A Assessoria de Imprensa do Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou uma carta, assinada pelo jornalista Douglas de Felice, secretário de Comunicação da corte, admitindo erro na divulgação de um post, no último dia 29, com o seguinte título: “Como o recesso do Judiciário só termina em fevereiro, José Dirceu vai passar o ano novo atrás das grades”.
O material noticiava que o habeas-corpus impetrado pelo ex-ministro, preso condenado pelo mensalão e investigado pela Operação Lava Jato, só será analisado após o recesso do Judiciário.
Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) enviaram ao presidente do STJ, ministro Francisco Falcão, um pedido para que o texto fosse retirado do Twitter oficial do STJ.
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Desculpas
Os petistas pedem também que o STJ abra uma sindicância para apurar responsabilidades sobre a publicação e requerendo um pedido oficial de desculpas do tribunal.
Segundo os dois parlamentares, o ex-ministro da Casa Civil teve sua dignidade “aviltada”.
Publicidade“A divulgação revela, ainda, o já conhecido uso da prisão como espetáculo. Dessa forma, não basta o ex-ministro estar preso preventivamente – sob critérios com justeza questionados por sua defesa. Ele precisa ser exposto e ter a dignidade aviltada”, afirmaram os dois petistas.
Na carta, o jornalista admite que o profissional que editou o material errou no título: “O erro que ele cometeu foi tentar explicar numa linguagem comum e sucinta, própria de sua formação de rádio e TV, nos exíguos 140 caracteres que o Twitter permite, uma decisão tomada no plantão pelo Presidente deste Tribunal Superior. Economizou nas palavras e foi, no que alguns consideram, inclusive eu, infeliz na expressão, mas explícito na descrição e tradução da decisão judicial”, afirma Douglas.
Veja abaixo a íntegra da carta do jornalista Douglas de Felice
“Rio de Janeiro, 04 de janeiro de 2016
Senhor Editor-responsável do Portal Forum, de Maria “Frô”, abrigado no IG,
Um dos grandes aprendizados que tive na vida, e em minha carreira de 35 anos, é que há o bom e o mau jornalismo, dicotomia repetida em várias profissões.
O bom, o correto jornalismo praticado em nosso país, e no mundo, tem limites éticos estabelecidos por entidades representativas como ABI, FENAJ e Sindicatos, por práticas louváveis, como apuração rigorosa, espaço para o contraditório, imparcialidade e pelo pré-requisito fundamental da informação precisa.
O mau jornalismo vai na contramão destes princípios democráticos. A matéria “Currículo do Secretário de Comunicação do STJ pode explicar o twitter do STJ sobre José Dirceu” teve o cuidado de ferir todos os paradigmas básicos de nossa profissão. É inverídica, difamatória, carece de apuração, não procurou ouvir o tradicional “outro lado”, no caso a minha pessoa, e foi movida por puro preconceito. Ou achismo imperdoável!
A acusação que me é feita pela pessoa que assina a matéria, com teor fortemente opinativo, é que o twitter da conta oficial do STJ, no dia 29 de dezembro de 2015, teria tripudiado com um dos quadros do PT, demonstrando o que ela considera “parcialidade e partidarismo anti-petista”. E isso se deve ao fato de haver sido escrita, nesta rede social, a frase: “Como o recesso do Judiciário só termina em fevereiro, José Dirceu vai passar o Ano Novo atrás das grades”.
A única concordância que a matéria tem de minha parte é que a expressão utilizada na frase é imprópria à Comunicação institucional de um Tribunal. Efetivamente, o tweet foi concebido e redigido não por este jornalista que vos escreve, mas por um outro profissional altamente qualificado, imparcial e experiente, editor-chefe da área de conteúdo da Comunicação do STJ, que eu prefiro preservar o nome para não parecer que evito as responsabilidades do cargo.
O erro que ele cometeu foi tentar explicar numa linguagem comum e sucinta, própria de sua formação de rádio e TV, nos exíguos 140 caracteres que o Twitter permite, uma decisão tomada no plantão pelo Presidente deste Tribunal Superior. Economizou nas palavras e foi, no que alguns consideram, inclusive eu, infeliz na expressão, mas explícito na descrição e tradução da decisão judicial.
Devo esclarecer que, no período das festas de final de ano, entre o Natal de 2015 e o Ano Novo de 2016, eu estava em recesso, autorizado pelo Presidente da egrégia Corte, para um curto período de descanso com minha família fora de Brasília e, portanto, desconectado das atividades diárias da Comunicação do STJ.
Em meu lugar, respondia uma profissional experiente que, informada da reação ao texto considerado inadequado, determinou sua retirada. Apesar de estar fora 2 do trabalho, tomei, nas horas seguintes ao episódio, as providências que considerei adequadas para que tal erro não mais se repita.
A matéria do Forum tenta, equivocadamente, ou maldosamente, construir a tese de que este Secretário de Comunicação tem inspirações partidárias. Ou profanas… Já que menciona clientes ditos polêmicos para os quais efetivamente trabalhei em minha carreira. Vamos aos fatos, o verdadeiro amálgama do bom jornalismo.
Depois de exercer, por 20 anos, a profissão na iniciativa privada, como repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de jornalismo em diversos órgãos da chamada grande imprensa, desde o SBT, passando pela Manchete, Radiobrás, JB, CBN e TV Globo, entre diversos outros veículos, me dediquei à assessoria de imprensa.
Especializei-me em gerenciamento de imagem, o que implica, muitas vezes, trabalhar com personagens que enfrentam crises, como foi o caso de Renan Calheiros e José Maria Marin. Chefiei a comunicação do PSDB, na gestão de Sérgio Guerra, assessorei o governador Marconi Perillo e fui convidado por uma empresa de comunicação de grande porte para colaborar na crise que o atual governador do Paraná, Beto Richa, atravessa, embora não tenha chegado a atuar.
E prestei consultoria a outras instituições e personagens de diversas correntes ideológicas, inclusiva da base do atual Governo. Portanto, daí, simplesmente, classificar este profissional aqui de “antipetista” seria um óbvio exagero. E uma mentira! Afinal, se isso é verdade – e garanto que não é – porque teria eu trabalhado, também, no primeiro governo Dilma, do PT, com o então Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, hoje na Pasta da Defesa, durante a organização da Copa das Confederações e Copa do Mundo? Ou teria assessorado parlamentares petistas, por ocasião de denúncias de aluguel irregular de veículos em seus estados?
Ou seja, se fosse tucano ou anti-petista, tais autoridades jamais teriam me contratado. E, digo mais: não seria nada inteligente de minha parte. Sabe por que? Porque para um profissional que presta consultoria em crises, seria um gesto impensado eliminar um público, ou clientes, falando do ponto de vista de mercado. Seria como um locutor famoso de futebol declarar que torce para determinado time. Perderia legiões de admiradores no mesmo instante.
E pior: não teria mais credibilidade, bem tão valioso que está em jogo, na hora em que escrevo esta resposta. O texto ainda me faz diversas acusações, com base em recortes de jornais, à época dos meus trabalhos de assessoria a alguns destes personagens. Somente esqueceram, talvez por desconhecimento, ou má fé, de averiguar que tais textos jamais tiveram fundamento ou incorreram em qualquer processo, inquérito ou denúncia por parte do Ministério Público ou qualquer órgão policial contra a minha pessoa. E sabem por que? Por serem absolutamente inverídicas.
Enfim, talvez as pessoas comuns não tenham conhecimento, mas para ser nomeado em um Tribunal Superior, ou em qualquer órgão público, é preciso ter ficha limpa. Tive de me submeter a este crivo e apresentei nove certidões negativas que comprovam minha idoneidade.Portanto, Sra. Conceição Oliveira e Portal Forum, não me considero tendencioso, mas sim um defensor do amplo direito de defesa e da presunção da inocência, princípios da democracia e do meio jurídico que tanto prezo.
Reitero o meu profundo respeito a todos, repito todos, os jurisdicionados do STJ, independente de ideologia ou agremiação política, ao Poder Judiciário brasileiro e, principalmente, ao bom jornalismo, algo essencial para a construção de um país verdadeiramente democrático. Senti o gosto amargo dos que são acusados sem o direito à ampla defesa. Mas continuarei trabalhando para que todos tenham voz. E que seja a voz da cidadania, lema deste Tribunal para o qual trabalho e que tanto admiro.
Atenciosamente, Jornalista Douglas De Felice.