Como mostrou o Congresso em Foco, o empresário Walterci de Melo disse em grampo captado pela Polícia Federal que a parceria tinha o aval de Marconi. O presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, disse ao site que o governo já informou ao tribunal não haver parceria para o heliporto, embora tenha admitido a possibilidade de o governador ter tratado do assunto com empresários amigos dele e de Cachoeira. Marconi, porém, não fala sobre o assunto.
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Pelo menos até a terça-feira passada, o ministro Humberto Martins não havia recebido nenhum esclarecimento oficial do governo de Goiás sobre todos esses assuntos. Ele aguarda respostas desde o início de outubro. O ministro expediu os pedidos de explicações feitos pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Os ofícios do tribunal revelam as linhas de investigação adotadas pelo Ministério Público Federal no inquérito. Mas elas não são as únicas. Gurgel quer compreender outros fatos levantados pela Operação Monte Carlo, obter mais quebras de sigilos e, por fim, tomar o depoimento de personagens como o próprio Cachoeira, o ex-senador Demóstenes Torres (GO) e o empresário Walter Paulo, que comprou de Marconi a casa onde o bicheiro morava ao ser preso, em fevereiro.
STJ quer esclarecer venda da casa do governador
No caso da construção de escolas, grampos telefônicos captados pela PF mostram Cachoeira dizendo ter influência na Secretaria de Educação de Goiás, dirigida à época pelo deputado federal Thiago Peixoto (PSD-GO). O bicheiro tinha interesse na reforma e na construção de estabelecimentos de ensino.
Em 26 de abril do ano passado, por exemplo, Cachoeira conversou com uma pessoa identificada como Júlio. O interlocutor disse ao bicheiro que o governador tinha de “ver seis ou oito colégios grandes” este ano: “Vê se encaixa lá esse outro aqui”. Cachoeira diz não haver problema porque Thiago, segundo ele, era seu aliado. “O Thiago Peixoto, rapaz, é nosso 100 por cento. Não precisa nem falar com o Marconi, não. O Wladimir vai falar com ele”, afirmou. De acordo com o áudio, o ex-vereador Wladimir Garcez, que despachava “diretamente” com Marconi segundo a PF, comprometia-se a falar com Thiago sobre o assunto. Mas, no resumo do diálogo, a PF afirma que Garcez iria falar com o próprio governador. Ouça:
Escolas pré-moldadas
Em 9 de junho, às 14h59, Cachoeira disse a seu operador Gleyb Ferreira da Cruz que obteve de Thiago Peixoto informações privilegiadas sobre um novo modelo de construção de escolas em Goiás, o que permitiria à Delta sair na frente e obter um contrato com o governo. As escolas, de modelo pré-moldado, seriam alugadas ao Estado. Ele pediu sigilo ao parceiro e o mandou procurar um importador de produtos chineses identificado apenas como Alex. “Não comenta com ninguém não, mas o Thiago já passou o modelo pra nós, tá? Vai alugar várias escolas no estado, entendeu? Vamos construir porque, na hora que sair, a coisa tá pronta. É só oferecer.” Gleyb considera a ideia excelente: “Perfeito, nossa! Ótima ideia”. Ouça:
Menos de cinco minutos depois, às 15h04, Gleyb ligou para Alex. Falou de maneira curta e direta: “Estou precisando de um favor que você olhe com urgência, com sigilo e com destreza: escola pré-moldada na China. Preço mais rápido possível e sigilo de banco suíço”. Alex riu do pedido de segredo ao estilo do sistema financeiro da Suíça, país conhecido internacionalmente por resguardar os dados de seus clientes, inclusive aqueles que são processados no Brasil por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Dinheiro para reforma
Em outra conversa interceptada pela Polícia Federal, Cachoeira tentou interceder na Secretaria de Educação em favor do prefeito de Nerópolis, Gil Tavares (PTB). Em 3 de junho, ele ligou para uma pessoa chamada “Fabinho”, perguntando se ele estava na secretaria com Thiago Peixoto. Cachoeira contou, então, que estava ao lado do prefeito Gil e de seu vice, Gaspar Batista (PMDB). Disse que precisava que Fábio e Thiago conseguissem que o governo federal liberasse o dinheiro da reforma de uma escola na cidade. “O problema é que iniciou a reforma e paralisou”, explicou.
Na avaliação do relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), o bicheiro não fazia um favor. “É o chefe da organização criminosa já vislumbrando a possibilidade das empresas Delta e outras integrantes do grupo criminoso serem as responsáveis pela referida reforma”, escreveu ele em seu relatório à comissão de inquérito.
Discussão não ocorreu
A assessoria do governo de Goiás afirmou que Marconi só se manifestará ao STJ. Informou ainda que a Secretaria de Educação, comandada pelo deputado Thiago Peixoto, já se pronunciou sobre o assunto. Em abril passado, ele negou, por meio de sua assessoria, ao G1 ter discutido a construção de escolas que usam modelos estrangeiros. Também descartou ter repassado informações sobre aluguel de estabelecimentos de ensino.
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