentos sociais, de moradia, o MST e os movimentos pelos direitos humanos. Continuarei esta batalha. Podem contar comigo.
Leia ainda:
Tsunami atingiu o PT em São Paulo, diz Suplicy
Suplicy se arrepende de sunga e pensa em voltar ao Senado