Ainda faltam mais de três meses para a sucessão das presidências da Câmara e do Senado, mas o assunto já domina os bastidores da política em Brasília. Ontem (29), em mais um jantar de ocasião para costura e formalização de acordos, o PPS deu sinais de apoio ao deputado Michel Temer (SP), candidato do PMDB à vaga a ser deixada por Arlindo Chinaglia (PT-SP) em 2 de fevereiro de 2009.
O partido de oposição tem um bancada de 14 deputados. Temer já obteve o apoio do PSDB, que tem 59 parlamentares na Câmara. O PT diz que mantém seu acordo com o PMDB, apesar das resistências dos peemedebistas no Senado ao senador Tião Viana (PT-AC).
O jantar foi oferecido pelo deputado Moreira Mendes (PPS-RO) a vários colegas do seu partido e do PMDB. Contou também com a presença dos ministros peemedebistas Nelson Jobim (Defesa) e Reinhold Stephanes (Agricultura), além dos líderes do PMDB, Henrique Alves (RN), e do PPS, Fernando Coruja (SC).
Ao menos para o anfitrião, o partido deve oferecer apoio em bloco a Temer. Segundo Mendes, o jantar foi uma forma de, além do óbvio propósito do apoio e da aproximação com o peemedebista, “homenagear” a figura política de Temer.
“Percebi as habilidades para administrar os interesses da Casa. Além disso, o PMDB é maioria na Câmara, e, portanto, deve indicar seu presidente. E ninguém melhor que o Temer”, disse, justificando a ausência de alguns companheiros de legenda. “Receba isso [o jantar de apoio] como uma modesta contribuição à sua candidatura”, completou, dirigindo-se a Temer e lembrando que vai tentar “fazer a cabeça dos companheiros do PPS”.
Humildade
O deputado Humberto Souto (PPS-MG) fez uma sugestão com viés de aviso a Temer. Relembrando a gestão do então deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), o “representante do baixo-clero” na presidência da Câmara, ele aconselhou Temer a ter humildade durante a condução do processo sucessório, sob o risco de que outro “Severino” venha a surgir.
“A bancada do PPS é que vai decidir o apoio. É importante que o senhor tenha humildade, com a importância que sempre teve”, alertou Souto, olhando fixamente para Temer e com menção velada ao possível concorrente do peemedebista, Ciro Nogueira (PP-PI).
Em setembro de 2005, Severino derrotou o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP), e o concorrente avulso Virgílio Guimarães (PT-MG), graças a uma rebelião de parlamentares insatisfeitos com os rumos da gestão petista. Severino substituiu João Paulo Cunha (PT-SP).
“O partido ainda não decidiu sua posição. A bancada vai se reunir, porque é ela quem decide se vai ou não apoiar a candidatura de Temer”, lembrou Fernando Coruja, com elogios a Temer. “Temer valoriza bem o Legislativo. Mas não só o Legislativo, que é uma figura abstrata, mas também os próprios deputados, que têm sua importância.”
Partido vocacionado
Michel Temer rendeu homenagens à “figura notável” do seu “adversário”, em referência ao deputado Ciro Nogueira. Ele agradeceu o convite para o jantar e afirmou que o PPS é “um partido vocacionado para a consciência política do país”.
“Quero render todas as minhas homenagens a ele [Ciro]. Mas cada instante exige uma figura. Não exatamente eu, mas uma figura como eu”, discursou Temer, que diz querer marcar sua terceira passagem pela presidência com uma atuação conciliatória, e não contestatória.
“Temos de harmonizar as atividades dos três Poderes. Esse biênio [2009-2010] vai ser muito complicado para o país. Os rumos do Brasil vão depender dessa conexão entre os Poderes.”
O candidato oficial do PMDB disse que tem conversado com muitos parlamentares, “com todos os velhos amigos”, e que busca “apoios institucionais necessários”. “Não quero chegar ao terceiro mandato como um presidente burocrata. Esse esforço deve ser amparado pelas forças políticas da Casa.”
Esplanada
Ao Congresso em Foco, o ministro Reinhold Stephanes disse não acreditar em uma eventual interferência do Executivo no processo sucessório da Câmara. “No Senado, eu não sei”, ressalvou, lembrando que, se entre os deputados a força governista é maior, as Casas têm características muito distintas.
Já Jobim evitou falar sobre o braço do governo no Parlamento, e fez breve pronunciamento sobre o amigo e correligionário Michel Temer. “Tem gente que pega a instituição para fazer biografia. O Michel está oferecendo a sua biografia à instituição. Biografia ele já tem, e isso é uma grande vantagem”, elogiou.
Jobim e Temer disputaram o comando do PMDB nas últimas eleições à presidência do partido. O deputado venceu a eleição. (Fábio Góis)
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